CAPÍTULO 39

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SIMONE

Decidi que vou sair da faculdade.

Fairte: — Filha, não faz isso. Entenda que é o trabalho que você ama! Você não vai abrir mão só por causa do relacionamento que você tem com a Soraya, né?

Simone: — Se for colocar em uma balança, mãe, eu ainda tenho minha vida feita sem a faculdade. A Soraya depende do trabalho, não tem outra fonte de renda…

Fairte: — Não quero comparar as situações, jamais! Porém não precisa abandonar seu trabalho, assim como ela, para se assumirem.

Simone: — Não podemos nos assumir-

Fairte: — E porque você quer se assumir na universidade, Simone?

Simone: — Para quando eu chegar em um lugar público e encontrar alguém do campus eu não precisar sair com medo da Soraya acabar levando bronca.

Fairte: — Então sua preocupação é com ela?

Simone: — Também.

Nicanor chegou, abriu a porta e pediu para entrar. Dei permissão. Ele sentou-se ao lado da mamãe e encerramos o assunto, mas ele já havia escutado.

Nicanor: — Vai deixar a universidade, mamãe?

Simone: — É… Estou analisando.

Nicanor: — Uma pena…

Fairte: — Deixarei que conversem enquanto faço a nossa janta, tudo bem?

Assentimos e ela tomou seu rumo.

Nicanor: — Queria conversar com a senhora sobre minha herança.

Simone: — Diga — peguei uns papéis que estavam na mesa e os observei.

Nicanor: — Quero dividir com a Soraya.

Parei de observar os documentos e olhei no fundo dos olhos de Nico.

Simone: — Ela reconheceu que tem direito?

Nicanor: — Não.

Simone: — Então não irei permitir.

Nicanor: — Por que não?

Simone: — Nicanor, Soraya tem ódio do seu pai. Ela já deixou bem claro que não sente interesse em herança ou qualquer coisa que lhe convém. Já conversei com ela sobre e Soraya pediu para que não desse nenhum centavo dessa herança para ela.

Nicanor: — Mas é um direito dela também, mãe!

Simone: — Eu e ela sabemos disso, mas a própria se nega a receber e não quer de maneira alguma. Eu já insisti e ela deixou bem claro que não iria mais olhar na minha cara se eu falasse disso novamente.

Nicanor fechou a cara e observou os papéis na mesa.

Simone: — Compreenda a decisão dela, filho.

Nicanor: — Não consigo, mãe. Isso me deixa com um peso nas costas…

Simone: — Que sentimentos você sente?

Nicanor: — Como se eu estivesse tirando tudo dela, sabe? O direito de ser filha, de ter conhecido o pai como eu conheci, de ter aproveitado uma família completa… Eu me sinto culpado!

Simone: — Foram erros do seu pai, não seus.

Nicanor: — Mas eu não queria que isso acontecesse com ela.

Estendi meus palmos e ele os agarrou.

Simone: — Então seja um irmão paciente e compreensivo. Seja um irmão semelhante ao pai que ela não teve; amoroso, atencioso e brincalhão.

Laços inesperados; o amor entre a guerra.Onde histórias criam vida. Descubra agora