Epílogo

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Eu decido minha vida, o que me resta é dar o meu melhor e fazer o que eu puder.
- Suguro Geto

Se me perguntassem há trinta anos como eu imaginava meu futuro, eu teria respondido: Espero que com muito dinheiro.

Eu com certeza nunca imaginaria que estaria assistindo Geto chorar porque nossa filha de vinte e dois anos acabou de casar, e que Mimiko, vestida de noiva, estaria abraçada ao pai tentando consolá-lo. E muito menos que nosso filho Aki também estaria chorando porque sua irmã casou.

Minha outra filha, irmã gêmea e madrinha da noiva, está consolando seu irmão, e Gojo, apenas convidado da festa, também está chorando e sendo consolado pela filha Yumi de dezessete anos. Gojo ficou assim depois que Geto falou para ele parar de rir de sua tristeza, pois em alguns anos seria Yumi no altar casando com um cara que a levaria para longe dele. 

Eu observava a cena tomando meu champanhe calmante ao lado de Utahime, que dava longos goles na sua taça cheia de vinho, balançando a cabeça em negativo junto com seu filho mais novo, que apesar de ter apenas cinco anos, era bem mais maduro que o pai.

— Eu não vou me casar agora, papai. — escuto Yumi dizer para Gojo.

— Mas vai casar um dia. — Gojo soluça. 

— Claro que vou! Você e a mamãe também se casaram, não foi?

— Mas eu já tinha mais de trinta anos!

— Mentiroso, você tinha vinte e oito.

— Isso importa? — mais soluços. 

Utahime do meu lado bufa e deixa a taça com um pouco de vinho na mesa.

— O pai está bem? — Yuta pergunta franzindo o cenho igual à sua mãe faz, e eu acho uma graça. A criança tem cabelos escuros igual Utahime e olhos azuis iguais aos do pai, e assim como a irmã, não foi planejado.

— Está sim querido, só tá dando chilique, igual criança mimada.

— Entendi, e a mana não vai casar, não é?

— Claro que não. — beija o topo da sua cabeça. 

Demorou anos pra Gojo fazer a vasectomia, e um dia antes do procedimento, Utahime falou, infelizmente, com uma riqueza de detalhes, que Gojo quase não a deixou sair do quarto, como se o fato de fazer uma vasectomia fosse o deixar menos onipotente, o que claro teve o efeito contrário quando três semanas depois Utahime descobriu que estava grávida de novo, depois se doze anos.

Gojo passou meses se vangloriando por conseguir esse feito.

Nesse momento começa a tocar uma música lenta, e o marido de minha filha vem chamá-la para dançar essa melodia, e assim ela o faz, se afastando de Geto que lançar um olhar letal para o genro, que apenas sorrir para Geto, já acostumado com esses olhares. Também me levanto e vou onde meu filho chorando, e escuto Nanako dizer para ele:

— Ela não vai nos abandonar. 

— Vai sim! A casa dela é muito longe da nossa.

— Até parece que o seu pai não vai lá o tempo todo, querido. — Toco no ombro de minha filha, e ela se afasta do irmão, e assim que tomou o lugar dela, meu filho caçula me abraçar. 

— Não é a mesma coisa.

— Eu sei que não. — Faço carinho nos cabelos pretos de Aki, que estão dando nos ombros. Ele resolveu deixar crescer para ficar parecido com Geto quando tinha essa idade, como se eles já fossem idênticos o suficiente. Estou esperando o momento que ele vai querer botar brincos também e não estou nem um pouco preparada para ver o meu bebê surpresa crescer assim. — Ei, você não quer dançar essa música com sua irmã? Ela está sozinha e sem par.

É uma total mentira, mais cedo, antes de todo o drama com as lágrimas, eu vi Nanako ficando com um dos amigos do noivo, e agradeci mentalmente por Geto e Aki não terem visto.

— Pode ser. 

Sorriu limpando suas lágrimas, ele levanta e vai até a irmã, que o abraça quando vão para a pista de dança.

— Fique de olho no seu irmão. — escuto Utahime dizer para Yumi, e quando a filha concorda, leva o irmão caçula nos braços para a pista de dança. Utahime puxa Gojo pela mão e o leva para só Deus sabe onde.

Ficando sozinhos na mesa, pergunto para Geto com um sorriso:

— Cigarro?

— Sim, por favor.

Vamos para a varanda, enquanto estávamos nos afastando do salão principal para não incomodar ninguém com o cheiro de cigarro, vejo Nanami afastado, e quando vejo a direção que está olhando, entendo o motivo, continuo minha caminhada com um sorriso.

Chegando na varanda tiro um de minha bolsa pequena e o coloco na boca o acendendo. Trago um pouco e entrego para o Geto.

— Eu não quero passar por isso novamente nem tão cedo. 

Dou uma risada.

— Nanako já falou que não pretende se casar, Aki o mesmo.

Geto solta a fumaça pelo nariz e sorri.

— Graças a Deus, não estou preparado pra ver aquela casa vazia ainda.

Estendo a mão para pegar o cigarro de seus lábios, mas Geto me puxa e coloca meu corpo em frente ao seu, me abraçando, fazendo o cigarro cair no chão. Piso em cima para depois pegá-lo e jogar no lixo. 

Vários minutos se passam em um silêncio confortável, em certo momento Geto começa a balançar nossos corpos em forma lenta.

— Quer casar comigo?

Dou uma risada. 

Quase dezessete anos e ele nunca desistiu.

— Não.

Geto rir.

— Eu te amo, sabe?

— Ah é?

— Sim. 

— Eu também. — Apoio minha cabeça em seu tórax e continuamos nossa dança lenta, mesmo depois da música ter sido trocada por uma eletrônica.

Com uma rápida olhada, vejo Nanako, Mimiko e Aki aos pulos na pista de dança, mesmo estando na varanda, posso escutar suas risadas e me pego sorrindo também. 

Eu não fazia ideia de como seria o meu futuro, mas gostei bastante de como ele se tornou.

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