Capítulo 5

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Rain Bennett

Chorar sobre as desgraças passadas é a maneira mais segura de atrair outras.
-William Shakespeare


***

Voltei para casa e achei que seria ótimo, sabe? Ficar algum tempo sozinha, com meus pensamentos, mas acontece que eu não tenho tantos pensamentos assim. Meu mundo desmoronou de repente e não posso fazer nada para resolver, que dizer, não nesse momento.
Entretanto, isso não deixa de ser frustrante, porque eu sei que algo está muito errado comigo, é como se houvesse um vazio obscuro em mim e não ter respostas para questionamentos básicos é frustrante.

Shawn disse que com o acompanhamento, tudo se resolverá em breve e todo caos vai fazer algum sentido, tenho duas sessões diárias e remédios controlados pela manhã. Falaram que esse processo pode ser demorado, então meu desespero por lembranças não será necessário no momento, o que é algo ridículo.

Eu esperava algo reconfortante, não uma notícia de tratamento forçado e pessoas ao meu redor constantemente.

"Rain, você tem visita na sala." -Disse Hunter, entrando no cômodo e deixando todos surpresos.

"Visita?" -Respondi confusa.

"Seus médicos estão aqui, sua sessão começa em alguns minutos." -Sua voz correu pelo ar, deixando a cozinha carregada de esperanças ansiosas..

Caminho na direção indicada e pego-me pensando nas coisas estranhas que andam acontecendo comigo. Eu acho que estou ficando louca, tenho os mesmos sonhos em todas as noites, vejo vultos passando perto de mim e me sinto substituída por um corpo que não me pertence.

"Olá, me chamo Magda e vou conduzir sua sessão hoje." -Disse sorrindo, sua feição era assustadora, seus olhos eram grandes e esbugalhados, o cabelo comprido atingia sua cintura esquelética e suas sobrancelhas estavam levemente arqueadas.

"Aconteceu algo com a senhorita Sophia?" -Pergunto curiosa, afinal, nós conversamos ontem a noite e ela parecia tão alegre.

"Ela sofreu um pequeno acidente de trabalho, mas logo ficará bem." -Disse Magda sorridente.

"Quando ela volta? Preciso tirar algumas dúvidas." -Disse beirando ao desconhecido, não me sinto totalmente confortável nesse ambiente e vai ser difícil conversar com uma nova pessoa agora.

"Não temos uma previsão exata, mas estamos aqui também e vamos te auxiliar." - Dessa vez, um rosto familiar direcionou uma fala para mim.

Shawn é uma pessoa comum, ele é atencioso e gentil, na maioria das vezes prestativo e compreensivo. Não espero personalidades diferentes de pessoas como ele. Médicos devem ser assim, certo? À primeira vista, isso pode parecer simples e até óbvio, mas nem todas as pessoas são boas por vontade própria.

E existe algo que transforma Shawn em alguém suspeito, suas expressões não condizem com suas ações.

"Que horas vamos começar?" -Perguntei firmemente, ignorando todos os sinais de alerta surgindo na minha mente.

"Nesse exato momento, sente-se e daremos início aos trabalhos." -Disse Magda.

***

"Como você se sente na minha presença?" -Perguntou ela, mas minha resposta é óbvia e transparece entre feições.

"Um pouco desconfortável." -Respondi entre farpas.

"Tudo bem, o que gostaria de conversar comigo na primeira sessão? Tem algo que queira evitar?" -Disse Magda.

"Não sei ao certo, posso conversar sobre muitas coisas e evitar diversos assuntos que você guiar." -Respondi.

Sophia também fez essa pergunta no instante que me conheceu, é engraçado conversar sobre mim, porque eu não sei o que elas esperam que eu diga.

Nesses últimos dias, eu percebi que prefiro observar as pessoas do que falar com elas, é muito mais fácil olhar suas ações e presumir o que elas querem. Mas de alguma forma, isso não funciona com nenhum deles, apenas encontro perguntas que parecem familiares.

"Que tal começar com seus sonhos repetitivos?" -Disse Magda.

"É como um pesadelo que volta sem parar." -Respondi, me recordando das noites que perdi.

"Pode descrevê-los para mim?" -Perguntou, na tentativa de iniciar uma sessão.

"É sempre o mesmo lugar, com as mesmas pessoas e as mesmas falas. Não mudam nunca, eu posso dormir durante o dia ou à noite, mas eles sempre voltam para me assombrar." -Disse com a voz trêmula.

"Quem te assombra, Rain?" -Perguntou Shawn.

"Eu não sei, são apenas rostos vazios e com corpos desconhecidos. Eles sempre conversam comigo e fingem me conhecer, o lugar é fantasioso e impossível de existir. O céu vive no constante inverno e as paredes são frias como a brisa, meus professores me lançam sorrisos amarelos e assustadores, os bichos inexistentes caminham de um lado para o outro. Mas..." -Minha fala é interrompida por mim mesma, um calafrio me atinge e sou cercada por memórias dele.

"Mas? Continue querida, não se sinta pressionada." -Disse Magda.

"Tem um homem, ele nunca fala comigo, me evita quando pergunto onde estou ou apenas sorri e me encara. Sempre vejo ele caminhando pelos corredores, conversando com amigos e eles não têm expressão, andam com borrões em suas faces e emitem sons impossíveis de identificar às vezes." -Respondi.

"Não fique perturbada, sonhos são memórias de outra forma." -Disse Shawn.

"Você não entende, eu não os conheço." -Respondi ansiosa.

"Você está tomando seus remédios, querida?" -Perguntou Magda, esse questionamento pontuou no ar como tiros.

Eles estão me chamando de louca? Um psiquiatra não deveria aprender que palavras também causam estragos?

"Eu não estou delirando, eu tomo essa porcaria todas as manhãs." -Respondi nervosa, apesar da minha vida estar uma bagunça, eu não estou louca ainda.

"Se acalme, ninguém lhe acusou de insanidade." -Disse Magda cansativa.

"Não foi o que pareceu." -Disse, me aconchegando no sofá.

"Tudo bem, vamos começar o teste." -Disse Shawn, que pegou sua maleta e separou as pranchas. "Vamos tentar algo novo hoje." -Disse ele novamente.

Ele me entrega uma folha em branco e isso me deixa confusa:
"Rain, desenhe uma casa." -Ordenou Magda.

Passei longos minutos me concentrando no desenho, mas não estava entendendo o motivo disso. Como um desenho pode me ajudar? Quer dizer, não questionando as pessoas que estudam para isso...mas isso não faz sentido.

"Rain, essa casa está habitada ou desabitada?" -Perguntou Magda.

"O que?" -Respondi confusa.

"Apenas responda as perguntas dela." -Disse Shawn firmemente.

"A casa está habitada." -Respondi desacreditada.

"E quem vive nessa casa?" -Perguntou ela, analisando meu desenho sobre suas mãos.

"Apenas eu, gosto do silêncio que tem nela." -Respondi.

***
Minha sessão durou 45 minutos, provavelmente vou ser questionada futuramente e terei que analisar algumas figuras novamente. Minha cabeça precisava descansar e minha barriga ronca loucamente.

Inesperadamente, escuto um som familiar vindo da sala de estar. Alguém estava batendo na porta desesperadamente:
"Eu atendo." -Avisei para quem pudesse ouvir, e caminhei na direção necessária.

Quando abri a porta, me deparei com alguém familiar. Minha avó sorria suavemente e me analisava por inteiro.

"Oi meu amor, desculpa pela demora." -Disse ela, enquanto corria para me abraçar. 

Tiefen ( Em revisão de escrita)Onde histórias criam vida. Descubra agora