Capítulo 7 - Vai fugir da verdade?

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Castiel

Frutas de todas as nuances transbordam de vasilhas requintadas na cor de terracota, cercadas de pães dos mais diversos tamanhos e recheios de geleia e mel. Jarras de suco e cidra, pesto, manteigas e bolos também estão dispostos sobre a mesa do café da manhã. A imagem é tentadora à primeira vista, mas eu sei que serei tomado pela decepção assim que experimentar a comida.

Há algo nesse lugar, nesse reino, que parece implorar por cor e sabor. Cada detalhe, cada canto, carrega uma falta de vivacidade que me deixa inquieto. É como se eu fosse um convidado vagando entre réplicas do mundo real, uma imitação pálida do que deveria ser. Do que meu mundo é: Chimeria. Pego uma cereja pelo cabo, observando-a balançar suavemente diante do meu rosto, como se esperasse algo mais, algo que sei que não encontrarei aqui.

— Está pensando o mesmo que eu. — Murmura Horus, inclinando-se para perto. Seu olhar afiado percorre o ambiente, capturando cada movimento com uma precisão quase intimidadora.

O vislumbre de um sorriso estica meus lábios ao me espreguiçar na cadeira, olhando para ele. Horus é meu primo, de segundo ou terceiro grau; não sei dizer. Seu pai é primo de Elora, e embora os detalhes sejam confusos, aparentemente eram bons amigos antes que Aslan surgisse em sua vida. Isso não é uma surpresa. Aslan é como um buraco negro, sugando a energia de tudo que atravessa seu caminho.

Me sinto aliviado que meus pais não gostem de tomar café da manhã na mesa e prefiram comer no quarto, com Cardan. Infelizmente, hoje o jornal acontecerá e terei que ver meu pai, querendo ou não.

— Estou? — Levanto uma sobrancelha.

— Esqueci que pensar não é o seu forte. Se estivéssemos em Chimeria, esses morangos já teriam nos deixado chapados. — Horus comenta, com aquele seu tom casual. Ele pega a cereja silvestre da minha mão e a engole sem cerimônia, como se seu comentário fosse um detalhe insignificante.

— Não sei dizer se você gosta disso ou não.

— Nem eu. Ainda vou descobrir.

Meu primo parece entediado, e sua postura desleixada não esclarece a intenção de suas palavras. Ele estica um braço para apoiar no encosto da cadeira vazia ao seu lado. Algumas selecionadas já estão presentes, e eu aceno com uma piscadela para duas delas, Hera e Yavanna. A família real dos elfos não nos acompanha em nenhuma refeição, e já estou cogitando a possibilidade de serem apenas frutos da minha imaginação. Capto o olhar de Aimee pairando sobre mim e a ignoro, com a discussão de ontem ainda se repetindo no fundo da minha mente. Como se lesse meus pensamentos, Adrian, do meu outro lado, se pronuncia.

— Ela me assusta um pouco. — Meu irmão está lambendo os dedos sujos do sumo rosado das frutas. Já comeu tanto que não sei como ainda cabe algo ali, mas ele abre espaço de alguma forma. Aparentemente, o único que acha a comida de Eldoris pálida e sem gosto sou eu.

— Ela quem? — Me finjo de desentendido, olhando com desaprovação para o sumo que escorre pelo seu queixo.

— Você sabe muito bem quem, panaca.

Uma risadinha me escapa diante do insulto infantil, e Horus também ri. Observo a forma com que seu sorriso ocupa o rosto inteiro. Ele é bonito, mesmo que não se pareça em nada comigo e meus irmãos. A pele marrom e musculosa reluz com um viço de saúde que eu não tenho, e o seu maxilar marcado o faz parecer mais velho. As elfas parecem intimidadas em sua presença, evitando manter o olhar sobre ele por muito tempo. Horus sempre foi famoso dentre as fêmeas, embora não pareça exatamente consciente disso. Ele não se importa tanto com a atenção dos outros quanto com a que oferta a si mesmo. Pode perceber, mas não o bastante para se incomodar ou se vangloriar.

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