O abismo da Melancolia

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A dor física eventualmente começou a diminuir, mas a dor emocional se aprofundou, tornando-se uma presença constante e opressiva. Sentia-me sem alma, sem vida, como uma casca vazia que um dia abrigara sonhos, esperanças e uma paixão ardente pela música. Cada momento era uma luta contra um vazio esmagador que ameaçava me engolir por completo.

Por dois dias, não consegui me levantar da cama. O peso da melancolia era tão grande que até respirar parecia um esforço monumental. Minha mãe, que antes era um símbolo de autoridade e disciplina, tornou-se uma figura distante, indiferente ao meu estado. Não havia apresentações programadas para os próximos dias, então minha ausência não era notada, não importava.

Ela trouxe comida até meu quarto várias vezes, mas eu não conseguia tocar nos pratos. Eles se acumulavam ao lado da cama, testemunhas silenciosas de meu desespero crescente. O quarto, que um dia fora um santuário de criatividade, agora era um caos sombrio, refletindo o estado de minha mente. As cortinas permaneciam fechadas, bloqueando qualquer traço de luz que pudesse penetrar a escuridão opressiva.

Cada segundo, cada minuto, era uma eternidade de sofrimento. Os pensamentos suicidas, que antes eram sussurros distantes, agora eram gritos ensurdecedores que preenchiam minha mente. "Não dá mais para viver assim," repetia para mim mesma, quase como um mantra. Sentia-me aprisionada em um ciclo interminável de dor e desespero, incapaz de ver uma saída.

As memórias da agressão de minha mãe estavam gravadas em minha pele e em minha alma. Cada hematoma, cada corte era um lembrete constante da violência que havia sofrido. Mas a dor física era apenas a ponta do iceberg; a verdadeira tortura estava em minha mente, onde as cicatrizes eram invisíveis, mas infinitamente mais profundas.

A música, que um dia fora minha voz, agora era um eco distante, uma lembrança dolorosa do que eu havia perdido. Não conseguia mais tocar, não conseguia mais compor. Cada vez que olhava para o violino, sentia uma mistura de tristeza e raiva que me consumia. A paixão que um dia me guiara havia sido cruelmente extirpada, deixando-me vazia e sem propósito.

Os dias se transformaram em um borrão de escuridão e desespero. Cada momento era uma batalha contra os pensamentos suicidas que se tornavam mais fortes e mais insistentes. "Talvez seja melhor acabar com tudo," pensava, a cada batida do coração, a cada respiração pesada. A vida, que um dia fora cheia de promessas, agora era um campo desolado de sofrimento.

Minha mãe, talvez por culpa ou por simples obrigação, continuava a trazer comida, mas não fazia diferença. Eu estava além de qualquer ajuda que ela pudesse oferecer. A solidão, a dor, a melancolia - tudo se combinava em uma tempestade perfeita de desespero que me consumia.

E assim, deitada na escuridão de meu quarto, com os pratos acumulados ao lado da cama e as cortinas fechadas, tomei uma decisão. Não podia mais viver assim. Não podia continuar a suportar essa dor interminável. Os pensamentos suicidas, que antes eram uma opção distante, agora eram a única saída que conseguia enxergar.

A vida, que um dia fora uma sinfonia de possibilidades, agora era uma melodia interrompida, sem resolução. E, enquanto o silêncio opressivo do quarto me envolvia, compreendi que a única maneira de encontrar paz era dar um fim a tudo. Não havia mais esperança, não havia mais luz. Apenas a escuridão, e a promessa de um alívio final.

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