Brasil
Aparecida
Não tinha mais lágrimas para chorar por tantas vezes ter implorado para me libertar e deixar meu irmão em paz. Vejo Cido ferido e debilitado, quero ir até ele e socorrê-lo, dizer que tudo dará certo no final mesmo sabendo que talvez nosso martírio nunca tenha fim. Edgar está nervoso, olhando para mim como se quisesse me dizer que sou dele e nada poderá mudar isso.
— Assine, cadela, não vou mandar mais. A próxima recusa seu irmão vai sofrer as consequências.
— Não, por favor, não faça isso. Edgar, pense bem: isso é pecado. Sabe bem que não posso mais ser sua, me deixe ir com Cido, não vai mais saber sobre nós. Eu juro que nunca mais vai nos ver, só esqueça tudo isso!
Ele estende o papel na minha frente, ao perceber minha recusa um dos seus homens chuta meu irmão já caído no chão, Cido acena com a cabeça para não assinar, mas não posso deixá-lo morrer nas mãos de Edgard.
— Pecado? Só porque um teste maldito disse que você e seu irmão viciado são meus irmãos não muda o fato de você pertencer a mim. É só uma bastarda imunda que não entende o seu lugar, assine logo antes que eu perca a paciência e mate seu irmãozinho querido.
Fechei os olhos deixando as lágrimas que pensei não existir mais escorrer pelo meu rosto, Cido não merece morrer, sou eu que tenho que morrer. Foi apenas eu que me deitei com meu meio-irmão como uma vagabunda, tentando resistir a sua devassidão e falhando todas as vezes que tentei.
— NÃO ASSINA ESSA MERDA, IRMÃ, NÃO SE SACRIFIQUE POR UM BOSTA FEITO EU, POR FAVOR.
Edgar iria matar meu irmão, disso não tinha nenhuma dúvida, seu sorriso cruel ao me ver assinar a certidão de casamento é o que mais me dói. Ele não vai parar enquanto não restar nada de mim para lembrar, Edgard me quebrou em vários pedaços montando e desmontando ao seu bel-prazer.
Pensei que se cansaria com o fim da sensação de novidade que traria, estava enganada. Alguém que se enjoa e se entedia não se casaria com seu objeto de diversão ou mesmo depois de saber a verdade permaneceria comigo, Edgar me quer mesmo que isso custe sua alma.
— Parabéns, cadelinha, demorou, porém entendeu seu lugar. Agora, tirem esse monte de bosta daqui, quero comemorar minha vitória e meu casamento com minha linda cachorra adestrada.
Não queria que ele tocasse no meu corpo de novo, vou perder a minha alma junto com ele por continuar essa relação incestuosa.
— Eu imploro que deixe eu me despedir do meu irmão, Edgar, sei que não vai me permitir vê-lo nunca mais, por isso peço, me deixe abraçar meu irmão gêmeo pela última vez.
Ele permitiu contra a vontade, abracei Cido me sentindo a pior das irmãs por não ter cuidado dele, por não ter ouvido suas dores ou entendido seus traumas.
— Seja forte, Ci, você é muito mais corajosa e forte do que pensa. Eu te amo, minha irmã, me perdoa por ter colocado você nesse inferno.
— Não precisa pedir perdão por nada, eu te amo, meu irmão.
O braço direito de Edgar levou meu irmão como se fosse um saco de lixo, seguro minha correntinha da Virgem Santíssima esperando que Ela me proteja de agora em diante. Nem mesmo meu pai biológico pôde evitar que Edgard continuasse com essa loucura, quem sabe Deus e a Virgem possam pará-lo.
Edgar
Não podia deixá-los vencer mais uma vez, de novo não.
Aparecida é minha, oficialmente minha. Ninguém pode tirá-la de mim, seu olhar é de medo e horror, não me importo que seja minha meia-irmã, o que fiz com ela e o que ela mudou em mim não podem terminar por conta da traição do meu pai contra minha mãe com a empregada.
— Agora você é só minha, cadelinha, para toda vida até quando eu ou você estivermos mortos. Queria muito fazer uma grande festa, casar na igreja mais rica da cidade, no entanto, como sabe, não poderei assumir você perante todos porque além de ser uma bastarda, é minha meia-irmã e também é pobre, o que vão dizer de mim?
De cabeça baixa como gosto de vê-la, Aparecida não responde apenas escuta calada cada palavra dita. Sabe que se responder as consequências serão terríveis para ela e para o inútil do seu irmão gêmeo.
— Vá para o quarto! Tome um banho e fique bem cheirosa pra mim, quero comemorar que você agora é minha.
Ela seguiu seu caminho em direção à porta, antes a chamo para olhar a minha cadelinha, Aparecida vem obediente e dócil, se ajoelha na minha frente como sabe que gosto, levanto seu rosto para ver sua face manchada pelas lágrimas.
— A você, nunca mais vai faltar nada. Terá proteção, roupas, joias, bolsas e tudo do mais luxuoso para que seja linda e feliz. Se continuar seguindo minhas ordens posso até permitir que continue indo à igreja que tanto gosta, somente se permanecer obediente e dócil como eu aprecio. Você só tem a ganhar ao se comportar bem, agora vá e fique linda para mim, minha cachorra!
Aparecida se levanta indo embora. Sou o homem mais feliz do mundo, ninguém poderá tirar essa sensação plena de vitória de mim. Nunca fui um homem moral que teme perder a alma em um futuro próximo, quero ser feliz agora e saciar minhas vontades e desejos. Aparecida é tudo que sempre quis, e agora que a tenho, não vou aceitar que vá embora.
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A Chance - A Organização Livro 2
ChickLitPensei que depois do engano teria uma chance de ser feliz com a mulher que sempre amei. Estava enganado, na Organização se é cobrado pelas falhas cometidas de uma maneira ou de outra, jamais um erro pode ser perdoado, ainda assim não vou desistir de...