A sinfonia de uma alma.

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Desde que consigo me lembrar, a música sempre foi a essência que permeava cada canto da minha existência. Meus pais, almas melódicas que eram, trouxeram o violino para minha vida antes mesmo que eu pudesse compreender a complexidade de suas cordas. Minha mãe, com seu sorriso sereno, dedilhava o piano enquanto meu pai, de olhos fechados, se entregava ao violoncelo. E eu, pequena e curiosa, observava tudo, absorvendo cada nota como se fosse um segredo sussurrado ao meu ouvido.

Foi numa tarde dourada, quando o sol se punha preguiçoso, que meus dedos tocaram pela primeira vez o violino. Lembro-me da sensação da madeira fria e do arco que parecia vivo em minhas mãos. A princípio, as notas saíam tímidas, hesitantes, mas, pouco a pouco, fui me entregando àquela dança melódica. Meus pais observavam, e em seus olhos eu via um misto de orgulho e esperança. Naquele momento, compreendi que o violino seria minha voz, minha alma, meu refúgio.

A música se tornou meu diário. Quando a felicidade me invadia, o violino cantava em tons vibrantes e alegres. Nos dias de tristeza, as notas saíam arrastadas, como lamentos que ecoavam na escuridão. A raiva, por sua vez, era um furacão de acordes dissonantes. Não havia sentimento que eu não pudesse traduzir através das cordas do meu violino. Ele e eu éramos um só ser, uma entidade inseparável.

Entretanto, nos últimos tempos, algo mudou. Ao tocar, sinto uma estranha melancolia, uma tristeza que não consigo definir. As notas, antes claras e precisas, agora parecem carregadas de um peso invisível, uma sombra que se estende sobre a melodia. Meus dedos hesitam, como se o violino estivesse me contando segredos que eu não quero ouvir. As melodias que surgem são belas, mas tristes, como se meu coração estivesse se despedindo de algo que não consigo identificar.

E assim, numa dessas tardes onde o sol se esconde atrás das nuvens, encontro-me mais uma vez com meu violino. A casa está silenciosa, e cada ruído parece amplificado pelo eco do vazio. Sinto uma angústia crescente, um pressentimento que não posso ignorar. Precisava descobrir o que estava causando essa mudança, essa tristeza que parecia se infiltrar em cada nota que eu tocava.

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