Capítulo 10

107 10 0
                                    

No dia seguinte, Esme mal conseguia sair da cama. Cada fibra de seu corpo parecia pesar toneladas, como se estivesse sendo esmagada por um fardo invisível, mas implacável. Cada movimento era um esforço hercúleo, e sua cabeça latejava, cheia de pensamentos que rodopiavam incessantemente, negando-lhe qualquer paz. As poucas horas de sono que conseguiu foram interrompidas por lágrimas silenciosas que deslizavam por seu rosto sem aviso, trazendo consigo uma culpa profunda e implacável. O peso de sua consciência era quase insuportável; a traição contra Jordan parecia uma faca cravada em seu peito, uma dor que a cada batida do coração se tornava mais intensa.

No entanto, por mais que a culpa a consumisse, Esme não conseguia se arrepender do beijo em si. Era o contexto, a traição, que a corroía por dentro, não o ato. O beijo havia sido uma explosão de sentimentos reprimidos, uma fagulha que encontrara combustível suficiente para incendiar o que antes era apenas uma pequena chama.

Esme sabia que tudo mudaria. A relação com Julia jamais seria a mesma. Fingir que ainda eram apenas amigas, como antes, era uma ilusão que ela não poderia mais manter. A tensão entre elas, antes sutil e ignorada, agora era impossível de esconder. O beijo havia transformado uma faísca em um incêndio, e as chamas eram implacáveis, queimando tudo ao seu redor, inclusive as pontes que ligavam o passado ao presente.

O que mais doía em Esme, porém, não era o desejo que sentia por Julia, mas a traição contra Jordan. Ela havia prometido ser fiel, ser leal, e agora sentia que havia quebrado não apenas uma promessa, mas a própria confiança que Jordan depositava nela. A dor de saber que havia traído alguém que amava era quase insuportável. No entanto, Esme não podia ignorar o fato de que o desejo que a levou a beijar Julia sempre esteve ali, latente, esperando apenas o momento certo para se manifestar. Ela nunca teve coragem de encarar isso de frente, de admitir para si mesma que seus sentimentos estavam mudando. A verdade era que, ao ceder a esse desejo, ela corria o risco de destruir não apenas seu relacionamento com Jordan, mas também a confiança e o amor que construíram juntos.

Com os olhos ainda marejados, Esme tomou uma decisão. Carregaria esse peso sozinha. Não dividiria essa culpa com Jordan. Contar a verdade significaria abrir um caminho sem volta, e Esme sabia que não suportaria ver Jordan sofrer por algo que ela, Esme, poderia ter evitado. A culpa era sua, afinal. Ela deveria ter se afastado de Julia no momento em que sentiu que seus sentimentos estavam mudando. Mas, no fundo, Esme gostava da adrenalina que sentia quando estava perto de Julia, do frio na barriga, do coração acelerado. Era uma emoção nova, excitante, como uma aventura que a atraía de forma irresistível.

E assim, Esme decidiu: Jordan não precisava saber. O que ela sentia por Jordan ainda era verdadeiro, ainda existia, e para Esme, isso era suficiente para justificar seu silêncio. Ela sabia que, ao manter esse segredo, estava escolhendo o caminho mais difícil, mas também o único que poderia preservar o que ainda restava de seu relacionamento.

Ana havia percebido a perturbação em que a Skatista havia saído da praia no dia anterior. Sabendo que algo estava errado, ela não conseguiu ignorar o silêncio de Esme e a ausência de respostas às suas mensagens. Preocupada, Ana levantou cedo, apesar do cansaço que também pesava sobre seus próprios ombros, e decidiu ir até o apartamento da amiga para oferecer o apoio de que ela claramente precisava.

Quando chegou ao prédio, Ana parou por um momento para respirar fundo, tentando acalmar a ansiedade que crescia em seu peito. Ela sabia que a família de Esme a acolheria com carinho, como sempre faziam, mas ainda assim sentia um peso nos ombros. Tocou o interfone e, após se identificar, foi liberada para subir. Cada passo que dava no corredor parecia ecoar, refletindo a preocupação que ela tentava conter.

Ao chegar ao andar da família Fontaine, Ana foi recebida por Luca, o irmão mais novo de Esme. Ele, apesar de mais jovem, sempre exibia um semblante amigável, mas naquele momento, seus olhos estavam tomados por uma preocupação evidente.

Ace in Love | Júlia BergmannOnde histórias criam vida. Descubra agora