i looked into his eyes and knew what was coming.

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billy loomis
abril de 1996, woodsboro high.

Aqueles corredores da escola sempre me pareciam sufocantes. Não pela multidão que se arrastava como uma manada sem rumo, mas pelo vazio de sentido que pairava no ar. Tudo o que eu fazia era com propósito, mas ao meu redor, todos pareciam flutuar, sem direção. Eu, pelo menos, sabia o que queria e o que precisava fazer.

Depois do último debate, eu estava cansado. A sala do clube de debate era um santuário para aqueles que entendem a arte da palavra, um lugar onde o poder reside na lógica e nas ideias bem articuladas. Para mim, é o único espaço onde tenho controle absoluto, o único lugar em que eu conseguia organizar meus pensamentos, argumentar até esgotar o oponente. Mas hoje, meu oponente havia sido fraco, patético, um desperdício de tempo.

E mesmo lá, não consigo afastar uma sensação incômoda, uma tensão persistente que se agarrava ao meu cérebro e parecia corroer minhas entranhas sem motivo algum, como um parasita que pouco a pouco começava a degenerar meus neurônios.

Talvez estivesse mesmo.

Mais cedo naquele dia, eu tinha recebido uma ligação do meu pai. O que por si só já era estranho, desde seu término com a mamãe, ele nunca mais havia trocado uma palavra comigo. Estava bêbado, o que mais eu podia esperar? Ficou me xingando durante longos dez minutos, falando coisas sem sentido onde tudo o que eu conseguia fazer era me calar e sentir desprezo. Nunca tivera um bom relacionamento com seu pai, de fato, mas as coisas antes eram diferentes.

Quando era criança, as coisas eram diferentes. Parecia que ao menos seu velho se importava com ele, se importava com sua mãe. Antes de decidir traí-la com uma vagabunda qualquer. Bom, isso era do caralho e obviamente iria refletir em Billy.

Mas não era como se o relacionamento entre seus pais tivesse sido o melhor, quer dizer, as brigas eram frequentes e desde cedo Loomis aprendeu que não devia se meter, uma vez que seu pai lhe deu uma boa bofetada no rosto. Mas Billy sempre conseguia ouvir a discussão e o som dos pratos quebrando lá de cima, no seu quarto, enquanto ansiava por fazer qualquer coisa a respeito.

E hoje, ao sair da sala, meus pensamentos ainda estavam em ebulição quando esbarrei em Stuart Macher no corredor. Ele era o típico garoto rebelde, com suas roupas rasgadas e o cabelo tingido de uma cor que ele provavelmente achava subversiva. Era um reflexo perfeito do caos que ele trazia consigo por onde passava.

Billy parou abruptamente ao sentir o impacto contra seu ombro. Ele ergueu os olhos e encontrou o rosto de Stu, com aquele sorriso cínico que o irritava até o osso.

— Olha por onde anda, idiota.  - Murmurei, enquanto podia sentir a raiva pulsando sob minha pele. Eu já estava à beira do limite, e ele, com seu jeito desleixado e provocador, era a última coisa que eu precisava.

Stu ergueu uma sobrancelha e deu aquele sorriso irritante, cheio de desprezo.

— Relaxa aí. Eu não sabia que o Sr. Billy Perfeito Loomis se importava tanto com toques casuais.

— Você é um desperdício de espaço, Macher.  - Respondi.

Stu apenas sorriu mais largo, aquele sorriso que parecia carregar todo o desprezo do mundo. Sem dizer mais nada, ele se afastou, deixando Billy fervendo de raiva.

Odiava aquele tipo de gente – insolente, sem propósito, vivendo um dia após o outro sem planos ou ambições.

Gente como Stu Macher.

E ao longo da semana, o comportamento de Stu só piorou. Ele parecia se divertir com a ideia de me irritar, como se isso fosse algum tipo de jogo para ele. Mas para mim, cada encontro era como uma nova ferida sendo aberta.

Na terça-feira, eu estava saindo da biblioteca quando vi Stu encostado em uma das estantes, rindo com seus amigos. Assim que passei por ele, senti algo bater na minha perna. Olhei para baixo e vi uma bolinha de papel. Ignorando, continuei andando, mas então veio outra, e outra.

— Ei, Loomis! - Stu gritou. — Quer saber o que eu escrevi nessa? É um convite pra tu relaxar um pouco, cara. Você parece tenso.

Sem dar a ele a satisfação de uma resposta, continuei andando, mas por dentro, cada bolinha de papel aumentava minha raiva.

Já na quarta-feira, as provocações subiram de nível. Eu estava no refeitório, almoçando sozinho, quando senti alguém se aproximar. Era Stu, claro. Ele se sentou na minha frente, sem ser convidado, e começou a falar como se fôssemos amigos.

— Então, ouvi dizer que você adora debates. Deve ser bom conseguir sempre a última palavra, né?  - Ele disse, com aquele tom de voz que fazia parecer que ele estava zombando de tudo que eu representava.

"Eu não tenho tempo para suas idiotices, Macher," respondi, tentando manter a calma.

— E se você começar a debater com o que tem no meio das minhas pernas?  - Stu lançou sua frase, junto de um sorriso muito perturbador.

Eu ergui o meu olhar até ele e o encarei em completo silêncio, até que ele desse um sorriso ladino e mudasse de ideia. 

— É brincadeira. Porra, cara, voce precisa aprender a brincar ou vai acabar enlouquecendo!  - Ele voltava a dizer, talvez tentando aliviar o clima.

Mas eu me calei.

Cada encontro com ele era como se eu estivesse tentando atravessar uma tempestade sem ser molhado. Ele sabia exatamente como me provocar, como me tirar do sério, enquanto ele se divertia às minhas custas.

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