Capítulo 52

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Vinnie se aproxima lentamente, sua expressão um misto de preocupação e arrependimento. Eu mal consigo olhar para ele, minha mente ainda girando com a culpa e a dor do que aconteceu. Ele para na minha frente, mas eu continuo olhando para o chão, as lágrimas ameaçando cair.

—Yasmim... -ele sussurra, e antes que eu possa responder, sinto o toque suave de suas mãos nas minhas. Ele se agacha, ficando na minha altura, forçando-me a encará-lo. Seus olhos, normalmente cheios de confiança, agora estão cheios de remorso. Eu vejo a sinceridade ali, mas ainda assim, é difícil aceitar.

—Eu sinto muito. -ele começa, sua voz tremendo levemente.- Eu realmente sinto muito por tudo isso... Eu nunca quis que as coisas chegassem a esse ponto, nunca quis que você se machucasse assim..

Ele aperta minhas mãos com um pouco mais de força, como se quisesse me transmitir segurança através do toque.

—Eu vou estar aqui para você, sempre. Eu prometo. Se você precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, eu estarei aqui!

Eu fecho os olhos por um segundo, tentando processar suas palavras. Eu sei que ele está sendo sincero, que quer me proteger, mas o peso da culpa ainda está sobre mim, sobre nós.

-Se precisar -ele continua, sua voz firme- eu posso colocar pessoas vigiando o seu condomínio e a sua casa, 24 horas por dia. Sei lá, 20, 30, 50 homens de plantão -ele ri- eu coloco quantas pessoas o possíveis para que você se sinta segura. Ninguém mais vai te machucar, Yasmim. Eu garanto isso.

Minha mente corre a mil, tentando absorver tudo. É difícil aceitar ajuda, difícil confiar em promessas quando tudo parece tão fora de controle. Mas a maneira como ele está ali, ajoelhado na minha frente, pronto para fazer qualquer coisa por mim... isso mexe comigo.

Ainda que a dor e o medo continuem, por um momento, sinto uma faísca de esperança.

Eu respiro fundo, cansada, sentindo o peso de tudo o que aconteceu. Vinnie continua agachado na minha frente, os olhos dele presos aos meus, esperando por uma resposta. Apesar de toda a dor e confusão, eu sei que ele não teve culpa do que aconteceu. Ele está aqui agora, disposto a me proteger, e é isso que importa no momento.

—Vinnie... -murmuro, minha voz baixa e um pouco trêmula. -Eu sei que você não teve culpa... Eu sei que está fazendo o possível para me ajudar. Eu só... preciso de um tempo para processar tudo isso, mas agradeço pelo que você está fazendo por mim. De verdade.

Ele suspira aliviado, os ombros relaxando um pouco enquanto continua segurando minhas mãos. Mas antes que ele possa responder, há uma batida na porta. Ambos nos viramos para ver Dylan entrando, com uma expressão sombria no rosto. Ele fecha a porta atrás de si e se aproxima, sentando-se no chão ao lado de Vinnie, que ainda não soltou minhas mãos.

—Dylan.. -eu digo notando os ferimentos em seu corpo.-O que aconteceu com você?

Como você tá, Yas? Eu fiquei muito preocupado. -Ele ignora minha pergunta inicial, o olhar preocupado.

—Eu... vou ficar bem -respondo, tentando acreditar nas minhas próprias palavras. Mas é difícil. Ainda assim, Dylan parece aliviado, embora seu rosto mostre que ele carrega um fardo pesado.

Então, ele se vira para Vinnie, que agora está atento.

—Tem uma coisa que você precisa saber, cara -Dylan começa, o tom sério.- É sobre o que aconteceu com a Yasmim... sobre o sequestro.

Vinnie fica tenso ao meu lado, o rosto endurecendo, ele trava seu maxilar

Dylan respira fundo, como se estivesse reunindo forças para o que vem a seguir.

—Meu pai... ele tá envolvido nessa merda toda. No sequestro da Yasmim, karalho!

—Que porra é essa? -Vinnie explode, soltando minhas mãos enquanto se levanta abruptamente, seus olhos brilhando de raiva.- Como assim, o Oliver??!

Dylan abaixa a cabeça por um momento, como se estivesse envergonhado.

