CAP 6- UMA PROPOSTA É ACEITA

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20/03

  O dia em que Eric visitaria a Delegacia do Distrito 47 e conversaria com o Delegado Paulo havia, enfim, chegado. Já na recepção, anunciou àquela mulher o motivo de sua presença. Sentou-se na cadeira e precisou aguardar a chegada do Delegado.

  Aproveitou o momento para analisar o local, que muito provavelmente, seria onde trabalharia em breve, dependendo de sua escolha. A recepção não era tão espaçosa e atrás do balcão estava a entrada dos agentes da polícia. Vários entravam e saíam a todo momento, alguns com pastas e documentos em mãos.

  A correria daquele ambiente o fazia pensar nos casos dos Money Killers, que deveriam estar surgindo a cada minuto. Questionou consigo mesmo se a escolha que estava pensando em tomar seria mesmo a correta.

  Ajeitou sua camisa de mangas curtas amarela que sua mãe o comprou. Não estava acostumado a usar aquela cor, mas raramente usava aquela peça. Decidiu abrir exceção, pelo menos naquele dia.

  Assim que se familiarizou com a recepção, viu dois policiais entrando. Um homem de cabelos cacheados castanho-escuro, com algumas mechas claras, como um loiro desbotado, e uma mulher mais alta que o companheiro, de cabelo preto, curto e amarrado. Ambos usavam uniforme e continham um copo descartável com café nas mãos.

  A policial olhou Eric de cima a baixo e disfarçou uma risadinha. Cochichou algo no ouvido do agente, que também olhou para Eric e riu. Entraram os dois pela passagem atrás do balcão, gargalhando juntos.

"Meu Deus, o que foi isso?"

  Com os olhos arregalados, vislumbrou a própria vestimenta, ajeitando-a novamente com suas mãos apressadas.

"Tem algo errado com minha roupa?"

— Eric Arruda — Aquela voz rouca, já familiar para Eric, o chama. O Delegado havia acabado de chegar.

— Boa tarde, Delegado Paulo. — Saudou-o cordialmente ao se colocar de pé.

— É um prazer recebê-lo aqui — afirmou, sem demonstrar nenhuma expressão. — Por favor, me acompanhe. Irei te apresentar toda a Delegacia.

  Aceitando sem precisar pensar duas vezes, Eric segue o homem de meia idade e ambos adentram pela entrada atrás do balcão.

  Conforme andavam, o Delegado falava:

— Você já deve saber que duas das três delegacias de Burano Lin estão responsáveis pelos casos dos Money Killers. A do Distrito 47 é uma delas. Devido ao crescimento desses casos, equipes investigativas de outros estados estão vindo à nossa cidade para ajudar.

Andando pelo corredor reto, passaram pelos escritórios dos policiais, divididos pelos lados direito e esquerdo. Eric captou o máximo de detalhes possíveis do ambiente, como os rostos dos agentes presentes, as mesas e cadeiras com rodas e os vários papéis colocados em cima de uma grande impressora no canto da parede.

— Observe a movimentação da Delegacia. Ela está mais agitada hoje, pois o assassino dos seus pais ganhou um nome e logo será anunciado nos jornais.

— O quê? Isso é sério? — indagou, arregalando os olhos. O Delegado afirmou com a cabeça — Como isso aconteceu? E por que será anunciado?

— Você ajudou a polícia a criar um perfil para esse assassino. Com as suas conclusões, os agentes conseguiram associar a outras informações, e então, chegaram a um consenso — Desviou de alguns investigadores que passaram no corredor. — Com a anunciação de seu nome, mostraremos aos Money Killers o quão capazes são nossos agentes e o quão avançadas estão as investigações. Esses criminosos estão se divertindo às nossas custas, imaginando que estamos perdidos com esses crimes, mas não é verdade. Precisamos mostrar que estamos no jogo. Além do mais...

  Encostando em uma porta do lado direito do corredor, segurou a maçaneta e, olhando para Eric, continuou:

— Se o assassino dos seus pais ver que foi identificado, ele, muito provavelmente, irá cometer crimes para se comunicar com a polícia. Se se revelar aos poucos, descobrimos ainda mais coisas sobre ele e a facção em si.

