Juan Magalhães
Mamãe acariciava o rosto da minha irmã sussurrando palavras bonitas como fazia conosco quando éramos crianças, queria tirar essa dor dela e passar para mim. Mirela era minha irmã e eu a amava, ela sabia dos riscos, dos perigos e mesmo assim quis permanecer lá com Maurílio e seu ódio infinito por ela.
No fim, não sei se ela esperava um milagre ou se queria algo mais de Maurílio que nunca teve. Lucas está longe do caixão olhando o movimento de pessoas que vão consolar minha mãe enquanto fico distante, vejo as famílias vindo até minha mãe e depois a mim relutantes. Mirela sumiu por anos e voltou alegando ter forjado a própria morte para se salvar de Maurílio e seu pai, com o tempo sua história fez sentido por conta das barbaridades de Rossio, no entanto, a história tinha tantos furos e não tinha sentido em muitos pontos.
Com o passar dos anos e das reclamações infinitas sobre Maurílio e a cidade Rossio vinda de Mirela percebi que algo estava muito errado. Os últimos meses foram complicados pela insistência em permanecer em um casamento falido e não desistir, e piorou com Maurílio encontrando Irma, a abordagem mudou, ela queria um apoio inviável. Confesso que a minha paciência com ela tinha acabado, e tudo que queria era parar de ouvi-la reclamar e chorar.
Não aguento ficar aqui com todo esse espetáculo, vou na direção do meu escritório, é insuportável ter essa sensação de impotência, tudo seria diferente se Mirela tivesse me ouvido e voltado para o meu território, sua insistência e desobediência a matou, por mais lastimável que toda essa situação seja, a única culpada pela morte da minha irmã foi ela mesma.
Ao abrir a porta encontro uma das minhas submissas ajoelhada de frente à porta como se estivesse me esperando e soubesse que viria aqui. Quando percebeu que estava aqui permaneceu em sua posição de cabeça baixa sem olhar em minha direção. Sua presença não me irrita, pelo contrário, preciso descarregar toda essa energia ruim que a morte da minha irmã trouxe, a melhor forma é fodendo com força como gosto.
Flora
Mirela não era minha amiga, e nem tampouco gostava dela. Sentia a áurea pesada que emanava dela como se algo me alertasse que não era de confiança. Sua morte pode parecer solucionada já que Maurílio tinha muito interesse que ela morresse, ele nem sequer quis vir ao velório da mãe do seu filho mais velho, provavelmente está comemorando a morte da mulher que não escondia o ódio que sentia.
Minha mãe, senhora Ivete e Margarida Assis estão juntas perto do caixão, meus irmãos conversam com os outros homens das famílias enquanto fico ao lado de Elisa e Celeste que como eu só vieram por obrigação. Desde criança sempre fomos amigas, portanto, esse velório só não está tanto chato por elas estarem aqui.
— Vejam, meninas, Hugo ao lado de Gabrielli, eu sabia que eles iam voltar. Eles são tão bonitos juntos, de verdade, torço muito para que fiquem juntos.
— Eu também, Celeste, apesar de como a história deles começou torço para que fiquem juntos. Gabrielli parece gostar muito dele, e o sentimento pelo que vejo é muito recíproco por parte de Hugo.
Fico em silêncio absorvendo a imagem deles juntos, Gabrielli de todas as filhas da Organização junto com Marcele conseguiu fugir de um casamento arranjado como também de uma vida fadada a traições e mentiras. Infelizmente, Hugo a encontrou, e com uma trama sórdida do destino, senhor Assis se envolveu e as trouxe de volta.
Se eu tivesse a chance de fugir do meu compromisso não pensaria muito e iria embora. Gosto da vida que tenho, amo minha família, o problema é que não me vejo sendo como minha mãe. Ela se casou muito nova, até mais jovem que eu, teve Miguel e após a recuperação do resguardo engravidou de Rafael, logo depois de Emanuel e por fim eu nasci.