—Eu venho investigando os Escorpions há um tempo... Eu estava desconfiado que meu pai podia estar envolvido em algo sujo, mas não queria acreditar. Só que em uma dessas investigações, eu descobri que ele está envolvido com a gangue. E agora... parece que ele teve alguma coisa a ver com o sequestro da Yasmim.

—Desgraçado.. -Vinnie murmura baixinho

Eu apenas fico ali, sem palavras, o coração acelerado. Oliver, o pai de Dylan, estava por trás do meu sequestro? Tudo começa a girar na minha cabeça. Isso é demais.

Dylan olha para mim, o rosto dele expressando uma dor profunda.

—Yas, eu... eu sinto muito. Eu queria ter te protegido, queria ter parado ele antes disso, mas... ele é uns filhos da puta me seguraram, eu não pude fazer nada! -Ele esfrega as mãos no rosto, como se quisesse apagar tudo aquilo.- Eu não sabia como lidar com essa porra toda, não sabia que ele podia ser capaz de fazer isso.

Vinnie se aproxima de Dylan, a raiva e a frustração ainda evidentes em sua voz.

—Então o que a gente faz agora? Porque se esse filho da puta está envolvido, a gente precisa fazer algo.

—A gente acaba com isso, Vinnie. Não importa que ele seja meu pai. Ele vai pagar por isso, nem que eu tenha que derrubar ele sozinho.

[...]

Dias haviam se passado, e já faz nove dias que tudo aquilo aconteceu. As lembranças horríveis daquela maldita noite parecem cada vez mais vívidas, surgindo sem aviso e me prendendo em um ciclo de medo e dor. A cada dia que passa, fica mais difícil afastá-las, e às vezes, parece que estou revivendo tudo de novo.

Vinnie cumpriu o que prometeu. Ele colocou mais de dez homens para vigiar minha casa. Não vou mentir, ainda é estranho ter tanta gente ao meu redor o tempo todo, mas, de certa forma, isso me dá uma sensação de segurança que eu não tinha antes. É um alívio saber que, se algo acontecer, eles estarão lá.

Apesar disso, não me acostumei completamente. Ainda há momentos em que me sinto sufocada, como se estivesse sendo observada o tempo todo, mas tento me lembrar que isso é pelo meu bem.

Vinnie e os meninos não saem da minha casa, estão sempre aqui, fazendo de tudo para me distrair, trazendo jogos de tabuleiros, cartas ou até mesmo jogos que nunca vimos e temos que aprender na hora, para me ajudar a esquecer, nem que seja por um momento. Às vezes, sou eu que vou até a casa de Vinnie, buscando um pouco de conforto longe das minhas própria casa. Essa proximidade tem sido uma forma de lidar com o que aconteceu, mesmo que as lembranças insistam em voltar.

A ausência da escola nos últimos nove dias foi inevitável. O médico que me examinou após aquela noite terrível me deu um atestado, então tenho passado esses dias me recuperando em casa, isolada do mundo lá fora. As memórias daquele sequestro ainda me assombram, e o medo que senti continua pulsando em minha mente, mesmo com toda a segurança que Vinnie providenciou.

A casa, que antes era um refúgio acolhedor, agora parece mais uma prisão segura, cercada por homens armados que Vinnie colocou para me proteger. Eu sei que é para o meu bem, mas não consigo me acostumar completamente com essa nova realidade. Os dias têm sido longos, e a solidão, ainda mais pesada.

Mas hoje, finalmente, consegui reunir forças para sair desse casulo de medo e vulnerabilidade. Não poderia continuar me afastando das pessoas que amo, principalmente das meninas. Não vejo Mads e Avani desde aquela noite. Sinto falta delas, da leveza que trazem para a minha vida, mesmo nos momentos mais sombrios.

Recebi uma mensagem da Mads dizendo que Avani não tem se sentido muito bem nos últimos dias. Preocupei-me, mas saber que posso fazer algo por ela me deu um impulso de energia. Decidimos passar a tarde na casa dela, fazer companhia, talvez assistir a algum filme bobo ou simplesmente conversar, como sempre fazíamos.

Entro no meu quarto e me olho no espelho. Meu rosto está mais pálido do que o normal, meus olhos parecem cansados. Mas não posso deixar que elas vejam o quanto isso ainda me afeta. Elas já passaram por tanta coisa comigo; preciso ser forte também por elas. Escolho uma roupa confortável, algo que me faça sentir mais leve.



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