Under the Veil of Night - jenlisa

Capítulo 4

Lalisa Manoban

Bangkok-TH 22:34h

Lalisa chegou em sua cobertura de luxo na Tailândia, ainda envolta em pensamentos e sensações que nunca havia experimentado antes. O encontro com Jennie a deixou perturbada de uma maneira que não conseguia compreender completamente. Durante séculos, ela se orgulhara de sua capacidade de manter o controle em todas as situações, sua habilidade de ler as pessoas e manipular as circunstâncias ao seu favor. Mas algo em Jennie havia quebrado essa rotina, mexido com suas defesas, e Lalisa não gostava nada disso.

A imagem de Jennie, sentada diante dela, com aquele olhar profundo e curioso, continuava a invadir sua mente. E, mais do que isso, o cheiro de Jennie - aquele aroma inebriante que parecia ter se impregnado em seus sentidos - fazia sua mente girar em círculos, uma distração perigosa que ela não estava acostumada a lidar. Mesmo agora, em sua casa, longe do ambiente do restaurante, ela ainda sentia o vestígio desse cheiro, como se estivesse impregnado em sua pele.

Normalmente, após um longo dia, Lalisa poderia descansar, mesmo que não precisasse, afinal, como uma vampira, o sono não era uma necessidade física, mas um refúgio para sua mente. No entanto, naquela noite, o descanso era a última coisa que ela desejava. A agitação interna não permitia que ela relaxasse. Ao invés disso, ela se lançou em sua atividade favorita em momentos de incerteza: pesquisa e planejamento.

Em questão de minutos, Lalisa havia ligado para seus contatos, acionado seus recursos e obtido informações detalhadas sobre Jennie Kim. Ela possuía um vasto leque de conexões e recursos que ultrapassavam qualquer barreira, fosse legal ou não. Dinheiro, para Lalisa, sempre significou poder, e poder significava controle. Mesmo em uma questão tão pessoal, ela não se contentaria com menos.

Os relatórios começaram a chegar em sua tela quase instantaneamente. Histórico médico, registros de trabalho, vínculos familiares, redes sociais - nada escapou ao olhar atento de Lalisa. Ela absorvia cada detalhe com precisão clínica, reconstruindo a vida de Jennie com uma eficiência que beirava o sobrenatural. Mas, enquanto analisava friamente cada dado, a inquietação dentro dela não diminuía. Pelo contrário, cada nova informação parecia aprofundar sua fascinação por Jennie.

Lalisa sabia que estava se aventurando em território perigoso. Deixar-se consumir por alguém, perder o controle, era algo que ela nunca havia permitido a si mesma. E, no entanto, ali estava ela, passando a noite em claro, não por necessidade, mas por uma curiosidade incontrolável que se misturava a um desejo crescente.

Ela não gostava da sensação de estar fora de controle, mas ao mesmo tempo, havia algo excitante nisso, algo que a atraía para esse jogo novo e desconhecido. Jennie Kim era diferente de tudo que Lalisa havia encontrado em seus muitos anos de existência, e essa diferença era como um ímã, puxando-a para mais perto, querendo saber mais, sentir mais, experimentar mais.

Enquanto as primeiras luzes da manhã começavam a surgir no horizonte, Lalisa finalmente se permitiu parar de trabalhar. Mas não havia alívio, nem paz. Apenas a constante e inquietante presença de Jennie em sua mente. Ela sabia que esse era apenas o começo. E, como sempre, Lalisa Manoban não era do tipo que deixava as coisas pela metade. O que quer que fosse essa atração, ela estava determinada a entender e, eventualmente, controlar. Mas por enquanto, tudo o que ela podia fazer era esperar, e planejar seu próximo movimento.

O sol mal tinha nascido, mas Lalisa já estava em pé, pronta para começar o dia. Depois de uma noite em claro, onde a figura de Jennie Kim ocupou seus pensamentos incessantemente, ela sabia que precisava de algo para clarear a mente e retomar o controle de si mesma. Tomou um banho frio, permitindo que a água lavasse a inquietação de seus pensamentos, e depois seguiu para sua rotina matinal de higiene. Vestiu roupas de treino, ajustando as luvas de boxe enquanto seus olhos frios e determinados se refletiam no espelho.

