Simone TebetQuatro anos depois
A casa é uma construção no estilo americano, verde-acinzentada com detalhes em cor creme, cercada por árvores. A garagem de três carros acomoda o Tahoe de Soraya, uma picape, meu Nissan Pathfinder branco, quase impossível de manter limpo quando você mora depois de uma estrada de terra.
Há um gabinete com portas duplas perto da cozinha, que é enorme, e uma das paredes não passa de uma estante de livros que vai do chão ao teto. Frequentemente me encontram ali, enrolada em uma cadeira supermacia, meus pés sobre um pufe.
Há duas varandas, uma na frente e outra atrás. A de trás tem uma tela de proteção, e Soraya e eu passamos boa parte do tempo ali, sem nos preocuparmos com os insetos, principalmente os
mosquitos. Nilo tem o quintal à disposição e, quando não está caçando coelhos, ele se satisfaz em cochilar aos nossos pés.Nossa casa de quatro quartos tem todos os confortos modernos que se pode imaginar. Contudo, não temos lareiras. Nem uma grelha. Nesta noite, a casa está cheia. Todo mundo compareceu para celebrar meu aniversário. Todos são bem-vindos aqui a qualquer hora do dia ou da noite.
Na cozinha, minha sogra e minha irmã estão sentadas trocando receitas e bebericando vinho.
Ninguém vai me deixar cozinhar no dia do meu aniversário; por isso, Antônio vai trazer o jantar da
cidade. Ele está prestes a chegar; assim, não há muito que fazer, a não ser relaxar.O irmão de Soraya, está na varanda da frente com Catarina e Matias. Apanho duas cervejas na geladeira e me dirijo até a sala de estar. Soraya está se espreguiçando no sofá, assistindo a um programa de TV. Eu me inclino e lhe dou um beijo; depois abro a cerveja e coloco em uma mesa perto dela
— Como está a aniversariante?
Ela fala baixinho porque nossa filha está dormindo sobre o seu peito, com o polegar na boca. Nós duas sabemos que, se Alice Thronicke Tebet acordar antes de ter dormido o suficiente, vai ser o inferno na terra.
— Posso colocar ela no berço — sussurro.
Ela nega com a cabeça.
— Está bem assim.
Aquela menininha faz o que quiser da mãe.
Passo a segunda cerveja para Vanda. Ela está sentada na cadeira ao lado do sofá, parecendo
notavelmente confortável com João Thronicke Tebet dormindo no seu colo. É de surpreender, porque, quando Vanda foi ao hospital, depois que tivemos os gêmeos, ela me contou que nunca tinha segurado um bebê antes.Nós não tentamos ter um bebê imediatamente. Eu estava decidida a não apressar as coisas. E se no final ficasse claro que tínhamos esperado tempo demais, Soraya iria gerar as crianças.
A concepção só deu certo na segunda tentativa, gosto de pensar que nada acontece por acaso, e acredito que os gêmeos tenham chegado exatamente quando estávamos prontas.
— Ter dois ao mesmo tempo vai ser muito difícil — todo mundo tinha dito, mas Soraya e eu
sabíamos o que era difícil e sermos abençoadas com dois bebês saudáveis estava longe disso.Mas não estou dizendo que seja fácil, também. Temos os nossos dias. Os gêmeos já têm quase onze meses, e o dito popular é verdadeiro: o tempo realmente voa quando se tem filhos. Parece que foi ontem que eu estava andando desajeitada com a mão espalmada no meu ventre, imaginando quanto tempo eu ainda passaria carregando os bebês. E agora aqui estão eles, engatinhando para todo lado, prestes a darem os primeiros passos.
Deixo Soraya e Vanda e volto para a cozinha. Rodrigo se junta a Carmélia e Cristal e me dá um beijo no rosto.
— Feliz aniversário — diz ele, me entregando um buquê de flores.
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Simoraya - Na Ilha
FanficSimone Tebet é uma professora de inglês de 35 anos desesperada por aventura. Cansada do inverno rigoroso de Chicago e de seu relacionamento que não evolui, ela agarra a oportunidade de passar o verão em uma ilha tropical dando aulas particulares par...