Quando o despertador tocou, Freen estava olhando para o teto há vários minutos. O desconforto no estômago não havia passado. Na verdade, ela poderia jurar que se sentia ainda pior agora porque também sabia que havia deixado Becky com a palavra na boca e se sentia mal por isso também. Freen tinha o hábito de se sentir mal com tudo, na verdade. Mas qual foi o motivo dessa confiança agora em Irin que a fez convidar Becky para ir com eles? Elas talvez se falassem regularmente? Mas por que ela estava tão brava com isso? Ela rolou na cama. Já estava acordada há muito tempo, mas não tinha vontade de se levantar, porque levantar significava se arrumar, sair de casa e, portanto, ver Becky. E com Irin. E, honestamente, ela preferia ser atropelada por um ônibus naquele momento.
Ela ainda estava usando seus fones de ouvido – nos quais não havia absolutamente nada tocando – quando dobrou a esquina da rua onde ficava a livraria. Heng estava na porta, rindo e gesticulando muito com as mãos, como se estivesse contando algo muito engraçado; e, encostada na parede, um tanto curvada enquanto ria com vontade, estava Becky. Mesmo com os fones de ouvido e seu recurso de isolamento de ruído, Freen podia ouvir o som da risada de Becky entrando furtivamente em seus ouvidos e fazendo cócegas em seu cérebro. Seu cabelo estava preso, deixando cair vários fios sobre seu rosto, que agora dançavam diante de seus olhos com os espasmos das risadas. Ela estava com as mãos ao lado do corpo enquanto tentava recuperar o fôlego, e Freen sentiu uma pontada de inveja; ela queria fazê-la rir daquele jeito.
– Bem, com a pequena atuação que você fez ontem, você está indo mal, filha – pensou ela.
– O quê, admirando a vista? – uma voz disse de repente atrás dela.
– Irin! Caramba, que susto! – Freen pulou.
– Eu sabia que você me ouviria com esses fones de ouvido sem som que está usando. O que aconteceu? Você está perseguindo eles? – Elana apontou para Becky e Heng, que ainda conversavam na porta da livraria, alheios às duas garotas.
– Eu tinha parado por um momento para desligar a música.
– Sim, claro. A música – Irin estava convencida de que Freen não tinha um aplicativo de música instalado.
– Então, você conversa muito com a Becky? – Freen deixou escapar de repente.
– Converso muito? O que você está falando?
– Nada, deixa pra lá.
– Não, me diga o que aconteceu.
– Nada, só me pareceu estranho você ter convidado ela para ir, não sei.
– Você ia fazer isso? – ela perguntou sarcasticamente.
– Bem, sim, a verdade é que eu ia fazer isso ontem à noite.
– Mas você me disse que não queria fazer isso.
– Ok, mas mudei de ideia.
– E eu tenho alguma culpa nisso tudo exatamente porque…?
– Não, não acho que você tenha culpa de nada.
– Então por que você está tão chateada?
– Não estou chateada.
– Claro que não. De jeito nenhum.
– Não, Irin.
- Então o que diabos você está fazendo parada aqui que nem foi dar um alô? – Freen suspirou enquanto finalmente tirava os fones de ouvido e os guardava. Ela olhou para Becky e de volta para Irin.
– Não sei, não queria interrompê-los.
– Aqueles dois?
– Acordei um pouco tonta hoje, Irin, me dê um tempo – disse ela, indo em direção à porta da loja na esperança de sair daquela conversa.