Prólogo - Capítulo 1: Reflexões Perdidas

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Subaru caminhava pelas ruas da cidade, o som dos carros passando ao lado ecoando em sua mente, enquanto suas mãos estavam profundamente enfiadas nos bolsos do casaco. Ele tinha acabado de sair do trabalho, o escritório pequeno e abafado onde passava boa parte do seu dia. O céu estava tingido de laranja, e as luzes da cidade começavam a se acender. Cada passo parecia levar um peso maior que o anterior.

"Qual é o sentido de tudo isso?" ele se perguntou pela milésima vez. O ciclo interminável de acordar cedo, trabalhar, estudar um pouco, e depois tentar escapar para o mundo dos jogos de vídeo game. Era sempre a mesma coisa. Uma rotina que o prendia, sufocava, e o deixava desesperado para encontrar uma saída, algo que fizesse sentido.

Com 26 anos, ele se via em uma vida que parecia passar diante dos seus olhos, sem que ele pudesse realmente viver. Trabalhando como auxiliar contábil, em um escritório que parecia uma prisão, com um salário mínimo que mal cobria as despesas do mês, Subaru se sentia preso em uma armadilha. Ele amava o mundo dos negócios, o potencial que via em ideias que poderiam revolucionar mercados, mas não conseguia sair do lugar, limitado por suas circunstâncias e medos.

Morava sozinho, um pequeno apartamento que, embora modesto, era sua fortaleza, seu refúgio contra o mundo. Mas a solidão que antes lhe trazia conforto, agora parecia um monstro que o assombrava, sussurrando suas ansiedades mais profundas. Havia noites em que acordava no meio da madrugada, o coração acelerado, temendo que algo terrível estivesse prestes a acontecer. A ansiedade depressiva e sua hipocondria faziam parte da sua vida, uma presença constante que, apesar de debilitante, ele aprendia a suportar.

Ele olhou para o reflexo nas vitrines ao passar. A aparência era a mesma de sempre: cabelo preto, olhos castanhos, o corpo esguio e de estatura mediana. As roupas simples e um tanto desleixadas refletiam seu estado de espírito, como se ele estivesse esperando que algo acontecesse para mudar tudo, mas sem saber o que era ou como fazer.

"Eu sei que posso conquistar mais... que posso alcançar algo maior," ele pensava, tentando afogar a tristeza que parecia crescer dentro de si. "Mas como? Como posso sair dessa prisão?"

Subaru era sonhador, mas também um realista. Sabia que o mundo dos negócios era competitivo, que sua posição atual mal permitia sonhar em grandes conquistas, e que sua timidez e medo constantes não ajudavam em nada. Ele queria riqueza, mas mais do que isso, queria significado. Algo que desse sentido à sua vida, que fosse além das cifras e dos relatórios financeiros.

"Talvez seja isso..." ele refletiu, sentindo uma dor no peito. "Talvez seja isso que me falta... um propósito."

Subaru sempre buscava formas de combater sua ansiedade, de encontrar um equilíbrio. Após os dias exaustivos no escritório, ele tentava encontrar refúgio na prática de exercícios. Jiu-jitsu, Muay Thai, academia... Eram suas tentativas de afastar a sensação sufocante que o cercava. Por meses, ele conseguia seguir uma rotina disciplinada, mas eventualmente, o ânimo desaparecia e ele abandonava tudo. A depressão voltava, mais forte, mais pesada, e ele se via preso na inércia novamente.

Seu verdadeiro refúgio, no entanto, estava em seu Xbox e nos amigos que ele fez no mundo virtual. Na solidão do seu apartamento, seu consolo vinha das horas que passava jogando e conversando online. Ele tinha uma conexão especial com uma garota linda da Argentina, alguém que ele conheceu em um jogo de chat 3D, semelhante ao Habbo. Eles mantinham um web namoro há um ano e três meses, e todas as noites, eles se falavam por vídeo, compartilhando intimidades e sonhos, até mesmo web sexo.

