Dia 1 - Recomeço

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Voltar para casa não adiantou de nada; Sunoo estava arrasado e nem sequer podia contar para sua mãe o motivo. Ele inventou que estava cansado por conta do trabalho voluntário que vinha fazendo. Passava os dias na cama, sem vontade de fazer nada, apenas sentindo saudade das pessoas que conhecera no interior e da vida divertida que tinha vivido nas últimas duas semanas. Ao mesmo tempo, sentia-se horrível pelo que havia feito e não parava de se culpar. Ocasionalmente, Wonyoung lhe mandava mensagens, e, cada vez que via a notificação dela, sentia-se pior.

Depois de uma semana, começou a pensar no que iria fazer. Não poderia passar o resto da vida se lamentando pelo que não podia mais mudar. Sendo assim, verificou quanto tinha em sua poupança e começou a planejar sua viagem pelo mundo. Qual momento seria mais apropriado do que esse? Precisava mesmo esfriar a cabeça, conhecer lugares novos e se reencontrar longe dali. Isso lhe deu ânimo para começar o planejamento da viagem; depois de muitos dias, estava finalmente motivado para alguma coisa.

No interior, as coisas estavam estranhas. Os Lee foram informados sobre a situação caótica, e Sunhee disse que poderia encontrar outro lugar para viver — mesmo que, a essa altura, não fosse tão fácil. Ao mesmo tempo, eles sabiam que não conseguiriam alugar o quarto agora que o semestre já tinha começado, o que era um problema. Jay disse que não se importava em dividir o quarto com ela; ele não vinha conversando com ninguém, como se estivesse indiferente ao mundo à sua volta, fechado dentro de si. Sendo assim, Sunhee ficou com a vaga no quarto dos fundos, mas todos logo descobriram que ela era muito diferente do irmão.

Na universidade, ninguém entendeu a mudança brusca de personalidade. Acharam que ela tinha enlouquecido, e vários burburinhos surgiram aqui e ali, mas ela não ligou. Logo fez amizade com o grupinho estranho que se sentava no fundo da sala, o que Wonyoung já esperava. Sempre que a via, morria de saudades de Sunoo. Mas, dentre todos, o professor foi quem ficou mais desconfiado. Sunhee também era ótima no violino, mas o jeito como tocava era diferente. Embora os demais não percebessem, Jay e ele conseguiam notar isso facilmente. Sempre que o Park a ouvia tocar, sentia que era diferente demais; nenhuma das notas dela tocava seu coração. O professor achava muito estranho que, além de o visual da garota ter mudado completamente, ela também não tocava da mesma forma. No entanto, precisou se convencer de que havia mudado de estilo por opção, afinal de contas, ninguém em sã consciência concluiria que ela tinha um irmão que se passou por ela durante duas semanas. Isso só acontecia em filmes.

No começo, Jay se confundia com a semelhança, já que o rosto de ambos era muito parecido. No entanto, logo isso parou de acontecer. Sunhee tinha hábitos completamente opostos: acordava em cima da hora da aula, vestia qualquer coisa, não tomava café da manhã e ia de carona com um colega que a buscava de moto. Por isso, o café da manhã ao lado de Wonhee se tornou muito mais silencioso. A mais nova parecia triste o tempo todo, mas tinha receio de mencionar Sunoo e deixá-lo irritado, então não falava nada. A bicicleta também parecia grande demais agora, mesmo que fosse uma normal. Sempre que subia nela, ele se lembrava das voltas que dava pelo quarteirão, enrolando para ir para a aula, pois queria ficar mais tempo com aquela pessoa. Como podia ser que tudo tivesse desmoronado desse jeito?

Quando voltou para o auditório, dessa vez sozinho, Jay se sentiu estranho. Após refletir por um tempo, sentou-se diante do piano e começou a tocar a melodia de A Bela e a Fera, assim como da última vez. Dessa vez, no entanto, sentia falta da voz doce dele acompanhando. Sentia-se ridículo por sentir a falta daquela pessoa em todos os cantos e a cada momento, mas o que podia fazer? O que podia fazer se, em duas semanas, aquele colega de quarto tinha mudado sua vida?

Quando chegou em casa naquela tarde, Sunhee estava à sua espera.

— Ei, eu preciso te falar uma coisa. — Não era comum que os dois conversassem, então ele achou estranho.

Meu colega de quarto é uma fraude! | sunjayOnde histórias criam vida. Descubra agora