Capítulo 11

125 14 3
                                    


Era uma segunda-feira abafada, e o som incessante do despertador parecia mais alto e irritante do que nunca. Esme se levantou devagar, sentindo o peso da semana anterior ainda em seus músculos. Seus pés tocaram o chão frio do quarto, enviando um arrepio pela espinha, enquanto ela caminhava com passos pesados até o banheiro. As cortinas, apenas entreabertas, permitiam que o primeiro brilho do sol espreitasse tímido, projetando sombras suaves nas paredes.

Ao abrir a torneira, a água fria que escorria de suas mãos para o rosto era um choque necessário, mas insuficiente para dissipar a inquietação crescente em seu peito. O retorno aos treinos a aguardava, e com ele, a avalanche de expectativas e pressões que ela vinha empurrando para o fundo da mente, mas que agora insistiam em ressurgir.

Esses treinos não eram apenas cansativos; eram extenuantes, um teste implacável de resistência física e mental. Cada sessão era uma maratona de movimentos repetidos até a exaustão, de quedas e levantadas, de superação dos próprios limites. A cada dia, Esme sentia como se estivesse lutando contra uma força invisível que drenava sua energia, exigindo mais dela do que o próprio corpo parecia capaz de suportar.

Antes de sair, Esme se forçou a ligar para seu treinador, sabendo que a conversa era inevitável. A voz dele ressoou do outro lado da linha com a familiaridade de anos de trabalho conjunto, mas também com a firmeza de quem entendia o que estava em jogo.

— Esme, o World Skateboarding Championships não é qualquer campeonato — disse ele, sem rodeios, a voz carregada de um senso de urgência que perfurava a barreira de cansaço que ela tentava manter. — Você tem que estar no seu melhor. Não podemos perder tempo.

Esme respirou fundo, sentindo o peso das palavras dele se somar ao fardo que já carregava. — Eu sei, vou dar meu melhor — respondeu ela, sua voz soando mais controlada do que realmente se sentia. Mas, por dentro, ela sabia que não era só o cansaço físico que a desgastava; era a pressão constante de manter-se no topo, de superar expectativas cada vez mais altas, de não decepcionar.

O skate sempre fora seu refúgio, o lugar onde tudo parecia fazer sentido. Quando estava na pista, a vida parecia simples, como se o mundo ao seu redor desaparecesse e só existisse ela e o asfalto. Mas agora, mesmo ali, as coisas pareciam mais turvas. Desde a vitória no X Games, Esme nunca mais havia sentido o mesmo alívio nos treinos. A responsabilidade de ser uma medalhista olímpica pesava sobre seus ombros, transformando cada movimento, cada salto, em um desafio pessoal para manter seu lugar no topo. E esse fardo estava presente ali, no Rio, onde os treinos sob o sol implacável testavam seus limites de maneira cruel.

A pista da Duó, com suas curvas desafiadoras e concreto áspero, era seu local preferido. Pequena e discreta, mas com obstáculos que exigiam precisão, foco e, principalmente, resistência. As linhas do trajeto eram familiares, mas, a cada dia, o desafio se renovava. O sol ardia no céu, refletindo nas superfícies e fazendo o asfalto brilhar com uma intensidade ofuscante que queimava os olhos. O vento, embora trouxesse uma leve brisa do mar, não era suficiente para aliviar o calor sufocante que fazia o suor escorrer em rios pelo corpo de Esme.

Ainda assim, ela se movia com a leveza e a agilidade de quem conhecia cada centímetro daquele lugar, cada curva, cada rampa, cada imperfeição no concreto. Mas não era a mesma leveza de antes; agora, havia uma dureza em seus movimentos, uma determinação que, embora a mantivesse em movimento, também a afastava daquela sensação de liberdade que o skate sempre lhe proporcionara.

Ali, naquele momento, era só ela, o skate e a vontade de vencer — uma vontade que vinha com um custo cada vez mais alto, mas que ela estava disposta a pagar, mesmo que isso significasse sacrificar parte de si mesma no processo.

Ace in Love | Júlia BergmannOnde histórias criam vida. Descubra agora