Capítulo 9 - Ninguém, nunca

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Castiel

— Você está melhor?

Evelynn se aproxima da maca estreita da enfermaria, devagar. Ela pega a minha mão entre as suas, formando uma espécie de casulo. Seus gestos são fluidos, como se carregassem mágica mesmo nas banalidades. Mesmo sem desejar, me flagro assistindo-a com fascínio.

Ela afasta o cabelo que cai na minha testa com a mão livre, plenamente consciente de que me incomoda. Quando não estou completamente fodido e consigo me mexer sem gemer de dor, estou sempre tirando-o dos olhos. Minha mãe ostenta um sorriso suave no rosto, até mesmo despreocupado à primeira vista. Age como se estivesse me visitando para comentar sobre o tempo relativamente ameno; como se fosse um dia qualquer.

Eu adiei a sua visita o quanto pude. Não queria ver aqueles olhos azuis transbordando preocupação. Não queria escutar o que ela tinha a dizer com aquele tom condescendente. E muito menos receber a confirmação óbvia de que ela perdoaria Aslan. Um suspiro impaciente deixa meus lábios.

— Ah, mãe, pareço melhor?

Um lampejo de algo parecido com mágoa perpassa suas íris, mas sua voz não vacila.

— Suas visitas constantes não cansaram você?

— Sim, cansaram. — Digo, curto e seco. Quando os segundos se estendem, engulo em seco. Ela está aguardando que eu reafirme o que está implícito em todas as nossas conversas. — Mas foram necessárias. Elas têm que gostar de mim. Confiar em mim.

Evelynn desce seus dedos compridos até o meu queixo. Ela vira o meu rosto em sua direção, um pedido implícito de que a olhe diretamente nos olhos. Eu tento não suavizar a expressão, relembrar a mim mesmo a incógnita que ela representa na minha vida. Não posso ceder, não devo ceder.

Sua mão morna ainda está entrelaçada na minha, delicadamente posicionada para não me machucar mais.

Seu amor me confunde. Seu amor não me protege. Seu amor me exige demais.

— Vai direto ao assunto, mãe. Você acha que não sei porque você veio? — Resmungo, voltando a atenção para um amassado quase imperceptível na superfície do lençol claro.

— Eu vou conversar com Adrian quando terminar aqui com você. Devo muitas coisas a ele e a Cardan, e preciso começar por algum lugar. — Eu a encaro, a expressão indiferente. Ela acha que citar meus irmãos irá amolecer meu coração, mas eu o deixei congelando a noite inteira. Evelynn, por fim, volta a se pronunciar. —  Castiel, diga-me, o que você quer fazer?

Demoro para entender o que está sendo oferecido nas entrelinhas. Nunca fui um exemplo de raciocínio rápido, e quando se trata da minha mãe, nenhuma cautela é suficiente. Fico debatendo comigo mesmo se entendi a indagação corretamente: Evelynn está me dando a escolha que não havia sido oferecida no início de tudo isso? Pisco um bocado de vezes, sem energia para responder. Deve ser um teste. Com toda a certeza é um teste. O silêncio que se segue é tudo, menos sereno. É um silêncio barulhento, atordoante, zumbindo com meus questionamentos. Ela está arrependida do custo da nossa decisão? Está blefando? Está disposta a buscar alternativas que não me envolvam?

— Se você quiser que seja feito de outra forma, a escolha é sua para fazer. — Evelynn finaliza e aguarda pacientemente: uma rainha que dispõe de todo o tempo do mundo. — Não vou te forçar a nada, meu filho…

A observo com cautela, esforçando-me para acompanhar suas palavras. Me imagino entrando dentro da sua mente e revirando-a pedacinho por pedacinho à procura de algum sentido. Por mais que deseje, minhas buscas nunca obtém resultado. Evelynn é o meu mistério intransponível, o crime perfeito que não deixa pista alguma.

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