Charlotte ficou parada no jardim, o som dos passos apressados de Edward desaparecendo ao longe. Seu coração ainda batia descompassado, e seus lábios ainda sentiam o calor daquele beijo inesperado. A confusão em sua mente era esmagadora; ela não sabia se deveria estar feliz, preocupada, ou até mesmo envergonhada. Mas uma coisa era certa: aquele beijo havia mudado algo entre eles, algo que não poderia ser facilmente ignorado ou desfeito, ela sabia que a partir dali Edward não seria mais o amigo que ela sempre tivera.
Ela caminhou lentamente até um banco de pedra sob uma árvore imponente, sentando-se enquanto tentava processar o que acabara de acontecer. Os pássaros continuavam a cantar alegremente, alheios ao turbilhão de emoções dentro dela. A lembrança do toque de Edward, da suavidade com que ele a segurara, da intensidade de seus olhos antes de se afastar... Tudo isso a deixava confusa, era como se, por um breve momento, ela tivesse tocado algo verdadeiro e profundamente desejado, mas agora, tudo parecia incerto novamente. E, no entanto, o beijo não fora um erro, Charlotte tinha certeza disso. Não para ela, pelo menos. Mas e para ele?
De dentro da mansão, o imponente e carismático duque havia tomado a atitude mais infantil que ele poderia ter tomado desde os seus dez anos de idade: se trancou em seu quarto, completamente sem reação ao acontecido. Por Deus, ele havia beijado Charlotte Lancaster, a solteirona menos cobiçada de toda Londres, e pelos céus, ele havia gostado, ele havia amado, e para ele, no calabouço mais secreto de sua alma, ele havia beijado Charlotte Lancaster, a mulher mais incrível, mais inteligente, mais espirituosa e para ele a mais bela mulher de toda Londres. E aquilo parecia errado, mas sentir ela em seus braços foi a coisa mais correta que ele sentira em relação a uma mulher em toda sua vida.
Ele se jogou na poltrona de seu quarto, passando as mãos pelos cabelos em um gesto de frustração. Nunca antes se sentira tão vulnerável, tão exposto. O que aquilo significava? O que Charlotte estava pensando agora? Ele se lembrava da sensação dos lábios dela, do modo como ela havia se entregado ao momento, e sentia um misto de culpa e desejo. Como ele poderia ter permitido que as coisas chegassem a esse ponto?
Naquela noite, o jantar na mansão Ellingham foi marcado por uma tensão palpável. Charlotte e Edward trocaram poucos olhares, ambos imersos em seus próprios pensamentos. Genevieve, sempre perspicaz, percebeu o clima entre eles, mas sabiamente escolheu não comentar. Havia uma sabedoria em permitir que os acontecimentos seguissem seu curso natural.
Mais tarde, quando Charlotte se retirou para seu quarto, ela não conseguiu evitar repassar os eventos do dia. O beijo de Edward, sua fuga apressada, a incerteza que pairava no ar... Tudo contribuía para um turbilhão de emoções que a impedia de encontrar qualquer tipo de paz. A maneira fria com que ele a tratará no jantar, deixara extremamente claro, ele havia se arrependido. E por mais que quisesse aquele beijo apenas para sentir como era ser beijada por querer ser beijada, e não por ser obrigada a beijar um cavalheiro que viesse a ser seu marido, ela se sentiu decepcionada e vulnerável que seu melhor amigo tivesse aquela reação. Sabia que não era uma das mulheres exuberantes com que ele flertava, mas nunca pensou que um beijo seu poderia causar desprezo.
No dia seguinte, no café da manhã o clima continuava tensamente palpável, as poucas palavras trocadas entre o duque e a jovem foram meramente cordiais, e quando o mordomo fez o anuncio que Peter Smith havia chegado a residência, a energia caótica do ar se tornara ainda mais densa.
— Céus, logo pela manhã. — esbravejou o jovem duque, levando as mãos ao cabelo em tom de reprovação.
— Eu o convidei. — respondeu Charlotte de imediato, enquanto levava as torradas com geleia a boca, sem sequer olhar nos olhos do homem.
Edward bufou.
O silêncio que se seguiu à declaração de Charlotte parecia reverberar pelas paredes da sala de jantar, como se até mesmo os móveis estivessem conscientes da tensão no ar. Edward observou Charlotte por um momento, notando a maneira deliberada com que ela evitava encontrar seu olhar, focada em suas torradas como se aquele fosse o assunto mais importante do mundo.
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Para sempre seu Duque
عاطفيةCharlotte Lancaster, nunca se considerou uma mulher bonita, sendo muito mais curvilínea e rechonchuda que as outras mulheres, nunca houve um pedido de sua mão em casamento. Após o casamento de sua melhor amiga com um Marquês, ela está segura que seu...