A decisão de dar fim à minha vida foi acompanhada por um plano meticuloso. Sabia que a única maneira de escapar da dor interminável era através da morte, e queria que minha saída fosse tão impactante quanto minha música. Decidi que minha última apresentação seria meu adeus definitivo ao mundo. Cada nota, cada acorde, carregaria minha despedida, e a forma como eu partiria seria minha última mensagem.
Planejei envenenar a taça de vinho que sempre bebia durante as apresentações. Um gole a cada música, um passo mais perto do fim. O veneno seria rápido, mas não instantâneo, permitindo que eu terminasse minha performance final antes de cair nas garras da morte. Sabia que minhas músicas, cada vez mais mórbidas e comoventes, seriam minha última súplica, uma última tentativa de ser ouvida.
Meus pais, sempre obcecados pela perfeição, permaneceram neutros, alheios ao tormento que transparecia em cada melodia. Para eles, a execução técnica era o único objetivo, e não perceberam a profundidade do desespero que se infiltrava em minhas composições. Cada ensaio era uma preparação não só para a apresentação, mas também para o fim que eu havia planejado.
O dia da apresentação chegou, e o teatro estava lotado. O público, ansioso para ouvir minha música, não fazia ideia do que estava por vir. Subi ao palco com o violino em mãos e a taça de vinho ao meu lado. Cada gole era um passo mais próximo da libertação. As músicas, carregadas de uma melancolia insuportável, arrancavam lágrimas dos olhos dos espectadores, mas ninguém compreendia o verdadeiro motivo por trás de tanta emoção.
À medida que a apresentação avançava, sentia o veneno começar a fazer efeito. A fraqueza se instalava em meus músculos, e a visão começava a turvar. Mas continuei, determinada a terminar minha última melodia. O público, cativado pela intensidade da performance, não notava a transformação sutil que ocorria em mim.
Quando cheguei à última música, sabia que estava perto do fim. O sangramento nasal começou, um sinal claro de que o veneno estava tomando conta de meu corpo. Mas continuei, cada nota uma despedida, cada acorde uma súplica final. E então, pela primeira vez, cantei. Minha voz, fraca mas determinada, ecoou pelo teatro:
"Eu voltarei pra buscar vingança."
As palavras saíram como um sussurro, mas carregadas de uma promessa sombria. O público, perplexo, assistia em silêncio absoluto. E então, com um último esforço, terminei a melodia e caí de joelhos. O violino caiu ao meu lado, um símbolo de tudo o que eu havia perdido.
Meu corpo, agora sem vida, tombou no palco. O silêncio que se seguiu foi carregado de uma tensão palpável. O público, ainda tentando processar o que havia acontecido, permanecia imóvel. Meus pais, finalmente percebendo a gravidade da situação, correram para o palco, mas era tarde demais. A vida havia se esvaído de meu corpo, deixando apenas uma promessa de vingança e uma melodia inacabada.
A última nota, um eco distante, reverberou pelo teatro, deixando um vazio que nunca poderia ser preenchido. Minha saída, tão dramática quanto minha música, era meu último ato de rebeldia contra um mundo que não me compreendeu. E enquanto o silêncio envolvia o teatro, a promessa de que eu voltaria para buscar vingança pairava no ar, uma sombra que jamais se dissiparia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lótus da meia noite
Truyện NgắnNoemī, uma jovem prodígio do violino, vive sob a opressão de pais tirânicos que veem seu talento apenas como uma fonte de prestígio e lucro. Suas melodias, carregadas de dor e desespero, são um grito silencioso por ajuda que ninguém parece ouvir. Ap...