Capítulo 20

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(Felix)

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(Felix)

Dias depois...

Eu já havia despertado a algum tempo, mas algo dentro de mim simplesmente não conseguia se por de pé. Não me sentia forte o suficiente nem mesmo para abrir meus olhos, na verdade. É uma manhã chuvosa, gotículas de água batem contra o vidro da minha janela e atingem diretamente meu coração em uma melodia tão melancólica quanto o meu próprio ser e talvez por isso eu me sinta mais miserável hoje. Suspirando profundamente, sentindo meus pulmões queimarem em resposta, passo meu braço pelo lado esquerdo da cama, a procura do conforto dos braços de Hyunjin, ou de sua respiração quente em meus cabelos, mas não me sinto surpreso ao encontrar o lugar vazio. Já havia notado sua ausência. Com meus ombros doloridos e coração apertado, finalmente reúno forças para me sentar, alongando meu corpo exausto antes de seguir em direção ao banheiro e, ao passar meus olhos pelo quarto no processo, percebo um pedaço de papel deixado sobre a cômoda. Com muita dificuldade, me levanto do colchão macio, deixando para trás as cobertas quentinhas e arrasto meus pés até o móvel, encontrando ali uma folha de caderno rasgada ao meio, com a caligrafia de Hyunjin estampada em suas linhas.

"Bom dia amor. Mel, aquela amiga de Londres, chegou hoje em Seoul e, como combinado, fui busca-la no aeroporto. Vou apresentar a ela a cidade.
Amo você!"

Normalmente, receber um bilhete de Hyunjin seria extremamente reconfortante e faria com que parte desse aperto no peito desaparecesse, mas hoje não foi assim.
Sei que não tenho o direito de cobrar nada dele, já que não cheguei a mencionar o quão ruim o dia de hoje seria para mim, mas é difícil aceitar que não terei o seu abraço quando mais preciso. Eu não consigo vencer a tristeza que toma conta de mim e sinto que estou novamente apenas suportando essa dor, que não tem nenhuma ligação com essa mulher. Mélanie.

Eu tenho plena confiança em Hyunjin e no amor que sentimos um pelo outro, o que me fere é não poder compartilhar com ele toda a minha angústia. Depois de checar as horas no relógio digital posicionado ao lado da cama, rumo em direção ao banheiro percebendo no espelho, o reflexo de uma noite mal dormida.
Deixando Minjoo dormir até mais tarde, tomei um banho mais longo do que o habitual, permitindo que os primeiros fragmentos de lágrimas se misturassem com a água quente que corria a medida que o familiar sentimento de vazio se tornava mais e mais presente.

(...)

Caminho por entre os túmulos espalhados pelo gramado sem pressa alguma, sendo capaz de ouvir claramente os pingos de chuva batendo na terra e sobre meu guarda-chuva parcialmente molhado. Hoje fazem exatos doze anos que meu pai morreu, e como faço todos os anos, vim aqui deixar flores em seu túmulo. Minha mãe esteve aqui ontem para deixar seu buquê de lírios. Já que esta é sempre uma data muito difícil para ela, preferiu antecipar sua vinda, mesmo que isso não fosse diminuir sua dor, e por esse motivo, ela também ficou com Minjoo, para que eu pudesse vir até aqui. Ao tocar meus pés em frente a pedra gélida, observo a lápide bem conservada por alguns instantes, sorrindo levemente para os dizeres gravados ali. "Suas memórias nunca deixam seus ossos. Elas se tornam parte de você. Cuide delas."
Me agacho em frente ao túmulo, colocando ali cuidadosamente a delicada margarida branca que segurava em minhas mãos.

─ Minjoo pediu pra te entregar essa flor, é a preferida dela. ─ rio fraco, contudo não havia nenhum resquício humor presente em meu timbre ─ Sei que o senhor sempre me disse para ser forte, mesmo quando estiver pra baixo, mas, pai, há uma lágrima toda vez que eu pisco. ─ sussurro, quase como uma confissão, ao mesmo tempo que minhas bochechas se umedessem com as lágrimas grossas e salgadas que contornavam meu nariz ─ Eu estou em pedaços, rasgado, mas o senhor sempre me ensinou que um coração que está quebrado é um coração que tem sido amado. Você foi um anjo na forma do meu pai e quando eu caí você esteve lá me segurando e eu espero de coração poder ver o mundo como você viu, porque eu sei que uma vida com amor é uma vida que foi vivida. Você costumava ser a lua, e dizia que a mamãe era o sol e eu era a sua estrelinha, mas agora eu construí a minha própria galáxia e eu a vejo toda vez que olho pra minha filha.

