10. Beaumont

26 5 2
                                    

Algumas ou várias horas haviam passado desde o fatídico café da manhã, Edward não sabia ao certo a quanto tempo estava enfiado no escritório da mansão. Mas sabia que aquele era o único lugar que não encontraria com os olhos de Charlotte, ou melhor, com os olhos dela o evitando. E mesmo que ela não o evitasse, ele também não sabia ao certo o que poderia dizer, ela estava noiva, e ele por si só extremamente confuso.

Edward afundou ainda mais na poltrona, o olhar fixo nas sombras que se alongavam pelo chão do escritório. O crepitar da lareira era o único som que preenchia o silêncio da sala, mas nem mesmo o calor das chamas conseguia aquecer o frio que sentia no peito. A decisão de Charlotte ecoava em sua mente, um martelo batendo incessantemente em sua consciência. Ela estava noiva de Peter Smith. A mulher que ele beijara, a mulher que, para seu próprio espanto, ele desejava mais do que qualquer outra coisa no mundo, havia escolhido outro, e por que? Por que ela havia tomado uma decisão tão precipitada? Queria evitá-lo? Ou talvez o problema havia sido ele próprio.

"Como fui tão tolo?", pensou, os olhos ardendo com uma frustração que ele não conseguia mais conter. A confusão que sentira após o beijo, a forma como fugira dela como um covarde... tudo parecia agora ridículo e imperdoável. E Charlotte, em sua infinita sabedoria e dignidade, havia feito o que ele não tivera coragem de fazer: tomar uma decisão. Mesmo que fosse a decisão errada.

Ele sabia que estava sendo injusto. Charlotte não havia escolhido Peter por falta de caráter ou por desespero. Ela era uma mulher sensata, que compreendia as nuances do dever e da honra. Mas, por Deus, ele queria que ela tivesse escolhido diferente. Não poderia ter esperado até ele ter mais certeza? Ou minimamente, até ele estar menos confuso? Não poderia ter esperado por ele para procurá-la?

Edward suspirou pesadamente, sentindo o peso das próprias incertezas. Ele se levantou da poltrona e começou a andar de um lado para o outro no escritório, como um leão enjaulado, incapaz de encontrar paz. A ideia de Charlotte como esposa de Peter Smith era insuportável, mas o que ele poderia fazer? Ele a havia afastado com sua indecisão, com sua incapacidade de entender o que realmente sentia por ela.

Resolveu ir ao único lugar que poderia ser sincero e talvez tivessem uma luz para ajudar, apesar de nem ele próprio acreditar que iria se aconselhar novamente com os Beaumont.

***

— Edward querido, é sempre um prazer ter você por aqui. O que aprontou? - disse Elizabeth com seus brilhantes olhos verdes com um riso contido.

Edward sorriu.

— Estou precisando dos conselhos de uma marquesa sem papas na língua e de um primo apaixonado por sua esposa, minha querida Elizabeth. — devolveu em tom de brincadeira e sofrimento. 

— Veio ao lugar correto então, aqui existe um homem apaixonado e uma esposa implacável. — Phillip respondeu rindo encostado no batente — E por sorte, os gêmeos estão estudando, caso o contrário você estaria em completa desvantagem meu primo. 

Por um instante o duque sentiu o coração aliviado, era incrível como o primo e sua esposa sempre conseguiam deixar as coisas leves. Elizabeth havia sido uma excelente aquisição para a família, e o primo, Phillip, sempre fora considerado um irmão. Edward observou o primo e sua esposa por um momento, sentindo um calor raro e confortante no peito. A casa dos Beaumont sempre fora um refúgio para ele, um lugar onde as pressões do título de duque e as expectativas da sociedade pareciam menos esmagadoras. Aqui, ele podia ser apenas Edward, o homem, e não o duque de Ellingham.

— Não sei se implacável é o termo mais adequado, Phillip, mas admito que não sou conhecida por ser indulgente com tolices — Elizabeth respondeu com um sorriso travesso, enquanto guiava Edward até o sofá próximo à lareira. — Agora, conte-nos, o que o trouxe aqui em busca de conselho?

Para sempre seu DuqueOnde histórias criam vida. Descubra agora