Dança do destino

capítulo 23

A manhã chegou mais depressa do que Ling esperava. Os primeiros raios de sol atravessavam as cortinas do quarto de Orm, iluminando o ambiente com uma luz suave. Orm, ainda na cama, começou a despertar lentamente. A dor de cabeça era imediata, resultado da noite anterior, e as lembranças da festa vinham à mente de forma fragmentada.

Ela tentou se levantar, mas o corpo estava pesado, como se o próprio peso das emoções da noite anterior a puxasse de volta para a cama. Então, flashes do que aconteceu começaram a se tornar mais claros: o jantar, o excesso de bebida, e... o beijo.

Orm arregalou os olhos ao se lembrar do que havia feito. Ela tinha beijado Ling. O choque e a vergonha inundaram seu corpo ao perceber a gravidade da situação. Ela sabia que aquilo não deveria ter acontecido, não daquele jeito. Seu coração começou a bater mais rápido, e ela se sentiu incrivelmente vulnerável.

Enquanto isso, Ling já estava acordada há horas, organizando os detalhes do dia e revisando a segurança da casa. Ela havia refletido muito sobre o beijo, mas decidiu não trazer o assunto à tona a menos que Orm o fizesse. Para Ling, era mais importante manter a calma e continuar seu trabalho de maneira profissional, apesar do turbilhão de pensamentos e emoções que o beijo havia despertado nela.

Finalmente, Orm saiu do quarto, vestindo um roupão de seda e com uma expressão que tentava parecer neutra. Ling estava na sala, checando alguns documentos, mas ergueu os olhos ao perceber a presença de Orm. Havia um silêncio constrangedor entre as duas, pesado e cheio de incertezas.

“Bom dia,” Orm disse, tentando soar casual, mas sua voz estava um pouco hesitante.

“Bom dia,” Ling respondeu, mantendo sua postura reservada. “Como você está se sentindo?”

Orm soltou um suspiro, evitando o olhar de Ling. “Estou... com dor de cabeça, mas vou sobreviver.”

Ling assentiu, observando Orm cuidadosamente. Era claro que ela estava tentando medir suas palavras, algo incomum para a atriz normalmente tão segura de si.

Orm finalmente se sentou em um dos sofás, passando as mãos pelo rosto. Depois de um momento, ela levantou os olhos para Ling. “Sobre ontem à noite...”

Ling permaneceu em silêncio, dando espaço para que Orm continuasse.

“Eu... não devia ter feito aquilo. Foi um erro,” Orm finalmente disse, a voz carregada de arrependimento. “Eu estava bêbada e não sabia o que estava fazendo. Me desculpe.”

Ling respirou fundo, percebendo a sinceridade nas palavras de Orm. “Está tudo bem, Orm. Você não precisa se desculpar. Eu entendo que as coisas saíram do controle ontem à noite.”

Orm balançou a cabeça, sentindo-se ainda mais envergonhada. “Mas não está tudo bem, Ling. Eu não quero que você pense que... que eu não respeito você ou sua posição.”

“Eu sei que você me respeita,” Ling respondeu calmamente. “O que aconteceu foi um reflexo do momento, e não precisa mudar nada entre nós.”

Orm olhou para Ling com um misto de gratidão e desconforto. Ela sabia que Ling estava tentando minimizar o impacto da situação, mas também percebia que algo havia mudado. O beijo, por mais que tivesse sido um erro impulsivo, trouxe à tona sentimentos que Orm não queria admitir, nem para si mesma.

“Eu só... eu só quero que as coisas voltem ao normal,” Orm disse, quase implorando.

Ling deu um leve sorriso, o tipo que transmitia compreensão e firmeza. “Vamos seguir em frente, Orm. Estou aqui para fazer meu trabalho e garantir sua segurança, como sempre.”

Orm assentiu, sentindo-se ligeiramente aliviada, mas ainda inquieta. Havia tanto para dizer, tantas emoções confusas, mas ela sabia que agora não era o momento.

“Obrigada, Ling,” Orm murmurou. “Por tudo.”

Ling apenas acenou em resposta, decidida a manter a relação profissional intacta, mesmo que, no fundo, soubesse que aquele momento as havia mudado de alguma forma.