Capítulo 8 - Agatha Leblanc não sentiria ciúmes

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Agatha

As lembranças do jornal são um turbilhão incessante que não me dá descanso. Cada palavra, cada olhar, parece ter se enraizado profundamente nas terras instáveis do meu coração. Ainda vejo o rosto de Castiel, aquele meio sorriso arrogante zombando da minha existência. A maneira como ele me encara, desafiador e superior, acende sentimentos onde não deveria haver luz . As câmeras capturaram tudo! E as pessoas... posso sentir seus olhares cravados em mim, me julgando. É como se gritassem em silêncio: Ela é uma tola. Completamente ridícula.

Os três dias seguintes são um borrão. Não fico deitada o tempo todo, mas permaneço no quarto. Escuto músicas sem parar, tentando sufocar o caos dos meus pensamentos. É então que Adeline surge, batendo à porta e interrompendo meu isolamento. Ela entra sem cerimônias, como sempre faz, trazendo consigo um eco que quebra o silêncio do quarto. Antes que eu possa reagir, ela puxa a minha coberta violentamente. 

— O que você está fazendo? — ela pergunta, os olhos varrendo o ambiente com uma expressão de leve desdém. 

Eu abro a boca para responder, mas ela não espera.

— Você precisa voltar a aparecer — declara com aquele tom impaciente, como se estivesse farta de dizer o óbvio.

— Ah, é? — sussurro com os olhos fechados, me sentando na cama e tentando ajeitar  o cabelo com as mãos trêmulas. — E por quê, exatamente?

Adeline cruza os braços, inabalável. Ela é pura determinação e cuidado, minha irmã.  

— Quanto mais as pessoas verem você agindo normalmente, mais rápido vão esquecer o que aconteceu — ela dispara, convicta. Não há vestígio de dúvida.

Nos encaramos em um silêncio pesado, minha irritação crescendo e inflando. Adeline é muito intrometida! 

Mas… lá no fundo, talvez... só talvez, ela tenha razão. Continuar me escondendo só dá mais força às fofocas e línguas maldosas. 

— Não sei se posso. Estou envergonhada...

Ela me corta antes que eu possa continuar. 

— Não sabe se pode? Você pode! — Ela suspira, suavizando a voz quase imperceptivelmente. — Irmã, já passamos por coisas muito piores. Você sabe disso. A vergonha está aí, mas não pode deixá-la dominar você. — Adeline se aproxima, sentando-se ao meu lado. — Eu também me esconderia, se pudesse. Mas se fizermos isso, eles vão saber que somos fracas. E não podemos nos permitir essa fraqueza, não com tantos olhos nos observando. — Ela pausa, balançando a cabeça levemente. — Eles são o inimigo, Agatha.

E, simples assim, ela se levanta e sai do quarto, tão subitamente quanto entrou. O pior de tudo é que, embora eu odeie admitir... minha irmã está certa.

Decido seguir o conselho de Adeline, mesmo que ainda haja resistência em mim. Caminho até a janela, sem saber ao certo o que estou tentando provar para mim mesma. O sol está nascendo, pintando o céu com um toque suave de luz. Por um breve instante, sinto algo parecido com serenidade.

Após um banho demorado e me vestir com cuidado, saio do quarto. Os sussurros surgem quase imediatamente. Risadas abafadas, olhares furtivos, comentários mal disfarçados. Faço um esforço consciente para ignorá-los, mas algumas palavras inevitavelmente me atingem, afundando-se como farpas sob a pele fina dos meus dedos.

Cada passo parece mais pesado. Um teste de resistência, uma prova de fogo. Mas continuo.

Um grupo de criadas confabula mais adiante, e sou incapaz de ignorá-las. Estão falando de Castiel. Dizem que ele está na enfermaria, machucado, e, para minha surpresa, dão a entender que o incidente tem a ver com o que aconteceu no jornal. 

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