Capítulo 54

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Estou sentada em uma das cadeiras no corredor do hospital, esperando Avani terminar seus exames. Aquele ambiente sempre me deixa ansiosa. Tento me distrair, mas minha mente continua vagando, pensando no que Avani pode estar enfrentando. Não gosto de vê-la tão frágil, tão diferente da amiga forte e sempre pronta para ajudar.

Enquanto estou perdida em pensamentos, algo chama minha atenção. Um menininho passa correndo pelo corredor, provavelmente em direção à mãe, que o aguarda mais à frente. Ele não deve ter mais do que cinco anos, com cabelos loiros que balançam a cada passo que ele dá. O sorriso no rosto dele é contagiante, mas com os olhinhos cheios de lágrimas, mas mesmo com um curativo verde cheio de dinossauros desenhados na testa, ele parece radiante. Provavelmente, caiu e bateu a cabeça, mas agora só quer brincar, esquecendo-se da dor.

Quando o vejo, meu coração dá um salto. Há algo nele que me faz lembrar de Vinnie, talvez os cabelos loiros, ou quem sabe o sorriso travesso. Sinto uma onda de emoções que não consigo controlar. Meus pensamentos imediatamente voltam para o passado, para os momentos que tive com Vinnie, para o que construímos e o que perdemos.

Por um instante, fico observando o menininho, imaginando como teria sido minha vida se tudo tivesse sido diferente. E se as coisas com Vinnie tivessem seguido outro rumo? Será que estaríamos juntos se Aaron não tivesse aparecido?

Afasto esses pensamentos rapidamente. Não posso me perder no que poderia ter sido. Meu foco agora é Avani e o que ela está enfrentando. Mesmo assim, a visão do menino loiro me deixa com uma pontada de saudade e um misto de esperança e arrependimento que não consigo ignorar.

Respiro fundo, tentando me acalmar e esperar Avani sair da sala de exames. Preciso estar forte para ela, como sempre esteve para mim.

Enquanto estava mexendo no celular, escuto a mãe do menininho chamando-o suavemente.

—Querido, você precisa se sentar ali na cadeira e esperar um pouco, tá bom? A mamãe precisa fazer alguns exames na sala ao lado, mas já volto, prometo.

O menininho, que agora parece um pouco menos radiante, olha para a mãe com olhos grandes e preocupados.

—Mamãe, você tá bem? -ele pergunta, sua vozinha carregada de preocupação genuína.

Ela sorri, tentando tranquilizá-lo, e responde:

—Estou bem, sim, meu amor. Não se preocupe. Vai dar tudo certo, ok?

Ela dá um beijo rápido na testa dele, bem em cima do curativo de dinossauros, e entra no consultório, deixando o menino parado no corredor, meio perdido. Ele olha ao redor, procurando um lugar para se sentar, mas parece hesitante. O hospital é um ambiente estranho para ele, como é para a maioria das crianças. Ele coça os olhos, o cansaço evidente em sua expressão. Provavelmente já é tarde para ele, e a agitação do dia finalmente o alcançou.

Ele começa a andar pelo corredor, passando pelas cadeiras até parar em frente a mim. Seus olhos grandes e curiosos me encaram, e há algo de tocante na sua vulnerabilidade.

— Moça, tem alguém aqui? -ele pergunta com uma voz tímida, apontando para a cadeira ao meu lado.- Minha mamãe pediu pra eu esperar ela, mas eu tô com medo e não quero ficar sozinho.

Meu coração se aperta ao ouvir as palavras dele. A inocência e a sinceridade em sua voz são desarmantes. O cansaço é evidente nos seus olhos, e vejo que ele só quer um pouco de conforto em um lugar que parece tão assustador para ele.

—Não tem ninguém aqui, não -respondo suavemente, sorrindo para ele.- Você pode se sentar ao meu lado, se quiser. Assim, você não precisa ficar sozinho.

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