Os olhos de Freen estavam abertos muito antes do alarme do seu celular tocar naquela manhã. Qualquer um pensaria que ela estaria dormindo depois de passar até às quatro da manhã olhando para o teto e se perguntando por que disse a Becky que não poderia ir à floricultura com ela. Tinha que ir trabalhar na livraria, isso era verdade. Mas também era verdade que ela poderia dizer a Irin que estaria ausente naquela manhã para tratar de assuntos pessoais. Embora Freen não soubesse em que ponto Becky se tornara um assunto pessoal.
A garota era bonita, sim. Mas ela estava a ponto de apreciar isso? Não, ela não estava. Era mais como se fosse uma curiosidade. Precisava saber mais, como se quisesse identificar aquela estranha familiaridade que sentiu desde o primeiro momento em que a viu sair daquela sala dos fundos.
E bem, ela era bonita. Bonita era ultrajante.
Freen estimou que Becky devia ser uns quinze ou sete centímetros mais baixa que ela. Ela tinha olhos castanhos e cabelos castanhos claros, apenas descansando sobre os ombros, e Freen ainda estava visualizando como ela estava vestida ontem à noite para a reunião, com uma camiseta branca — apertada, sim, bem apertada — por dentro do vestido jeans e um casaco longo cinza escuro, bastante casual. Ainda a via indo embora com as mãos nos bolsos de trás e com aquele tipo de decepção nos olhos pela recusa em acompanhá-la no dia seguinte.
— Que rosto lindo você tem — disse Irin quando Freen tirou os óculos escuros após entrar na livraria. — Qualquer um pensaria que você estava em uma festa ontem à noite.
— O que?
— E aí? Maratonou de episódios de True Crime?
— Eu não conseguia dormir com tanto barulho — disse Freen, apontando para sua cabeça. Suspirou. — Como vai tudo aqui?
— Bem, normal, você sabe. Organizando o Festival de Arte que você abandonou um pouco por causa da apresentação do seu livro.
— Droga, é verdade. Eu tinha esquecido completamente. Desculpe, Irin, estive muito distraída nos últimos meses.
— Nem se preocupe. É totalmente normal. Ei, e no final você conseguiu dar o livro para Patty?
O estômago de Freen revirou. Droga, pensando em Becky novamente.
— Eh… sim, eu mandei para ela — disse distraidamente, tentando fazer a conversa terminar ali.
— E como ela está, hein?
Freen suspirou.
— Bem… eu não sei.
— Mas como você deu o livro para ela então? — Irin ergueu uma sobrancelha questionadora.
— Isso… vamos ver. Fui até a floricultura e tinha uma garota lá que agora vai assumir e ela me disse que daria para ela — Freen disse tudo isso em uma velocidade surpreendente enquanto arrumava distraidamente a pilha de livros que estavam na mesa à sua frente.
— Espere, o quê?
— Sim, bom, essa garota, Rebecca, bem, ela deu o livro para Patty. Fim da história.
— Freen, não estou entendendo nada. Mas quem é Rebecca?
— Acho que Rebecca sou eu — ouviu-se uma voz perto da porta que Freen reconheceu imediatamente. Ela poderia jurar que seus joelhos cederam um pouco quando tentou virar na direção de onde veio.
A garota se aproximou andando entre as mesas até chegar na altura de Irin. Freen não tinha certeza se ainda respirava. Becky olhou-a diretamente nos olhos por alguns segundos e sorriu antes de voltar sua atenção para Irin.