— E... Q-qual o nome dele? — Abrindo a porta e olhando para Eric, ele o responde:

— Você logo saberá.

  Assim, o Delegado entrou naquela sala, indo em direção a uma cadeira logo atrás de uma mesa longa de madeira clara. Eric examinou a porta e se deparou com o "DELEGADO PAULO" escrito, bem na frente de seus olhos. Por fim, entrou e fechou a porta, logo se sentando na cadeira vazia, de frente com a mesa e o homem inexpressivo.

— Como eu havia lhe dito na primeira vez que nos encontramos — prosseguiu o Delegado — estou sempre atento aos novos policiais em treinamento na ACADEPOL. E como estou na frente das investigações dos Money Killers, preciso ter a certeza de que os futuros agentes são capazes de trabalhar com isso.

  Tirou alguns papéis de cima da mesa e os colocou no canto, em cima de uma pasta azul, quase transparente.

— Eric Arruda Fontana, você me deu a certeza de que será um ótimo investigador. Não digo isso apenas por ter te visto na tarde em que seus pais morreram, mas também do seu empenho e resultados na Academia de Polícia — iniciou, pegando um envelope no canto da mesa, o abrindo e mostrando a ele uma ficha com sua foto. — Você está em primeiro lugar na avaliação geral da ACADEPOL. É uma vantagem a ser aproveitada na Seleção, já que será o primeiro a escolher a região que pretende trabalhar. Vai ter inúmeras opções, em diversos lugares do país e... imagino que pretende escolher Burano Lin, não é?

— Sim — afirmou com a cabeça.

— Você tem duas opções: Ou trabalhar com Money Killers ou em casos distintos — Numerou com os dedos. — Pelo pouco que conversamos, entendi que não pretende trabalhar com essa nova facção, mas eu vejo que seu conhecimento ajudará muito nas investigações. Você tem capacidade, Eric, sei que consegue fazer isso. E apesar do seu medo, você acabou o enfrentando em meio ao caso dos seus pais, o que chamou a minha atenção. Seu foco, seu controle, sua organização e comunicação, suas ideias... tudo! Sendo mais direto... abrirei espaço para que você trabalhe na minha equipe. Quero trabalhar com você.

"Nossa... É uma proposta e tanto..."

  Eric pensa consigo mesmo.

"E é o Delegado que está me chamando. É uma honra..."

— Eric Arruda, seja o meu agente. Escolha a Delegacia do Distrito 47 na Seleção. Posso contar com você para isso?

  Mediante a proposta, Eric pensou por breves segundos. Desejou ter mais tempo para analisar suas opções, mas sentiu que não poderia deixar o Delegado sem respostas naquele momento, que era o apropriado para se decidir.

  Tudo o que tinha acontecido até agora, mostrava ao jovem o caminho a ser seguido. A proposta não lhe surgiu apenas uma vez e ele pensava nela quase todos os dias, questionando se seria mesmo a escolha correta.

  Se aquela opção lhe havia surgido e estava o perseguindo já há um tempo, deveria ouvi-la. E o fato de que o assassino de seus pais, agora, tinha um nome, era mais uma prova de qual caminho deveria seguir.

  Eric se lembrou dos pais. Pensou nas pessoas que estavam perdendo a vida ou entes queridos nas mãos daqueles Money Killers. Estava passando pela mesma dor. Deixar com que a justiça fosse feita através de outros policiais, sem saber os detalhes importantes, mesmo sendo um agente capaz para adentrar nas investigações, pareceu estupidez. Mário e Eliana queriam justiça. Não apenas por eles, mas por todos que passavam por aquilo.

"Não é sobre mim, é sobre as pessoas que estão sofrendo. Preciso fazer isso por elas. Meus pais iriam querer o mesmo."

  Intrépido, Eric ajeita a postura e olha para o Delegado, que aguardava sua resposta. Afirmando que sim com a cabeça, anunciou:

— Sim, senhor Delegado.

  Satisfeito com a confirmação, o Delegado deu um sutil sorriso de canto, se levantou e estendeu a mão para que Eric a apertasse.

— Isso é tudo, Eric. Vejo você na Seleção da ACADEPOL.

  Ele olha para a mão do Delegado e coloca um fim naquela visita em um aperto de mãos.

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