A academia de boxe no prédio era uma de suas partes favoritas do dia. Ali, em meio ao som rítmico de seus golpes contra o saco de pancadas, Lalisa se sentia mais próxima de si mesma, mais conectada ao seu corpo e mente. O boxe era mais do que um exercício físico para ela; era uma arte, uma disciplina que ela respeitava profundamente. Claro, devido à sua força sobre-humana, ela tinha que se conter durante os treinos, mas isso não diminuía a satisfação que sentia ao praticar. O esporte, de certa forma, funcionava como uma terapia. Cada soco, cada movimento, ajudava a clarear seus pensamentos e a centrar sua energia.

Enquanto ela trabalhava seus golpes no saco, sentiu o celular vibrar no bolso. Com um último soco poderoso que fez o saco balançar intensamente, Lalisa parou e puxou o aparelho, vendo o nome de Kim Jisoo na tela. Ela deixou escapar um pequeno sorriso ao atender a ligação.

"Bom dia, Jisoo. Já está me ligando a essa hora?" Lalisa começou, tentando manter o tom despreocupado, mas o som do saco de pancadas ainda se movendo denunciava o esforço físico recente.

"Bom dia? Seria um bom dia se você não tivesse me abandonado ontem, Srta. Manoban!" A voz de Jisoo era um misto de irritação e familiaridade. "Você disse que iria à reunião e simplesmente sumiu! Sabe como é divertido lidar com aqueles tubarões sozinha? E sem um pingo de notícia sua! Se ao menos fosse a primeira vez..."

Lalisa riu do outro lado da linha, imaginando a expressão irritada de Jisoo. "Oh, você sabe muito bem que seu cargo é literalmente para isso, Jisoo. Resolver os problemas enquanto eu cuido de... outros assuntos."

Jisoo bufou do outro lado, não convencida. "Outros assuntos? Onde você estava que não podia nem mandar uma mensagem, hein? Tenho certeza de que não era tão importante assim."

Lalisa fez uma pausa, seu sorriso ampliando-se enquanto pensava em como responder. "Eu tive um compromisso urgente," disse, com a voz carregada de ironia. Claro, ambas sabiam que era uma desculpa esfarrapada.

Jisoo não se conteve, soltando uma gargalhada. "Compromisso urgente? Essa é boa! Se isso fosse verdade, você já teria me dito a verdade, e sabemos muito bem que não foi nada urgente. Mas vou deixar passar... por enquanto. Apenas não me deixe sozinha de novo, entendeu?"

"Sim, senhora!" Lalisa respondeu em tom de zombaria, mas com um toque de carinho. Ela sabia que, apesar das queixas, Jisoo sempre estaria ao seu lado. Jisoo era mais que sua amiga; era sua irmã, sua única família.

Lalisa olhou para o saco de pancadas, agora completamente parado, e pensou em como Jisoo sempre a trazia de volta à realidade, sem nunca questionar demais, apenas aceitando-a como ela era. "Prometo não sumir de novo... pelo menos, não hoje," brincou.

"Você é impossível, Lalisa," Jisoo respondeu, ainda rindo. "Mas sério, se precisar de ajuda com esse seu 'compromisso urgente', sabe que pode contar comigo, certo?"

Lalisa sorriu, tocada pela preocupação de Jisoo, mesmo que disfarçada sob uma camada de sarcasmo. "Eu sei, Jisoo. E obrigada. Mas acho que esse compromisso é algo que preciso resolver sozinha... pelo menos por enquanto."

"Como quiser. Mas não esqueça, estamos juntas nessa, sempre," Jisoo finalizou, antes de se despedir.

Lalisa desligou a ligação, seu sorriso se desvanecendo levemente enquanto olhava para o saco de pancadas. Por mais que adorasse as provocações e o carinho de Jisoo, uma parte de si sabia que estava entrando em um território perigoso com Jennie Kim. E, por mais que quisesse manter as coisas sob controle, a atração que sentia por Jennie estava começando a mudar tudo.

Ela deu um último golpe no saco de pancadas, mais forte do que pretendia, e o equipamento balançou violentamente. Respirando fundo, Lalisa decidiu que, se havia algo que não poderia controlar, ao menos controlaria a si mesma... por enquanto.