Capítulo 2 - Perigosa? Eu?

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Agatha

A tensão do momento me atinge em cheio. Nada disso parece certo, dos meus seios demasiado à mostra aos saltos apertados. Não consigo entender o motivo para tamanha imposição. Por que preciso abrir mão das minhas vestimentas? Estou na minha terra e preciso me moldar aos gostos das fadas? Estou indignada.

Em silêncio, ouço-as se pronunciarem. Não sei o que me assusta mais, a nudez excessiva da rainha de Chimeria ou a falsidade explícita em seus discursos. Céus, isso é melhor do que estar em casa com meu pai? Não importa. Sei que é o melhor para Adeline, e por ela faria tudo. Afinal, minha gêmea quebrou a si mesma por mim. Um arrepio passa por todo meu corpo e eu fecho os olhos, afastando as lembranças ruins.

Não ouso olhar na direção do príncipe das fadas até que seja inevitável, e para meu desprazer, ele é bonito. Tem cabelos negros resplandecentes como as penas de um corvo e lábios rosados que atraem minha atenção. Os machos de Eldoris não costumam ter a pele corada assim.

ELE É REALMENTE BONITO! E eu odeio isso. Não confio em fadas. Elas são criaturas intempestivas, causadoras do caos. E isso, combinado ao poder de um príncipe, é perigoso.

Olho em volta e percebo que as demais elfas nos encaram com curiosidade. Participar da seleção ao lado de uma gêmea idêntica não é algo simples de ser assimilado. Ao olhar para Adeline, tenho quase certeza de que ela está pensando o mesmo que eu. Somos ao todo trinta e cinco; trinta e cinco irmãs de terra à disposição do herdeiro de Prythian, e eu abomino isso com todas as minhas forças.

O nome da primeira selecionada ecoa dos lábios do herdeiro: Thalassa Locket. A fêmea de pele negra e tranças platinadas rapidamente semicerra os olhos e o segue para dentro do cômodo. Há! Aposto que ela está detestando isso tanto quanto eu. Posso quase enxergar as faíscas a cada passo que Thalassa dá na direção da porta. Os minutos se passam, mas para minha surpresa, a mesma elfa ressurge pouco tempo depois no corredor, exibindo os olhos avermelhados e uma expressão de fúria. Ela praticamente avança para fora dali, sem emitir uma única palavra. Eu sei que aquilo não é um bom sinal. O que poderia fazê-la chorar? Raiva e frustração? Tristeza e medo?

Outras elfas são chamadas, uma a uma, e eu as observo entrando e saindo. Todas com expressões que variam entre a ansiedade e a aflição, sempre voltando com os olhos injetados de raiva ou as bochechas vermelhas de adoração. Não existe um meio-termo.

Restam poucas selecionadas quando chega a vez de Aimee Longlark. Ela abre um sorriso ladino e praticamente desfila na direção da porta. Troco alguns olhares com Adeline, que parece pensar o mesmo que eu: se a situação fosse um pouco mais leve, estaríamos rindo agora, mas estamos muito nervosas para isso. Quando a garota finalmente sai da sala, o misterioso sorriso permanece em seus olhos. Eu a encaro, confusa, e ela, por sua vez, ergue uma sobrancelha, me avaliando de cima a baixo ao passar por mim. Nem tenho como processar o que está acontecendo aqui, pois meu nome é chamado logo em seguida.

"Agatha Leblanc."

Adeline toca meu ombro, oferecendo apoio. Demoro para me mover, mas por fim ando o mais devagar possível na direção da sala. Adio o quanto posso, mas enfim chego ao meu destino.

O local é de grande beleza. Digo a mim mesma que minhas mãos estão gélidas pelo frescor do clima, e não pelo fato de estar sozinha com um macho da espécie mais profana que existe. Não qualquer macho, mas seu príncipe!

Olho ao redor, notando tudo menos Castiel. Meu coração está acelerado, e eu aperto as mãos atrás do corpo. É difícil lidar com meu dom em sua forma mais pura e livre. Quando chegamos ao castelo, removeram as pulseiras que restringiam e controlavam nossos poderes. Os chimerianos exigiram essa concessão, assim como uma lista de outras regalias.

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