Capítulo 9.

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   Harry observava sua própria figura no espelho pela terceira vez naquele início de noite. O moreno ajeitou seus cabelo escuros, tentando mantê-los no lugar, antes de retornar do banheiro para a sala de estar do apartamento de Hermione. Ali havia se tornado o point de seus amigos, impressionantemente Hermione era a mais receptiva em sua casa do que qualquer outro em seu ciclo.

   Assim que a lareira apitou, Harry quase pulou para se sentar e fingir normalidades, esperando que fosse quem ele gostaria. Mas, era Pansy Parkinson, trazendo consigo um embrulho que ao menos cheirava bem.

   Ela o cumprimentou com um aceno assim como fez com Ron, antes de seguir Hermione para a cozinha enquanto mergulhavam em seu mundo.

   O segundo apito da lareira ganhou a atenção de Harry novamente antes mesmo de cogitar puxar assunto com seu amigo. Dela, saía Blaise Zabini, que também acenou para si, antes de puxar Ron e o cumprimentar se maneira calorosa. Algo que fez Harry desviar o olhar de mal humor.

   Zabini também trazia algo para todos comerem, isso fez com que ambos seguissem para cozinha também. Deixando um Harry ansioso para trás.

   Foram cerca de 20 minutos até que Harry se desse conta que encarava em completo silêncio o fogo da lareira dançar.

   — Hm... Harry? — a voz dócil de Hermione lhe chamou, ele a olhou de canto, ainda sentado. Ela estava parada pouco depois do patamar da cozinha. — Acho que ele não vêm... quer se juntar a nós?

   — Ele quem? — Pansy pergunta, curiosa de dentro da cozinha. Harry arregala os olhos e encara Hermione, movendo sutilmente a cabeça em negação para ela não contar.

   — Ah, bom... um carinha que Harry convidou para a noite. — Hermione responde, logo olhando para Harry novamente. — Você vem?

   Harry ficou em silêncio alguns segundos, antes de olhar uma última vez para lareira como última esperança. Antes de deixar todo seu bom humor no acento ao se levantar, seguindo para a cozinha.

   Maldito seja Draco Malfoy.

•••

   Harry não tinha o menor controle sobre suas emoções, e isso era um fato. Ele já deveria ter percebido em diversas situações anteriores, mas só agora, enquanto estava sentado mais uma vez numa maca de hospital, com ferimentos leves de um possível acidente, que essa realidade o atingiu com clareza.

   Ele observava o ambiente ao seu redor, notando os pequenos detalhes cuidadosamente dispostos para trazer conforto aos pacientes. Sua atenção foi subitamente capturada quando a porta se abriu, revelando Malfoy. A surpresa no rosto do loiro era sutil, mas inegável.

   — Boa tarde, Sr. Potter. Vou examinar seus ferimentos — disse Malfoy, de uma forma tão polida que Harry não o via há anos. A formalidade do tom incomodou-o profundamente.

   Harry assentiu em silêncio, permitindo que Malfoy fizesse seu trabalho. Seus olhares se encontraram algumas vezes, e Harry se esforçava para não demonstrar irritação, mesmo que, por dentro, ele estivesse consumido por ela.

   A avaliação não durou cinco minutos, afinal o livro moveu a varinha algumas poucas vezes para alguns ferimentos, colocando curativos em alguns.

   — Você pode repousar aqui pelo início da noite, se preferir — sugeriu Malfoy, com o profissionalismo impecável de um curandeiro experiente. Ele tirou do jaleco um pequeno frasco e deixou sobre a mesa ao lado da maca. — Mas seus ferimentos são leves. Após tomar essa poção, estará liberado para ir para casa normalmente.

   Harry ouviu atentamente, ainda que parte de sua mente estivesse longe. Ele assentiu mais uma vez, enquanto Malfoy tocava delicadamente o curativo, o que fez com que um calafrio sutil percorresse sua pele.

   — Por que você não foi?

   — Hm, perdão? — Malfoy respondeu, confuso.

   — Claro, perdoado — Harry retrucou com sarcasmo. — Mas por que você não foi?

   A expressão de Harry era séria, beirando a irritação, o que fez Malfoy vacilar por um momento, sem saber como reagir. Ainda assim, ele permaneceu firme, sem deixar a sala.

   — Estive ocupado com meus afazeres, Potter. Se a sua vida é uma sequência de festas e reuniões repletas de amigos, isso não é problema meu. Algumas pessoas têm responsabilidades que não giram em torno do que o Eleito deseja.

   A resposta ácida de Malfoy apenas endureceu ainda mais a expressão de Harry, que, visivelmente frustrado, ajustou sua posição na maca.

   — Você disse que iria, caso não houvesse batidas. — Harry insistiu.

   — Imprevistos acontecem.

   — Você... você está fugindo de mim? — perguntou Harry, agora com a voz menos irritada, mas ainda preso na tensão palpável que pairava entre os dois.

   Um silêncio denso tomou conta do ambiente. Malfoy desviou o olhar, piscando algumas vezes, enquanto endireitava a postura. Ele ajeitou o jaleco sobre o corpo e, em um movimento brusco, pegou a prancheta com as informações médicas de Harry, claramente buscando uma distração.

   — Me deixe em paz, Potter. Tenho muito trabalho para perder tempo com suas confraternizações.

   Antes que Harry pudesse abrir a boca para responder, Malfoy já havia saído, batendo a porta com firmeza ao deixar a sala.

•••


   — Você acha que foi por causa do quase beijo, então?

   — Eu tenho certeza, Ginny. — Harry suspirou, enquanto bebia um gole do rum que sua amiga ruiva lhe oferecera.

   Ele levantou o olhar ao notar o silêncio que se instalou entre eles e viu Ginny pensativa, segurando seu próprio copo de álcool. Ela tomou um gole antes de continuar, como se organizasse os pensamentos.

   — Talvez não seja só isso... pelo que você me contou daquela noite, eu acho que vai além. Você sabe... Malfoy nunca foi alguém fácil de lidar. Ele raramente expressa seus sentimentos de forma aberta. Às vezes, parece tão... rígido? Como uma rocha que não sente nada.

   Harry, em outras circunstâncias, teria defendido Malfoy ou pedido a Ginny que pegasse leve. Mas o tom dela não era de crítica, e sim de observação. Ele sabia reconhecer quando Ginny queria ofender alguém, e dessa vez, não era o caso.

   — O que eu devo fazer, então? — ele perguntou, com um toque de incerteza na voz.

   — Harry... — começou Ginny naquele tom que Harry odiava ouvir, um tom que indicava que não havia uma solução fácil. E, na maioria das vezes, significava que ele estava errado. — Já pensou na possibilidade de que ele simplesmente não está interessado em te beijar de volta?

   Harry franziu o cenho por um instante, desviando o olhar para o copo em suas mãos. Ele bebeu um longo gole de rum, tentando processar a dureza daquela verdade.

   — Tem razão. — Sua voz soou resignada, ainda que um pouco amarga.

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