Sangue Azul

Capítulo 12 - Não me diga que isso é um adeus

Agatha

O grito que escapa da minha garganta se espalha no ar, fragmentando-se em ecos. Galhos pontiagudos brincam com meu peso e arranham minha pele antes de me deixar despencar novamente. A dor aguda das folhas rasgando meu rosto e minhas pernas é tão breve quanto feroz.

Estou com medo.

Vejo o solo abaixo de mim aproximar-se cada vez mais. Mais. E mais. Fecho os olhos. Espero. Mas algo — ou melhor, alguém — acontece. O som de asas cortando o ar preenche o vazio, e eu abro os olhos quando a minha queda perde velocidade abruptamente. Avisto um vislumbre de asas, asas que se revelam grandes, majestosas e ondulam como seda delicada. A rainha de Elfhame me resgata em seus braços como quem maneja o poder sem esforço, aterrissando graciosamente.

Olhos frios e penetrantes como o reflexo cerúleo do inverno fixam-se em mim. Evellynn me encara com a sagacidade de uma predadora. Seus dedos afastam os fios de cabelo do meu rosto. O gesto é ao mesmo tempo maternal e distante, materializando-se em algo que eu não compreendo.

— O que aconteceu com você, criança? — A voz de Evellynn é serena, mas carregada de uma autoridade que me faz estremecer.

Existe algo de sedutor em sua presença. Quero sentar-me e contar a ela todos os meus segredos, mesmo que a rainha não esteja mais prestando atenção em mim.

Evellynn observa com interesse a aproximação de alguém, juntando as mãos na frente do corpo.

— Eu disse para ele não te machucar! — Adeline ruge, surgindo em meu campo de visão.

Minha irmã ignora completamente a presença da rainha, o que parece um erro colossal. Sua mão toca meu rosto com uma delicadeza quase hesitante, mas seus olhos ardem com uma fúria visceral.

— Maldito macho...

O jardim se transforma em um cenário de caos. Sombras surgem entre as árvores, passos apressados e sussurros se misturam ao som do vento. Estou perdida, buscando por sentido em meio à confusão. Um segundo atrás, eu estava beijando Castiel. E agora... Algo quente e pegajoso escorre pela minha bochecha.  Levo a mão ao local, que retorna manchada de vermelho. Sangue! O meu sangue…

— O que aconteceu com ela? — Thalassa pergunta enquanto avança pelo grupo de pessoas, afastando-as sem hesitação.

Uma figura alta e musculosa a segue de perto, mas mal consigo registrar sua presença. A voz de Adeline rasga o ar como uma lâmina.

— Você não sabe? — Ela rebate, desafiadora. — Foi o príncipe Castiel. Fruta podre não cai longe da árvore, não é, Horus?

— Não abra a boca para falar de Castiel. — Horus rebate, sem sequer hesitar. – Ele não é desse tipo.

Entreabro os lábios ao ver Adrian aproximar-se, mas seus olhos não estão procurando por mim. Noto que ele está de mãos dadas com uma fada de cabelos escuros. Será a fêmea da noite no jardim? Ela é bonita, altiva e examina a cena meticulosamente, registrando tudo ao redor. Evellynn, ostentando o esboço de um sorriso, aproxima-se do filho. Ela segura o ombro de Adrian e lhe dá um leve aperto, sussurrando algo ao seu ouvido. Logo depois, desaparece entre as pessoas com um farfalhar de tecidos.

— Alguém viu o que aconteceu? — Thalassa questiona novamente, mas desta vez sua voz está mais baixa, hesitante.

Silêncio absoluto. De onde estou, vejo todas as cabeças do recinto virarem em uma só direção. Ouço o som de passos que, para minha surpresa, já decorei. Eu não preciso virar a cabeça junto com eles para entender: Castiel está aqui.

Sinto como se estivesse observando a cena de longe, distanciada por uma parede invisível. Vejo Adeline e Thalassa trocarem olhares. Reconheço esse tipo de olhar: é o olhar que eu e Adeline compartilhamos para nos comunicar. Elas se encaram por um segundo, chegando a uma espécie de entendimento. Permanecem imóveis, como se estivessem esperando por alguma coisa. De repente, Thalassa avança na direção da minha irmã, não com agressividade, mas com uma determinação inegável. Por um momento, não compreendo o porquê desse súbito “ataque”, até que Adeline, descontrolada, começa a se contorcer e tentar bater em Castiel.