Freen ficou seriamente preocupada com sua saúde mental quando começou a monitorar de perto os pombos que sobrevoavam a área ao redor da livraria, como se um deles estivesse realmente trazendo uma mensagem de Becky. Dois dias se passaram desde que a garota apareceu propondo aquele jantar e insinuando que voltaria, e Freen estava começando a enlouquecer, pulando toda vez que ouvia a porta da frente, esperando que fosse a garota.
Ela ficou com raiva de si mesma pela quinta vez naquela tarde, quando mais uma vez ergueu os olhos com expectativa ao ouvir a porta. Mas nada, Rebecca ainda não apareceu. E Freen não entendia de onde vinha essa necessidade de saber sobre ela. Principalmente na era da comunicação, onde você podia encontrá-la em qualquer rede social, e ainda assim, lá ela estava sem fazer nada. Para quê? Para manter a magia e que Rebecca realmente tinha que vir vê-la para fazer o jantar acontecer? O que ela era agora, aos quinze anos, fingindo ser interessante? Ela pensou, revirando os olhos.
E ainda assim, o que ela deveria estar pensando? Um encontro? Só de pensar nisso, sentiu um arrepio na espinha. Ela queria um encontro com Becky? E talvez quisesse um encontro em termos gerais? Ela conseguia se lembrar de como era um encontro? Além disso, ela provavelmente estava tomando muitas liberdades pensando que alguém como Rebecca poderia notar alguém como ela. O som da porta a tirou de seus pensamentos novamente.
- Não sei o que você está pensando, mas aposto que não é trabalho - disse Nam, aparecendo na loja. - Muito ocupada?
- Não, na verdade não - ela bocejou. - Já vou fechar mesmo. Você tem tudo preparado? - perguntou Freen. Nam estava partindo naquela mesma noite em um voo.
- Sim, tenho tudo pronto no seu apartamento. Assim que voltarmos, vou pedir um Uber para ir ao aeroporto.
- Lamento que você tenha que pegar um Uber. Pensei que meu carro estaria consertado ainda esta semana.
- Não se preocupe, idiota - disse Nam, com seus sinais de carinho. - Vou sair por um momento até a loja ao lado para comprar uma quantidade desaconselhável de lixo para a estrada enquanto você termina aqui. Já volto.
- Ótimo, me dê cinco minutos - disse Freen, enquanto Nam saía do local com o tilintar dos sinos coloridos que estavam pendurados perto da porta.
Freen se abaixou para desconectar o carregador de celular que tinha embaixo do balcão quando ouviu a porta bater novamente.
- Meu Deus, você é tão rápida - disse Freen, sentando-se.
- Uau, nunca me disseram isso antes - respondeu uma voz que claramente não era a de Nam.
Os cabelos de Freen se arrepiaram quando ela ouviu isso. Ela acabou esfregando os braços para recobrar o juízo quando a viu na porta da livraria com os cabelos soltos, calça jeans preta rasgada e um moletom folgado.
- Ah, Becky - a voz praticamente não saiu da boca dela - Olá.
- Olá, Freen.
Outro arrepio da nuca até a região lombar sacudiu Freen ao ouvir seu nome nos lábios de Becky. O que diabos havia de errado com ela? Becky desceu os dois degraus que separavam a porta do resto do lugar e começou a caminhar em direção ao balcão onde Freen estava, enquanto colocava o cabelo atrás da orelha.
Freen acompanhava os movimentos da garota como se ela estivesse se movendo em câmera lenta e tudo fizesse parte de uma cena de filme. Ultimamente, sua vida lhe dava constantemente essa sensação. De repente, ela não sabia onde colocar as mãos, nem como andar, nem o que estava fazendo.
- O que... como você... como você está, hein? - Freen gaguejou.
- Bem - ela sorriu com suas covinhas. - E você?