Faço uma pequena pausa, sendo incapaz de prosseguir sem que os soluços me interrompessem. Me sentia sufocado.

─ Tenho certeza de que você iria ama-la e seria o melhor avô desse mundo. Eu prometo tentar ser para ela pelo menos metade do que o senhor foi para mim. Eu te amo, pai. O senhor está no meu coração. O senhor está em casa.

(Hyunjin)

Ao chegar em casa naquele final de tarde, me atentei ao fato de todas as luzes estarem apagadas. O silêncio era quebrado apenas pelo barulho suave da chuva que ainda caía lá fora e não pude deixar de notar a pequena bagunça na pia. Caminhei cautelosamente até o quarto de Minjoo que estava com a porta aberta e encontrei a pequena deitada em sua cama, aconchegada entre suas cobertas grossas. Sorri de forma boba e resolvi me aproximar para deixar um beijo em sua testa, sendo surpreendido pela pequena, que abraçou meu pescoço, mantendo seus olhos bem atentos a mim.

─ Oi papai!

─ Oi estrelinha. ─ sorrio, me agachando ao seu lado ─ Por que está na cama a essa hora? sabe onde o seu papai Felix
está? ─ questionei, acariciando levemente seus fios escuros, não deixando de notar o quão perfeita ela é, olhando para seus pézinhos, mãozinhas, seu rostinho rechonchudo e delicado, sinto seu coração batendo dentro de mim e sinto um amor que eu simplesmente não consigo acreditar.

─ O papai tá no quarto. ─ respondeu, mantendo seus olhinhos fechados ─ Ele chorou bastantão hoje.

─ Porquê, estrelinha? ─ questionei quase que imediatamente, sentindo a preocupação tomar conta de mim.

─ Hoje é o dia que o vovô morreu. ─ ela sussurra, parecendo incapaz de o falar em um tom mais alto e, ao processar o que havia escutado, sinto um enorme nó na garganta.
Hoje definitivamente não havia sido um dia nada fácil para Felix e eu deveria ter estado aqui para apoia-lo. Na verdade, eu queria ter estado aqui e agora me sinto péssimo.

─ Você precisa dormir, filha. ─ murmuro, me inclinando na direção da pequena e depositando um beijo em sua testa ─ Bons sonhos, tudo bem?

─ Bons sonhos papai.

Após desejar boa noite para Minjoo, segui até o final do corredor na ponta dos pés e encontrei a porta do quarto entre-aberta, me permitindo ver Felix encolhido entre os cobertores por um feixe de luz vindo da janela. Adentrei o cômodo silenciosamente e, de início, até poderia deduzir que ele estivesse dormindo, mas seu choro baixinho e respiração desregulada o denunciaram.
Depois de me livrar dos sapatos e da jaqueta que usava, me deitei na cama, me aconchegando ao seu lado no colchão e levei uma de minhas mãos até sua cintura, puxando-o levemente para mais perto. Ele não relutou, na verdade, Felix virou-se em minha direção e passou seu braço pelo meu tronco, entrelaçando suas pernas as minhas.
Abracei-o corretamente e, com uma de minhas mãos, passei a acariciar suas costas por cima da camiseta larga que ele vestia, movimentando a ponta de meus dedos por toda a extensão de sua coluna, ainda sentindo suas lágrimas umedecerem meu pescoço, onde ele escondia seu rosto. Felix não parecia querer conversar. Não agora, e eu iria respeita-lo. Vez ou outra, apertava-me um pouco mais entre seus braços, como um pedido silencioso para que eu ficasse, e estava tudo bem, por que eu queria e iria ficar ali.
Iria ficar ao lado dele e iriamos enfrentar juntos essa tempestade.

(...)

ᴀғᴛᴇʀ ᴛʜᴇ sᴛᴏʀᴍ❄ 𝟐° 𝐓𝐞𝐦𝐩𝐨𝐫𝐚𝐝𝐚 | ᴠᴇʀsᴀ̃ᴏ ʜʏᴜɴʟɪx ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora