A dor do silêncio

0 0 0
                                    

A viagem de volta para casa foi um borrão. O ambiente dentro do carro estava carregado de uma tensão palpável. Meus pais não disseram uma palavra, mas o silêncio era mais ensurdecedor do que qualquer grito. Sabia que algo terrível estava por vir, e o medo percorreu meu corpo como uma corrente elétrica incessante.

Ao chegarmos em casa, minha mãe me chamou com uma voz fria e controlada. "Noemī, venha ao quarto. Precisamos conversar." Cada passo que dei em direção ao quarto foi acompanhado por um aperto crescente no peito. O corredor parecia interminável, cada passo ecoando como um tambor de funeral. Quando finalmente entrei, minha mãe fechou a porta atrás de nós com um clique que reverberou em minha alma.

Sem dizer uma palavra, ela pegou um cinto que estava sobre a cama. O olhar em seus olhos era uma mistura de desapontamento e uma determinação fria que eu nunca havia visto antes. E então, começou. O primeiro golpe me pegou de surpresa, a dor explodindo em minha pele como fogo líquido. Tentei compreender, tentei encontrar uma lógica, mas tudo o que havia era dor.

Por duas horas intermináveis, minha mãe me agrediu com o cinto. A cada batida, o mundo parecia desmoronar ao meu redor. O som do couro rasgando o ar, o impacto contra minha pele, a dor que reverberava por todo o meu corpo — cada segundo parecia uma eternidade que nunca acabava. Minha mãe não disse uma palavra sequer durante todo o tempo. Seu silêncio era mais aterrorizante do que qualquer grito poderia ser.

Enquanto os golpes continuavam, algo dentro de mim começou a mudar. A dor física era intensa, mas a dor emocional era insuportável. A cada batida, sentia uma parte de mim se quebrar, uma parte de minha alma se despedaçar. A confiança, o amor, o respeito — tudo isso se dissolveu na dor. Compreendi, naquele momento, que jamais perdoaria minha mãe por isso. Jamais poderia olhar para ela, ou para minha família, da mesma maneira novamente.

Quando finalmente parou, meu corpo estava coberto de hematomas e cortes, cada um um testemunho silencioso da violência que havia sofrido. Minha mãe saiu do quarto sem olhar para trás, deixando-me sozinha em uma poça de minha própria dor. Senti como se meu espírito tivesse sido arrancado de mim, deixando apenas um vazio profundo e desolador.

Deitada no chão, com lágrimas escorrendo silenciosamente pelo rosto, percebi que jamais veria a vida com as mesmas cores novamente. A alegria, a esperança, a paixão pela música — tudo havia sido arrancado de mim. A vida, que um dia fora uma sinfonia de possibilidades, agora era um campo desolado de dor e desespero.

A culpa, a responsabilidade por essa transformação, eu sabia exatamente onde residia. Minha família, com suas expectativas sufocantes e sua incapacidade de ver além de suas próprias ambições, havia destruído tudo o que eu amava. A música, que um dia fora minha salvação, agora era um lembrete constante do que eu havia perdido.

E assim, deitada no chão, ferida e quebrada, compreendi que jamais seria a mesma novamente. A dor, tanto física quanto emocional, havia me transformado para sempre. E, enquanto o silêncio da noite envolvia a casa, a promessa de que jamais perdoaria minha mãe ecoava em minha mente, um juramento silencioso que carregaria comigo para sempre.

Lótus da meia noite Onde histórias criam vida. Descubra agora