Mamãe não teve tempo para ser uma jovem da sua idade, ela estava ocupada demais segurando um bebê no colo enquanto carregava outro no ventre. Meu pai ficava ainda mais rico a cada gestação, se tornando inteligente, poderoso e perspicaz, minha mãe se tornava um borrão perto dele e de sua imponência.
Não quero viver na sombra de ninguém, Celeste parece gostar de ser a mulher de Rafael, meu irmão ama a submissão dela e o jeito como o ama como se fosse um deus. Ele a corresponde com igualdade, mas depois do casamento sei que tudo vai mudar e minha amiga será como minha mãe vivendo a sombra do meu irmão. Fico pensando em Elisa, ela com certeza não sabe ainda sobre o compromisso com Miguel.
Ele tem se aproximado dela, Elisa repele, pois Miguel nunca foi de tentar fazer amizade ainda mais com uma mulher. Tomara que minha amiga consiga descobrir o que está acontecendo e fuja desse destino. Miguel consegue ser uma cópia fiel do nosso pai principalmente quando quer manipular as situações a seu favor.
— Está calada hoje, Flora, o que foi?
— Só pensativa. Acho que vou dar uma volta pela casa, vocês vêm comigo?
— Não. Vamos ficar aqui, não demore, o cortejo para o enterro não vai demorar a sair.
Apesar de anos sumida, o velório está repleto de membros das cinco famílias acredito que seja em apoio ao Maurílio e a sua mãe, vou passando pelas pessoas sorrindo de maneira polida, recentemente venho tendo cada vez menos vontade de conviver com as famílias. Vou até o longo corredor da casa, o lugar mais vazio possível, sei que ando me isolando, sem muita paciência para grandes multidões, a questão é que talvez a proximidade do meu aniversário tenha me deixado chateada por saber que logo vou ter que me casar com alguém que nem sequer conheço.
Juan é um total desconhecido, alguém que via nas festas e jantares promovidos pelo meu pai e nada mais que isso. Nunca conversamos além dos cumprimentos normais para dois desconhecidos, não sei sua comida preferida nem tampouco ele sabe algo sobre mim. Somos completos estranhos um para o outro, provavelmente vai se casar comigo por pensar que poderei dar a ele muitos filhos por ser filha de uma mulher que teve quatro.
Ouço um barulho ao fundo do corredor, a luz da sala, diferente das outras, está acessa, minha curiosidade me leva até lá, a porta está entreaberta deixando uma fresta, fico assustada de imediato quando vejo Magalhães enforcando uma moça, ela está com a boca tampada e os olhos vendados enquanto Juan a enforca à medida que transa com ela.
Ele está nu da cintura para baixo em cima da mulher enquanto usa uma gravata para enforcá-la, ela está quase sufocando e perdendo o ar com a forma que ele aperta o pescoço dela, parece que Juan está fazendo isso comigo também pois consigo sentir a agonia dela em tentar respirar e não conseguir. De repente, Juan bate no rosto dela com toda força, fico assustada com toda a cena de como ele parece gostar do que faz e da violência que utiliza.
Afasto-me lentamente da porta tendo medo de fazer barulho, quando alcanço uma distância segura começo a correr acabando por esbarrar em Gabrielli, ela não está com Hugo, agradeci a Deus por isso. Ela percebeu como estou apavorada e me abraçou, me agarrei a Gabrielli como se fosse um bote salva-vidas.
— O que houve, Flora?
— Nada, não houve nada, só continue me abraçando, por favor. Fica comigo, Gabrielli.
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A Chance - A Organização Livro 2
Chick-LitPensei que depois do engano teria uma chance de ser feliz com a mulher que sempre amei. Estava enganado, na Organização se é cobrado pelas falhas cometidas de uma maneira ou de outra, jamais um erro pode ser perdoado, ainda assim não vou desistir de...