Capítulo 5 - Estou surpresa!

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Castiel

Estou submerso na dor e cansaço que a Lupercália causou. Drogas, sexo, corridas e danças derrubam qualquer um. Os poderes de cura dos elfos são mais efetivos do que eu seria capaz de imaginar, mas mesmo que eu queira ajuda, Aslan os proibiu de me servir com magia eldoariana. E, além do meu corpo, minha mente continua perdida. Apenas relances da noite passada despontam em meus pensamentos, enevoados demais para fazerem sentido.

O tempo aqui passa devagar, quase como se não se importasse com mais nada além do seu próprio descanso. Seria quase reconfortante, se a saudade do meu lar não começasse a sufocar em questão de minutos. Chimeria está em todos os lugares; cada detalhe do castelo dos eldorianos me lembra do que deixei para trás. 

Tomo uma decisão silenciosa e saio em busca da sala de música. Quando me sentar diante do piano e fechar os olhos, poderei imaginar que estou no meu reino, rodeado de amigos e rostos familiares. 

Eu amo música. Vivo pela sensação de dedilhar as cordas da minha guitarra, saboreio cada nota como se fosse a última e cada canção como se fosse a primeira que escuto. As melodias são o remédio perfeito para calar meus pensamentos, mesmo que às vezes pareçam traduzi-los ao invés de silenciá-los. 

Um piano da cor do mais puro ébano repousa no canto do cômodo, aparentando tão abandonado que me sinto ofendido. Caminho até o instrumento, acomodando-me na pequena banqueta. 

Meus dedos começam a se mover como se tivessem vida própria. Eu dedilho as teclas sem me concentrar verdadeiramente, apenas brincando com os sons. A sensação é boa mesmo assim.

Não sei qual conhecimento os elfos possuem em relação aos poderes das fadas, mas acredito que seja mínimo. A família real de Chimeria possui domínio total sobre todos os poderes, enquanto a plebe consegue controlar apenas um. O dom que mais se comprova útil aqui no castelo é a leitura de auras.

A leitura de auras funciona como um sexto sentido, que pode ser desligado ou ativado quando necessário. No caso de atividade suspeita, ela se manifesta sozinha, como mecanismo de proteção. Fadas podem ser presas fáceis diante da sua fragilidade, principalmente com as asas guardadas.

Eu não estava usando a leitura de auras quando conheci as selecionadas. E, ainda assim, sei que a energia singular que se infiltra para dentro do ambiente pertence à Agatha Leblanc. As nuances são adocicadas e desconfiadas, intercaladas por curiosidade e encantamento. 

Estou sendo observado. Quanto tempo vai demorar para que ela se entregue? 

Continuo a tocar, sem expressar qualquer mudança na expressão. Pouco a pouco, começo a tocar minha melodia favorita, uma canção do povo das fadas. As notas são instigantes, hipnotizantes e inevitavelmente atraentes.

Ergo o canto dos lábios quando Agatha comete o seu primeiro deslize e um ruído irrompe o ar. Minha cabeça continua baixa e meus olhos continuam fixos no piano, até que ela empurra a porta com tudo e surge na entrada da sala. 

— Estou surpresa! — Ela exclama, parecendo confusa e irritada. — O senhor tem bom gosto para música!

Ergo o olhar. Minhas sobrancelhas se levantam como se a desafiassem a dizer algo, e nesse momento a Leblanc desvia o olhar, envergonhada.

— E por que isso te deixaria surpresa? – Me recosto na parede atrás da banqueta. — Fadas são conhecidas pelo seu dom musical. 

— Porque o senhor não tem bons modos. — A elfa sussurra com firmeza, dando um passo hesitante para dentro da sala. — Isso ficou evidente no último evento. Lamentável, Alteza. 

Cruzo os braços, observando a silhueta de Agatha com o olhar atento. As maçãs do rosto vermelhas vibram em contraste com a pele branca como leite. Ela parece decidida a me desafiar, embora cada movimento entregue o quão nervosa fica em minha presença. Agatha usa um vestido tão curto que quase posso enxergar sua calcinha. As coxas longas e desnudas reivindicam minha atenção, estendendo-se por uma infinidade. Sinto minhas mãos formigarem para sentir a maciez de sua pele. Ao invés disso, massageio o hematoma no pescoço em evidente provocação.

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