O silêncio da alma

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As sombras que se formavam em minha mente começaram a tomar formas mais definidas. Os pensamentos, antes dispersos e confusos, agora se agrupavam em torno de um terrível e sombrio núcleo. Os primeiros pensamentos suicidas surgiram como intrusos silenciosos, sussurrando palavras de alívio em meio ao caos que se formava dentro de mim. "E se tudo simplesmente acabasse?", perguntava-me uma voz interior, doce e traiçoeira.

A sensação de aprisionamento, de impotência, era avassaladora. A música, que um dia fora minha paixão, havia sido cruelmente ceifada, e com ela, a vontade de viver. A pressão incessante de meus pais transformara-se em uma espécie de ruído branco, sempre presente, mas agora sem força para me mover. Eu estava exausta, desgastada, um fantasma de quem eu fora.

As palavras de meus pais, antes tão cheias de significado, agora passavam por mim como brisas frias, sem deixar marcas. Não tinha mais vontade de retrucar, de argumentar, de lutar contra a correnteza que me arrastava. Suas expectativas, suas exigências, tudo parecia distante, como se eu observasse minha própria vida através de uma janela embaçada. O violino, que um dia fora minha voz, agora descansava esquecido em um canto do quarto, coberto por uma fina camada de poeira.

Trancada em meu quarto, o silêncio tornou-se meu único companheiro. As paredes, antes testemunhas de minha criatividade efervescente, agora me cercavam como guardiãs de um segredo sombrio. Não havia mais melodias, nem composições, nem o som vibrante das cordas; apenas um vazio ensurdecedor. A vida, que um dia fora colorida e vibrante, agora parecia um filme em preto e branco, sem enredo, sem propósito.

Meus pais, imersos em seus próprios mundos, não percebiam a transformação que ocorria em mim. Viam apenas a menina calada, obediente, que seguia as ordens sem questionar. Não notavam que, por dentro, eu estava desmoronando. A cada dia, a vontade de sair do quarto diminuía, até que se extinguiu completamente. A escola, os amigos, os compromissos, tudo parecia desprovido de sentido.

O violino, que um dia fora minha salvação, agora era um símbolo de tudo o que eu perdera. Sentia-me traída, como se a música tivesse me abandonado no momento em que eu mais precisava. As noites eram longas e silenciosas, e em meio à escuridão, os pensamentos suicidas se tornavam mais frequentes, mais insistentes. "E se tudo simplesmente acabasse?", a voz continuava a perguntar, oferecendo uma solução final para a dor incessante.

Foi numa dessas noites, quando o luar pálido iluminava o quarto de forma fantasmagórica, que me dei conta do quão profundo era o abismo que se abria diante de mim. Sentada na beira da cama, olhei para o violino e senti uma mistura de raiva e tristeza. Como algo que eu amava tanto poderia ter se tornado a causa de tanto sofrimento?

As lágrimas, antes contidas, começaram a escorrer livremente. Senti-me perdida, sem direção, sem esperança. A vida, que um dia fora uma sinfonia de possibilidades, agora era uma melodia interrompida, sem resolução. E naquele momento, compreendi que precisava de ajuda, de algo ou alguém que pudesse me tirar desse abismo silencioso.

A decisão de pedir ajuda era um passo incerto, mas necessário. Precisava encontrar uma forma de redescobrir a luz, de reacender a chama que um dia me guiara. Antes que a melodia da minha vida chegasse ao fim prematuramente, antes que o silêncio se tornasse permanente, precisava encontrar uma maneira de voltar a sentir, de voltar a viver...

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