Jorge Baggio III

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A água daquele rio estava estranhamente gelada, o que refrescava meus pés naquele dia ensolarado. Eu estava sentado em um pequeno cais, localizado atrás da casa onde estávamos hospedados, que oferecia uma bela visão do rio sereno, que seguia seu caminho em direção ao oceano. O ar fresco invadia meus pulmões, e o barulho dos pássaros relaxava meus pensamentos.

"É um bom dia para morrer", penso, melancólico. Olho para o meu relógio e vejo que acabou de dar cinco horas; às seis, teria que me encontrar com Van Gal para que ele me desse minha sentença. Se eu viveria ou se morreria.

Pensei em fugir pela mata ao longo do dia, mas não sobreviveria por muito tempo em uma floresta desconhecida, repleta de traficantes e tribos indígenas. Meu destino era inevitável, mas ao menos que fosse rápido, e quem mais além de Van Gal poderia me dar isso?

— Vista linda, não acha? — ouço a voz de Sophia atrás de mim.

— Realmente. — Digo, voltando-me para a jovem que caminhava em minha direção. Ela estava com um short jeans curto e um biquíni na parte de cima. Sophia era negra, mas tinha cabelo liso e traços que lembravam os indianos; era incrivelmente bonita para ser uma assassina.

— Você perdeu, tinha uma prainha ali embaixo, ótima para nadar, estava rodeada pelas crianças da vila. — Ela conta animada, sentando-se ao meu lado com um cigarro e um isqueiro. — Arrumei uma maconha maravilhosa, você gosta?

— Eu era traficante em Zagreb, isso é o quê?

— Skunk da Colômbia. A menininha que me vendeu disse que é a melhor, e realmente é maravilhoso. Tenho que achar aquela pretinha, vou levar para a viagem. — Ela diz, acendendo o cigarro.

— Você trouxe droga para cá? — pergunto surpreso.

— Todo mundo trouxe. O Van Gal estava bolando um tanto de cigarros para levar. — Ela diz, passando-me o cigarro.

— Vocês são inacreditáveis. — Afirmo, tragando o baseado com um sorriso.

— O que está fazendo aqui sozinho?

— Pensando um pouco.

— Tem alguma coisa para pensar nesse lugar? — Ela debocha, pegando o cigarro novamente. — Existem certos momentos em que a gente só tem que viver.

— Eu vou morrer daqui a alguns minutos. Van Gal vai me matar às seis horas. — Afirmo, tentando soar tranquilo.

— Por que não fugiu? — Sophia me pergunta, curiosa.

— Chegou minha hora. Ao menos na morte terei dignidade.

— Está pronto para morrer? — Ela me passa o baseado.

— Ninguém está, mas cansei de viver essa vida. — Digo, sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto.

— E como foi? — Ela pergunta, alisando a mão nas minhas costas. — Como foi a sua vida?

— Pequena. — Afirmo, tragando o cigarro. — Muito pequena. Fui um mero fantoche que achou que conseguiria ser algo além disso.

— Meu avô sempre me contava uma história quando eu era pequena. Ele era descendente de uma tribo na Etiópia e, lá, existe uma lenda que diz que um escritor famoso morreu crucificado por sua carreira. Contou muitas histórias fenomenais até o dia de sua morte. Então, quando morreu, a morte veio até ele para lhe informar seu destino para a eternidade. Pediu que ele lhe contasse sua história. Ele tentou contar, mas não conseguia falar nenhuma das histórias que escreveu. A morte explicou que queria ouvir a história que ele viveu, não a que inventou na sua cabeça. A morte queria ver os erros que ele cometeu, os corações partidos, as viagens, os amigos, os amores, os inimigos. Queria saber como foi a vida dele.

amor não me mate -volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora