Celaena Sardothien andava pelas ruas de Renaril, envolta em escuridão. Para o pedestre comum, ela poderia não passar de uma sombra caliginosa, projetada em uma rua mal iluminada. Para os mais observadores, ela apararentava como uma pessoa com quem não se pode brincar; uma pessoa que não teria escrúpulos em trazer você para seu casulo escuro sem intenção de deixá-lo sair vivo. Em ambos os casos, Celaena caçava sem interferência.
Essas ruas secundárias eram o epítome da sujeira. Esgoto e poças de excremento jaziam sob quase todas as janelas; e as ruas de paralelepípedos precisavam de sérios reparos. Os edifícios estavam rachados e deformados como se fossem destruídos. A luz de velas era um bem raro. As palhaçadas bêbadas das almas infelizes que viviam neste mundo quebrado podiam ser ouvidas de todas as direções. A esta hora da noite as tabernas baratas estavam cheias até a borda com aqueles que procuravam afogar os seus problemas até o sol nascer através das grades da sua prisão, transformando este inferno em um verdadeiro pesadelo de pedra e carne podres.
Mesmo como assassina de Adarlan, ela evitou essa parte de Renaril, atendendo às advertências de seus mentores. Em nos últimos três anos, o nível de criminalidade piorou, mas nada disso importava agora – era aqui que ela, na pedreira se aninhava.Celaena sabia que quem cometeu o crime não morava no palácio — ninguém lá, por mais corrupto que fosse, era tão habilidoso ou implacável. Para um aristocrata ou trabalhador, algumas facadas no coração ou uma garganta cortada teriam feito o mesmo trabalho. O que ocorreu foi uma forma distorcida de arte – uma prática doentia da qual ela já havia participado. Ocorreu a Celaena que isso poderia ser alguma forma de punição por seus crimes hediondos anteriores, mas ela não tinha permitiu que a ideia superasse a tarefa em questão.
Ela sabia que, uma vez dada a permissão para o abate, um assassino seria deixado à própria sorte. Se tivesse. Já fazendo algum tempo desde sua última morte, eles demorariam mais e se deliciariam com isso, sendo tão eficientemente criativos quanto possível.
Desde a sua captura, o mercado de assassinos estagnou consideravelmente – ninguém se atrevia a contratar e nenhum assassino queria colocar seus serviços à venda. Nesse sentido, a sua escravização teve o efeito que o rei queria: assustou muitos, que abandonaram suas profissões e colocaram muitos nas ruas, ansiando por ouro e sangue. Ninguém havia subido para seu trono vazio nos últimos três anos - em vez disso, todos eles desmoronaram.
Agora, neste pedaço de terra estragado, todos os assassinos, empobrecidos e marginalizados de Adarlan estavam reunidos, vivendo juntos em um mundo onde cada dia trazia mais dor e horror - para sempre presos em uma prisão cinzenta de miséria e desespero.
Era aqui que ela encontraria o que vinha procurando nas últimas horas. Foi aqui que deu o primeiro passo na direção da vingança que seria tomada. O assassino responsável pelo assassinato era habilidoso e provavelmente recebeu uma quantia elevada por seus serviços, o que eventualmente o levaria a uma taverna. Ela sabia em quais lugares ele seria encontrado - as coisas quase que não tinham mudado em alguns anos. O assassino não teria deixado Renaril – ah, não, claro que não – especialmente agora que o mercado parecia estar se abrindo mais uma vez. Se houvesse uma pessoa rica que estivesse disposta a pagar pelo assassinato de uma princesa indefesa, poderia haver mais, muitas mais, que estavam esperando há muito tempo.
Celaena virou uma esquina e olhou para a rua à sua frente. Sim, foi esse. À luz de velas e bêbadorisadas vazavam das poucas janelas de uma taberna enterrada entre duas casas inclinadas. Alguns bêbados espalhados na rua lá fora — mortos ou simplesmente dormindo, ela não sabia.Ela emergiu das sombras como nada mais do que um fiapo de algum demônio infernal, visto e desaparecido em um piscar de olhos.
A taverna cheirava fortemente a cerveja e a corpos sujos. Estava estrategicamente iluminada: brilhante perto das mesas da frente e do bar, mas escura nas costas para aqueles que procuravam não ser vistos de um olho através do portal de luz.
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RAINHA DE VIDRO (A PARTIR DO CAPÍTULO 24)
FantasíaEncontrei a versão que temos no Wattpad de Rainha de Vidro, porém, por algum motivo a autora parou de postar. Para achar até o capítuto 24, é só ir no perfil da @ash_ryver. Achei o PDF completo e estarei traduzindo pra vocês enquanto leio. Só peço...