Esse relacionamento era sua esperança, o que lhe dava ânimo para continuar. O sonho de um dia encontrá-la em pessoa o impulsionava. Mas tudo desmoronou quando um amigo do casal revelou que, na verdade, ele era o verdadeiro namorado dela. Subaru foi apenas um meio para ela ganhar presentes raros no jogo, já que ele era "rico" virtualmente. A revelação o destruiu. O vazio voltou, mais profundo do que nunca, e a tristeza o consumiu.

Enquanto caminhava para casa naquela noite, o vento frio parecia sussurrar algo diferente, algo que ele não conseguia entender. Era como se o universo estivesse preparando algo, uma resposta para a pergunta que sempre ecoava em sua mente: "Qual é o sentido de tudo isso?"

Subaru estava imerso em seus pensamentos, tentando processar o que poderia vir a seguir, quando decidiu cortar caminho por um beco escuro. Ele estava com medo, como sempre, mas a música em seus fones de ouvido ajudava a manter a calma, até que uma moto passou por ele, parou bruscamente e o garupa desceu, apontando uma arma.

O tempo pareceu desacelerar. Subaru, em estado de choque, mal conseguia acreditar no que estava acontecendo. "Isso não pode ser real, deve ser um pesadelo," ele pensou, enquanto o assaltante exigia seu celular. As memórias invadiram sua mente em um turbilhão. Aquele celular era mais do que um simples objeto para ele. Era sua conexão com o mundo, com seus amigos, com os momentos felizes e tristes de seu relacionamento. Entregar o celular significava perder tudo.

Seu corpo congelou, incapaz de reagir. O assaltante, cada vez mais nervoso, viu um carro entrando no beco, o que o deixou ainda mais apressado. Quando Subaru, trêmulo, tentou puxar o celular do bolso, acabou esbarrando na arma do criminoso.

"O que você tá fazendo? Tá maluco?" o assaltante gritou.

"Foi... foi sem querer," Subaru gaguejou, quase sussurrando, com a voz embargada de desespero.

O assaltante, no auge da tensão, disparou o gatilho e, sem hesitar, subiu na moto e fugiu. Subaru sentiu algo molhado no peito. Sua mão tremendo tocou o local, e quando a retirou, viu o sangue manchando sua camisa. Seu coração disparou, o medo da morte começando a tomar conta, mas junto a isso, uma estranha paz. Ele pensou se aquele seria o fim de toda a dor, da constante angústia.

As palavras de sua psicóloga vieram à mente, falando sobre comparar sua vida anterior com o presente, sobre o quanto ele havia melhorado. Lembrou-se de seu celular, das noites jogando e se conectando com pessoas, do Xbox, dos sonhos que ainda tinha, como o de jogar GTA 6 quando fosse lançado. Não, ele não podia morrer ali.

O carro que havia entrado no beco parou ao seu lado. Subaru, já caído no chão, conseguiu, com o que restava de suas forças, ligar para o SAMU. O motorista do carro pegou seu celular e começou a conversar com o atendente, pedindo ajuda urgente. A voz de Subaru já estava fraca, e ele logo perdeu a consciência, o sangue formando uma poça ao seu redor.

Entrando em um sono profundo, Subaru sentiu uma estranha tranquilidade. Seu corpo relaxou, e ele virou de lado, como se estivesse apenas dormindo em sua própria cama. Porém, quando seus olhos começaram a abrir novamente, ele sentiu o calor do sol batendo em seu rosto. A ardência do sol era diferente, a brisa tinha um cheiro novo. Ele despertou lentamente, piscando várias vezes até seus olhos focarem no que estava à sua frente.

Ele não estava mais no beco. A grama baixa fazia o papel de cama, e o céu azul intenso não era o mesmo que ele conhecia. Subaru se levantou devagar, sentindo a rigidez em seus músculos. Ao olhar ao redor, percebeu que estava em um mundo completamente diferente, um lugar que só poderia existir em fantasia. Um novo mundo, uma nova chance... ou seria apenas mais um pesadelo?

RE: ZERO - Ecos de Mundos PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora