Capítulo 4 - Cala a boca e aprecia

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Castiel

— Por acaso essa Aimee Longlark é uma fada infiltrada? — A voz de Adrian ressoa, sarcástica como sempre.

Ele está esparramado no colchão e o cabelo castanho desgrenhado cai à frente da testa. Seus olhos me encaram com descrença, como se achasse inaceitável que eu ainda não esteja pronto. Já consigo escutar a música de abertura dos ritos da Lupercália, infiltrando-se pelas frestas das janelas. O conjunto caótico de sons dá a entender que os convidados começaram a se aglomerar no jardim.

— Nossa, por que você pensaria isso? — Sorrio e visto minha túnica preta. Aimee foi a elfa que levantou as sobrancelhas para mim na recepção. — Ela é... — Não consigo mentir, mesmo usando ironia evidente, por isso minha língua trava e eu preciso reformular a frase. — Não achou que ela é o retrato dos bons costumes eldorianos?

— Ela sugeriu um ménage entre nós três. — Meu irmão levanta uma das sobrancelhas e seus olhos castanhos brilham com diversão. Ele gesticula com as mãos, acentuando sua indignação. — Eu nem sabia que elfas conheciam essa palavra.

— Ela o que? — Engasgo, visivelmente chocado. Provavelmente essa é uma das imagens mais nojentas que eu tive a infelicidade de imaginar.

— É, Tinker Bell... — O apelido já é automático em seus lábios. — Nem se preocupou em parecer discreta. Não é porque eles curtem essas paradas incestuosas que a gente tem que curtir também. — Adrian aponta um dedo em minha direção. — Fica longe de mim.

Uma risada escapa dos meus lábios e eu balanço a cabeça. Aimee é de fato peculiar. No breve contato que tivemos, percebi que ela confunde atitude com grosseria; mas ela deixou claro que está aqui com o único objetivo de se esconder do mundo real. Entretanto, se divertir um pouco comigo pode entrar no pacote.

Palavras dela. Sinto pena, porque sua fantasia tem um prazo de validade curtp, e não vai afastar todos os horrores além dos muros do castelo.

— Na entrevista, ela sentou, tirou os saltos e apoiou os pés na mesa. Maior folga. Depois começou a mastigar os biscoitos com um ar... sensual? — Checo a minha aparência no espelho pela última vez. — Vamos.

— É, maninho... — Adrian se levanta com um pulo e passa o braço sobre meus ombros. — Deu sorte com essas garotas? — Ele fala em tom de pergunta para contornar a mentira. — A primeira já chega dizendo que você fode mal. A outra te morde e quase arranca pedaço. E por último, vem a cereja do bolo: a proposta do sexo em família. Me relembre por que aceitou participar disso mesmo?

Uma súbita tensão percorre meus músculos. Não é uma pergunta real, mas é um lembrete do que estou escondendo do meu irmão e melhor amigo. Guardar segredos nunca foi meu forte, eu sempre preferi desvendá-los. E agora, preciso guardar um segredo capaz de mudar tudo. Engulo em seco e mantenho o foco no assunto das selecionadas.

— Thalassa é louca, estava tentando flertar. — Comento, não porque alguém tenha confirmado, mas porque eu simplesmente sei. — Pode esperar, ela vai voltar em breve.

A elfa tem uma língua demasiado rápida e afiada. Me recordo dela se aproximar com a acusação ridícula nos lábios. "Você parece foder muito mal." Tão inocente, tentando vender uma imagem de experiência enquanto seus olhos entregam a verdade.

— E qual das gêmeas te mordeu mesmo? — Adrian esfrega a marca vermelha do meu pescoço e eu afasto sua mão com um tapa.

A lembrança de Agatha Leblanc surge em minha mente, clara como nunca. Mesmo depois de horas, as lembranças continuam a me despertar o mesmo prazer malicioso. Agatha me divertiu com suas bochechas vermelhas e timidez, mas nos poucos minutos que compartilhamos também desfrutei da imagem perfeita do seu corpo. O vestido rosado moldava suas curvas e passava a perigosa impressão de que a elfa estava nua. Ela odiou isso, tenho certeza.

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