Becky abriu a porta usando o ombro enquanto segurava um buquê de flores frescas em uma das mãos, uma sacola de compras na outra e o livro de Freen debaixo de um dos braços. A princípio, ela tentou empurrá-la com a cabeça, mas isso a lembrou dolorosamente do golpe que havia batido na prateleira da sala dos fundos naquela manhã. E, consequentemente, lembrou Freen. Ela sorriu.
– Achei que você não viria comer – ouviu-se uma voz de mulher vinda da cozinha.
– Eu não tenho muitos lugares para ir – disse a garota, ofegante, enquanto espalhava as coisas como podia sobre a mesa. – Isso pareceu muito triste agora que penso nisso – ela murmurou, mais alto do que planejava.
– A verdade é que sim – disse a mulher, aparecendo na sala enquanto enxugava as mãos num pano.
– Hoje me pediram para entregar isso para você – disse ela, entregando o livro à velha, que pareceu não entender até ler o título. Seu olhar se iluminou.
– Então você viu Freen – ela disse, sorrindo, baixando os óculos que estavam em sua cabeça, onde seguravam seus cabelos perfeitamente brancos. – Olha isso… – admirando o livro. – Ela conseguiu. Sempre soube que ela tinha um talento extraordinário e que no final escreveria a sua história. – Ela acariciou a capa novamente. – Que maravilha – murmurou enquanto virava o livro para ver uma jovem Freen com um meio sorriso na contracapa.
– “E a água voltaria para aquele lugar com todas as lembranças e vidas que não foram vividas. Voltaria sem pedir permissão ou perdão, sempre voltaria, e lá estaria, esperando que a chuva se fundisse com ela e corresse para o mar, subisse ao céu e caísse na terra para voltar para aquela menina de olhos tristes, que sempre a esperou.” Eu não considerava Freen uma romântica – disse a velha depois de ler a contracapa do livro.
– O livro não fala de amor – disse Becky. – Pelo menos não no sentido estritamente romântico.
– Você já leu? – Becky assentiu. – Mas como isso é possível?
– Ontem fui à livraria e comprei. Eu li esta noite – ela disse, encolhendo os ombros. – Não me olhe assim, eu não estava com sono.
– E o que você achou? – perguntou a velha, olhando para Becky por cima dos óculos.
Becky suspirou. O livro de Freen foi maravilhoso. Foi comovente, triste, melancólico e, ao mesmo tempo, cheio de esperança e luz. Ela sentiu seu peito apertar.
– Foi bom – disse a garota, tentando parecer muito menos entusiasmada do que realmente estava.
– E Freen?
– Desculpe, o quê?
– O que você achou de Freen? – Essa pergunta a pegou desprevenida. E isso é algo que normalmente não acontecia com Becky.
– Por que eu deveria achar alguma coisa? – disse ela, colocando as mãos nos bolsos da calça de moletom manchada de tinta porque, de repente, não sabia o que fazer com elas.
– Vocês devem ter conversado, digo, não sei. Não consigo imaginá-la jogando o livro em você pela porta e fugindo – disse ela, tirando os óculos com um suspiro. – Não me lembro dela ser muito atlética, sinceramente.
Becky ficou sem saber o que responder. O que ela achou de Freen? A imagem de seus longos cabelos negros sob o boné e seus braços balançando adoravelmente ao lado do corpo agrediu seu estômago.
– Não, ela não jogou o livro em mim. Você acertou – disse Becky, revirando os olhos. – Não sei. Achei muito legal. Um pouco caótica, mas imagino que seja algo que os artistas têm.
– E… você já pensou em falar com ela de novo? – Becky quase engasgou com a própria saliva. A velha não tinha certeza se queria saber a resposta para essa pergunta.
– Ainda não pensei nisso – mentiu ela. – Gosto muito do projeto de floricultura, e essa será minha principal ocupação enquanto estiver aqui. Tenho muita coisa para consertar antes de poder abri-la novamente – ela suspirou. – Além disso, como vou dizer “Ei, Freen, olha, não nos conhecemos, mas estou sozinha em uma nova cidade e agora estou perseguindo você depois de ter lido seu livro em seis horas.” Parece demais até para mim.
– Bom, me parece um começo – disse a velha, passando as mãos enrugadas pelos cabelos.
Becky suspirou de frustração. Ela não ia fazer isso. Além disso, ela tinha planos para aquela noite, embora Patty não soubesse disso. Becky mudava frequentemente de cidade durante vários meses, e sua primeira parada era sempre a mesma. Desta vez não seria diferente.