Capítulo 23

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2019

Era o aniversário de onze anos de minha sobrinha Jane, filha de Audrey e Nathan. Eu me via tanto naquela menina.

Enquanto eu trançava seus longos cabelos castanhos tal qual os dois pais, eu sorria olhando para minha irmã caçula que estava encostada na batente da porta do quarto da filha nos olhando.

- Lembra quando você costumava trançar meus cabelos? - Ela perguntou rindo.

- Claro que me lembro! Toda vez que eu estava em casa, eu trançava seus longos cabelos e tinha que deixar a franja solta.

- Eu adorava usar franja. - Bibi respondeu em um tom nostálgico mas logo mudou de assunto - Brooke vai voltar de Parsons no natal, como está se sentindo?

- Muito ansiosa. - Beijei a cabeça de Jane avisando que já tinha terminado - Primeira vez que vejo ela desde que deixei-a no aeroporto.

- Não sei como a mamãe e o papai deixaram a gente estudar fora, meu coração aperta só de pensar que a Jane um dia vai pra faculdade.

- Eu vou ser artista. - Minha sobrinha afirmou antes de sair do quarto.

- Artista, vê se pode. - Audrey riu cruzando os braços - Acho que ela vai ser médica igual a mim e ao pai dela.

No mesmo momento meu telefone tocou, era Brooke. Eu atendi a ligação rapidamente, amava as horas que passávamos conversando no celular.

- Oi BrooBroo.

- Oi mamãe, como está?

- Muito bem! E você? Estou com saudades, tudo confirmado para passar o natal comigo?

- Estou bem mamãe, mas não vou conseguir passar o natal com você. Preciso ficar porque peguei um projeto super importante de estágio, te prometo que assim que conseguir eu volto para Los Angeles e vamos passar a noite tomando sorvete e assistindo "Como perder um homem em 10 dias".

Suas palavras foram como um soco no peito. Nunca tinha ficado tanto tempo longe de Brooke.

- Claro, BrooBroo. O que você achar melhor, filha.

A pandemia passou em 2020 e em 2021. No natal de 2022 consegui abraçar minha filha pela primeira vez em quase quatro anos. Aquele abraço não tinha um gosto normal, tinha gosto de saudade e alívio. Alívio de que eu não a perdi.

Coloquei minhas mãos em suas bochechas quentes e ri arrumando seu cachecol. Em Manhattan deveria estar gelado a beça.

- Como está? - Ri olhando em seus olhos castanhos enquanto dirigia.

- Muito bem. Estarei indo pra Paris no próximo mês!

O meu coração deu um pulo. O caminho até em casa foi silencioso, eu esperei-a guardar suas coisas para começar a perguntar o que eu realmente queria.

- Por que só me contou agora que está indo pra Paris? O que vai estudar lá?

- Não te contei antes porque sabia que você não ia gostar, já que eu vou fazer uma pós graduação em cinema.

Tudo o que eu queria que não acontecesse, aconteceu.

- Você não vai. - Pela primeira vez na vida ergui minha voz com ela.

- Eu vou. Sou uma mulher adulta que faz o próprio dinheiro e eu não vou tolerar que esse seu medo de que eu tenha o mesmo fim que o meu pai me atrapalhe de seguir o legado que ele me deixou!

- Brooke.

- Meu pai sofreu um acidente, ele não foi assasinado por ser diretor de cinema mãe! Chega de achar isso...

- Eu não tenho medo disso! - Gritei interrompendo seu pequeno monólogo - Não quero que você descubra coisas sobre nós.

- Mais do que eu já sei, mãe? A internet não nos esconde nada, eu já sei sobre as drogas, sei que papai já tinha sido casado, sei sobre tudo. Se esse era o problema, pronto, já está resolvido.

Eu não podia mais segurar a minha filha, eu não podia mais fingir que o John voltaria, eu não podia mais deixar de viver.

Mais tarde naquele mesmo dia, eu me vi sentada ao lado de Brooke, nós riamos assistindo antigas filmagens de sua infância enquanto comíamos sorvete. John não ia querer que eu segurasse Brooke de viver seu sonho, John não ia querer que eu prendesse nossa filha de ser a melhor no que ela escolhesse fazer. John não ia querer me ver sem atuar.

Então na manhã seguinte eu aceitei o papel que me faria ganhar mais um prêmio, depois de mais de 20 anos sem atuar.

E esse prêmio eu dediquei ao John Romano, o cineasta, diretor, produtor, pai da minha filha e acima de tudo, o amor da minha vida.

Para sempre tua, Harper Young Romano.

FIM

A Misteriosa Vida de Harper YoungOnde histórias criam vida. Descubra agora