Pais E Filhos

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Roberto Nascimento's POV

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Roberto Nascimento's POV

Desde aquela madrugada ainda não tive oportunidade de conversar com o Rafael, ou melhor, ainda não consegui encontrar a melhor maneira pra isso. Rosane disse que eu preciso fazer isso logo. Ela pode até estar certa, mas lidar com os jovens de hoje em dia tá sendo mais difícil que trocar tiro com bandido em cima de morro.

Estaciono meu carro próximo ao prédio onde Rosane mora, é um bairro nobre do Rio de Janeiro, não é um lugar onde se tem muita criminalidade nem algo do tipo. É, eu sei, raridade aqui no Rio até mesmo pra zona sul.

Logo já me vejo na porta do apartamento apertando a campainha. Alguns segundos depois ela atende, abre um sorriso meio estranho e me permite passagem para entrar.

Eu não sei o que foi, se foi o encanto que acabou ou ela só mudou mesmo, mas não consigo achar mais ela bonita. É meio estranho perceber isso agora. Eu costumava ser fascinado pela beleza dela e agora, não passa de uma mulher comum com quem eu tive um filho. É estranho pra caralho mesmo.

— O Rafa 'tá no quarto. — ela diz indo pra cozinha. Parece estar preparando o almoço ou algo assim. O cheiro até que é bom, acho que o divórcio fez bem mesmo pra ela, aparentemente aprendeu até a cozinhar.

Caminho pelo apartamento chegando na porta do quarto do Rafa, ela 'tá meio aberta e pela fresta consigo ver ele deitado na cama com fones de ouvido. Dou três batidas na porta quando escuto um "entra" vindo dele.

Abro a porta fechando logo em seguida assim que eu entro. Rafa se ajeita na cama e eu me sento na beirada. Suspiro procurando uma forma de iniciar a conversa até que ele começa a falar primeiro.

— Olha pai, eu sei o que o senhor vai dizer mas... — antes que ele possa continuar a falar, eu o interrompo apenas balançando a cabeça negativamente.

— Não Rafa, você não sabe. — eu olho pra ele que agora parece confuso com o que eu acabei de dizer. — Eu não vim aqui brigar contigo nem nada não. — a expressão no rosto dele relaxa e posso até ver um pouco de esperança nos seus olhos. — Mas Rafa, não posso deixar de dizer que fiquei pistola quando tua mãe me falou que você tinha subido morro pra baile funk. Eu não te ensinei a ser tão irresponsável assim parceiro. — meu tom de reprovação imediatamente tira o sorriso dele.

— Foi mal pai, de primeira eu não quis ir não. Eu 'tava num rolê com uns amigos e aí a Letícia jogou na roda que tava tendo baile funk no Vidigal e queria ir só pra saber como era e tudo mais. — ele começa se explicar.

— Pera aí, quem que é Letícia mesmo? — eu pergunto honestamente. Dos poucos amigos que eu conheço do Rafa, esse nome é novo e definitivamente não é o da menina que ele 'tá ficando. O nome da garota é Jennifer.

— Uma amiga da faculdade. — ele responde rápido.

— A tal Jennifer não 'tá metida nisso não? — minha pergunta é objetiva e direta.

— Não pai, a Jennifer nem sonhava que eu ia aparecer por lá. — ele diz e agora o confuso sou eu. — Ó pai, não é porque ela mora em uma favela que ela é metida com coisa errada, beleza? O senhor deveria dar uma chance pra conhecer ela. Eu conheço essa sua cara de julgamento. — ele aponta pra mim com o dedo.

— Sei não Rafa. — cruzo os braços pensativo com a proposta. — Mas continua aí a história de como você foi parar lá.

— Bom, a galera animou pra saber como era um baile funk até porque nenhum deles tinha ido antes e acabaram me arrastando junto. Eu fui com a ideia de que podia encontrar a Jennifer por lá ou ir até a casa dela que eu nem sabia ainda onde era... — antes que ele continue a falar eu interrompo meio desacreditado.

— Calma aí, Rafa você 'tá me dizendo que subiu morro com um grupo de playboy da zona sul que nunca pisou em uma favela só pra ver uma garota? — eu pergunto contextualizado tudo da forma como eu entendi. — Que isso rapaz? Já pensou nas mil coisas que poderiam ter acontecido se a tua mãe não tivesse me ligado?

— Calma pai. Deixa eu continuar. — ele diz e eu apenas continuo prestando atenção de modo sério. — Eu liguei pra Jennifer pra saber onde era a casa dela, ela disse que não 'tava lá, disse que tava passando a noite com uma tia no hospital. Eu contei onde eu 'tava e foi aí que a mãe ficou sabendo e ligou 'pro senhor. A Jennifer avisou ela. Quando o Matias me achou eu já 'tava até indo embora. — ele diz colocando os fones de ouvido na mesa do lado da cama.

Talvez eu tenha me precipitado em dizer que quem metia o Rafa em furada era a menina, claramente as más influências estudam com ele e tem apartamento no Leblon. Agora a ideia de conhecer ela não parece ser tão ruim.

O Rafa tem a mente jovem ainda e de certa forma, inocente. Meu filho ainda não vê maldade em ninguém e confia em qualquer um de olhos fechados, a criação dele teria sido muito diferente se tivesse crescido sobre a minha guarda. Mas eu não culpo a Rosane por ele já ter dezoito e ainda ser assim, do mesmo era quando tinha sete anos. Rosane se meteu com um homem que não tem culhão o suficiente pra criar o meu filho junto com ela da mesma forma como eu criaria.

— Essa Jennifer aí não parece ser tão ruim mesmo. — eu digo com desdém e Rafael abre um sorriso.

— A maioria das confusões que eu me meto ela só 'tá junto porque eu puxo ela. — ele confessa. — Aquele lance com a maconha, eu assumi por ela porque a maconha nem era dela. Uma fodida da faculdade colocou na bolsa dela e chamou a polícia. — ele diz irritado.

— Da mesma forma, essa Jennifer deve ser muito gostosa pra você assumir maconha na minha frente. — eu brinco me lembrando do dia em que aconteceu. Rafa ri depois disso. — Tirei o dia de folga hoje, chama ela pra almoçar com a gente hoje, tem um restaurante perto da praia que tem a comida ótima. — eu me levanto e o meu filho faz o mesmo.

— Obrigado por dar uma chance, pai. — as palavras vindas dele de alguma forma me emocionam, e o seu abraço em seguida me deixa vulnerável de mais e sinto meus olhos marejarem. 'Tá amolecendo Roberto.

3/5

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3/5

O que acharam do capítulo?? Não se esqueçam de comentar e deixar a estrelinha!! Beijinhos 💗

𝗦𝗼𝗺𝗲𝗼𝗻𝗲 𝗢𝗹𝗱𝗲𝗿 ༄ 𝘾𝙖𝙥𝙞𝙩𝙖𝙤 𝙉𝙖𝙨𝙘𝙞𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤Onde histórias criam vida. Descubra agora