Dia 3 - Barata

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Dormir com os tampões nos ouvidos e a touca de cetim mudou completamente a experiência de Sunoo em seu novo lar temporário, tanto que, quando acordou, sentiu que estava no céu. Tinha dormido a noite inteira sem ouvir um ronco sequer e estava se sentindo renovado. Assim, foi tomar um banho, escolheu uma roupa bonitinha e fez sua maquiagem. O "galo" em sua cabeça já tinha sumido também, por isso, quando se aproximou da cozinha, ele estava saltitante. Wonhee já estava lá, comendo uma omelete que Jay tinha preparado. Ele, por sua vez, estava diante do fogão, usando um avental para não sujar suas roupas. Assim que Sunoo cumprimentou os dois e se sentou ao lado da mais nova, Jay colocou uma omelete em seu prato também. Pelo visto, naquele mês, comeria omelete todos os dias de manhã.

— Você parece mais animada hoje. Dormiu bem? — perguntou Wonhee, curiosa.

— Dormi, os tampões de ouvido que comprei são maravilhosos, não ouvi um ronco sequer.

— Isso é porque eu não ronco. — Jay se sentou ao lado dele para comer sua omelete também.

Sunoo resmungou, mas achou que era melhor não arrumar briga por isso de novo, já que o problema já havia sido resolvido. Assim, depois que eles terminaram o café da manhã, ele pegou sua mochila e foi até a bicicleta.

— Ei, o que você está fazendo? — perguntou Jay, ao vê-lo sentar no banco.

— Hoje é o meu dia, se lembra? Um dia para cada um.

— Mas eu te dei carona ontem.

O Kim apontou para a parte de trás da bicicleta, e o outro fez uma expressão enojada.

— Eu não vou de carona com você, esquece. Eu sou homem.

— Então vá a pé.

Sunoo jogou os cabelos da peruca e estava prestes a sair quando Jay o segurou. Dando-se por vencido — pois a preguiça de ter que andar com um violão nas costas era maior —, ele resmungou alguma coisa e se sentou na parte de trás. No segundo seguinte, Sunoo sentiu as duas mãos dele ao redor de sua cintura e engoliu em seco. Queria reclamar, mas não podia. Não tinha sido ele mesmo que fez o convite?

— Não precisa segurar tão firme...

— Não posso cair, vai machucar o meu precioso violão.

Vendo que não tinha outra solução, ele respirou fundo e pegou impulso para começar a pedalar. Wonhee estava olhando os dois de longe e dava risadinhas. Por que os adolescentes são assim?

Pelo menos o trajeto até a faculdade era rápido; era nisso que Sunoo estava tentando se concentrar. No entanto, estava ciente demais das mãos do outro em seu corpo e nunca tinha reparado que eram tão grandes. Embora ele não fosse um hétero padrão — até porque tinha dito que era gay —, tinha mãos de hétero padrão, e, na visão de Sunoo, eram aquelas mãos grandes, com unhas meio tortas, cortadas de qualquer jeito. Dava para ver que ele tinha calos também, de tanto tocar violão. Havia umas peles soltas em alguns cantos, a lateral esquerda do indicador estava avermelhada, e tinha pequenas feridas em vários dedos, provavelmente de tanto cutucar com os dentes e com as unhas. Sim, ele havia analisado tudo isso enquanto aguardava para atravessar a rua e, depois, ficou se perguntando se não tinha parecido suspeito analisar as mãos de alguém por tanto tempo. Por sorte, Jay não tinha reparado.

— Não vai tocar piano hoje? — ele perguntou, tentando puxar um assunto qualquer.

— O professor disse que queria me ver tocando violão. Por quê? Gostou do meu acompanhamento ontem? Confesse, ninguém nunca te acompanhou daquela forma, né?

Ele estava claramente se gabando, mas Sunoo engoliu em seco. Qual era o problema dele??? Por que tinha que segurá-lo daquele jeito na cintura e falar essas coisas? Parecia até que estava flertando, mas ele tinha dito que era gay. Será que era mentira?

Meu colega de quarto é uma fraude! | sunjayOnde histórias criam vida. Descubra agora