capítulo 46

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Naquela noite, de volta ao seu apartamento, Orm tentou se concentrar no trabalho, mas cada vez que olhava para os papéis à sua frente, sua mente voltava para Ling. Ela se lembrava de cada detalhe da dança, da maneira como seus corpos se moviam juntos, quase como se fossem uma só pessoa, mas agora isso parecia distante, como uma memória que desvanecia. Havia algo diferente em Ling, uma força e uma resistência que a deixavam desconcertada.

Orm pegou o celular, rolando as mensagens antigas, procurando por algo que pudesse explicar como elas chegaram a esse ponto. Seus dedos hesitaram sobre o botão de enviar uma nova mensagem. "O que eu digo?" pensou, sem saber se uma mensagem resolveria algo. Ela queria ligar, mas temia ouvir na voz de Ling a mesma frieza que havia sentido no estúdio.

Do outro lado da cidade, Ling estava em seu próprio mundo de pensamentos. Depois de sair do estúdio, ela passou algum tempo caminhando pelas ruas, tentando esfriar a cabeça. Sentia que estava em uma encruzilhada. Parte dela queria voltar e confrontar Orm de novo, perguntar por que tudo tinha que ser tão complicado, por que Orm não conseguia admitir seus sentimentos e simplesmente deixar as coisas seguirem seu curso natural. Outra parte, porém, estava cansada , cansada da luta constante, do drama, dos altos e baixos.

Quando finalmente chegou ao apartamento, Ling tirou os sapatos e se jogou no sofá. Ela olhou para o teto, tentando encontrar respostas nas sombras. Seus pensamentos continuaram a vagar, voltando sempre para Orm. "Por que ela tem que ser tão complicada?" questionou em silêncio. Ela sabia que havia algo ali, algo mais profundo do que qualquer uma delas estava disposta a admitir.

No dia seguinte, Orm tentou seguir sua rotina como se nada tivesse acontecido. Chegou na seção de foto cedo, esperando se distrair com o trabalho, mas seu foco estava longe. Sua mente vagava para o momento em que veria Ling novamente. Ela sabia que precisavam conversar, de verdade dessa vez, sem provocações ou jogos de poder. Mas a questão era: Ling estaria disposta a isso?

Por outro lado, Ling chegou ao trabalho , a postura rígida, determinada a não deixar as coisas ficarem no ar. No fundo, ela sabia que se continuassem como estavam, tudo acabaria desmoronando. E, por mais que odiasse admitir, ela não queria perder Orm completamente.

Quando finalmente se encontraram no estúdio, havia uma tensão palpável no ar, mas também algo mais. Algo que sugeria que ambas sabiam que aquele encontro poderia ser decisivo. Orm estava ensaiando com outro parceiro, mas ao ver Ling entrar, ela parou no meio do movimento, o olhar fixo em Ling.

Ling não hesitou. Caminhou até Orm, a expressão séria. "Nós precisamos conversar," disse, sem rodeios.

Orm assentiu, sabendo que não havia mais como evitar. "Sim, precisamos."

Elas se dirigiram a uma sala de ensaio vazia, onde a luz suave filtrava pelas janelas, criando uma atmosfera quase íntima. Ling fechou a porta atrás de si, encarando Orm com uma mistura de frustração e expectativa.

"Por que você sempre faz isso, Orm?" Ling começou, sua voz carregada de emoção. "Você me provoca, me afasta, e depois age como se eu fosse a única culpada por tudo."

Orm respirou fundo, tentando organizar os pensamentos. "Eu... eu não sei, Ling. É como se eu quisesse te manter perto, mas ao mesmo tempo tenho medo. Medo de me envolver mais do que já estou."

Ling deu um passo à frente, cruzando os braços. "E por que isso é tão assustador para você? Não sou eu que deveria estar com medo? Sou eu quem está no meio desse jogo, sem saber o que você realmente quer."

Orm baixou o olhar, sentindo a culpa pesando sobre ela. "Eu sei que parece injusto, e talvez seja, mas... é que eu nunca senti isso por ninguém antes. E isso me assusta."

As palavras de Orm desarmaram Ling de certa forma. Ela não esperava essa confissão, essa vulnerabilidade. Aproximou-se ainda mais, agora menos defensiva. "Se isso te assusta tanto, por que você continua me afastando? Você sabe que eu estou aqui, que eu quero estar com você, mas precisa ser de um jeito saudável para nós duas."

Orm levantou o olhar, encontrando o de Ling. "Eu não quero te perder, Ling. E eu sei que esse meu jeito está nos afastando. Talvez eu esteja tentando proteger a mim mesma, mas... estou vendo que isso só está nos machucando mais."

Houve um silêncio tenso por alguns segundos, até que Ling suspirou, descruzando os braços. "Orm, eu gosto de você. Muito. Mas não posso continuar assim, sendo jogada de um lado para o outro. Se vamos tentar, temos que ser honestas uma com a outra. Não dá para continuar com esses joguinhos."

Orm assentiu, finalmente entendendo o que precisava fazer. "Eu também gosto de você, Ling. E eu prometo que vou tentar ser mais aberta, mais honesta com o que sinto. Porque, no fundo, eu sei que você é o que eu quero."

Ling sorriu suavemente, sentindo um peso sair de seus ombros. "Tudo bem. Vamos tentar, então."

Orm, sentindo uma onda de alívio misturada com apreensão, deu um passo em direção a Ling, segurando sua mão. "Vamos fazer isso funcionar, Ling. Sem mais jogos, sem mais medo."

Ling apertou a mão de Orm, sentindo uma nova esperança florescer entre elas. "Vamos. Mas você vai ter que parar com essas provocações, certo?"

Orm riu, um riso leve, genuíno. Prometo que vou tentar meu amor .

Elas saíram da sala de ensaio de mãos dadas, dispostas a recomeçar, mas dessa vez, com a certeza de que estavam juntas nessa jornada, enfrentando seus medos e incertezas, mas também se apoiando mutuamente.

Dança do destino Onde histórias criam vida. Descubra agora