O tempo é uma coisa curiosa. Às vezes, acontece lentamente; tanto que parece não avançar. Como aquelas aulas noturnas em que você olhava para o relógio e poderia jurar que o ponteiro dos minutos estava andando para trás. Porém, o tempo voa e escapa por entre os dedos, como se você estivesse tentando agarrar a areia mais fina do mundo. E, outras vezes, o tempo simplesmente para por alguns momentos. Nem o som da água, nem o som distante da estrada, nem os pássaros; nada. Você nem consegue ouvir as pedras sob seus pés porque elas permanecem completamente imóveis.
Os braços de Freen cercaram o corpo de Becky, pressionando-a contra ela, apoiando o queixo no ombro da garota, que demorou a reagir ao abraço. Honestamente, não se esperava que Freen iniciasse qualquer tipo de contato físico, e essa certeza, somada ao enorme desejo que ela tinha de que Freen o fizesse, causou uma dissonância em sua mente que a deixou atordoada.
Quando ela finalmente reagiu, separou os braços do corpo e os levou até as costas de Freen, apoiando a bochecha no ombro dela, respirando o cheiro dos longos cabelos escuros que se moviam levemente com a brisa do rio. Freen percebeu como as mãos de Becky pressionaram levemente suas costas e apertou ainda mais o abraço, virando um pouco a cabeça para esconder o rosto nos cabelos de Becky.
Ela não tinha ideia do que estava fazendo, e esse comportamento foi, de longe, a coisa mais inesperada e espontânea que ela fez em anos. Algo dentro dela a empurrava, e não só isso, agora a impedia completamente de romper aquele contato com Becky que seu corpo parecia querer desde o primeiro dia que aqueles olhos castanhos colidiram com os dela. Freen respirou fundo, sentindo seu cheiro, e a garota sentiu um frio na barriga.
Isso fez todos os cabelos se arrepiarem com a respiração de Freen tão perto de seu pescoço.
— Prometa que não vai fazer aquilo de novo em nenhuma ponte — disse Freen de repente. Isso pegou Becky tão surpresa quanto o abraço.
— Mas, Freen, o que…
— Você apenas me prometa.
Becky fez uma pausa antes de responder. Esse pedido não poderia ser uma coincidência, mas naquele momento ela poderia prometer a Freen que baixaria a lua para ela, estando completamente convencida de que conseguiria isso.
— Tudo bem. Eu prometo a você — ela finalmente disse. Ela pausou novamente, desta vez por mais tempo, sem mover um único músculo com medo de quebrar aquele contato. — Freen — a garota fez um som convidando-a a continuar — Você poderia me prometer uma coisa também? — um novo som de concordância. — Prometa-me que não vai desaparecer.
Embora parecesse impossível que elas pudessem estar mais próximas, Freen apertou ainda mais o abraço, e Becky suspirou; isso estava saindo de seu controle.
— Eu não vou desaparecer — ela sussurrou perto do ouvido dela. — Eu prometo.