AFFECTUS

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No entrelaçar das vidas, Rosamaria e Caroline viviam existências que, embora parecessem distantes, estavam ligadas por fios invisíveis de destino e responsabilidade. Enquanto Rosamaria, a advogada, seguia seu caminho com a serenidade aparente de quem já havia encontrado seu lugar na ordem do mundo, a delegada Caroline enfrentava uma realidade desafiadora e desestabilizadora.
Caroline, em sua rotina ordenada, encontrava um espaço para a reflexão, por vezes interrogando-se sobre a natureza da própria vida. Se não estivesse na sala de Caroline, questionava em silêncio o que a advogada estaria realizando, se estaria, talvez, ocupada em outras batalhas profissionais ou refletindo sobre os próprios dilemas. Essa inquietação, no entanto, não era mais do que um eco de sua curiosidade pelo desconhecido, uma sombra que passava sem maiores consequências.
Rosamaria, por outro lado, navegava por mares turbulentos. O peso dos estudos da caça às bruxas havia transcendido as fronteiras da simples insônia; agora, essa obsessão ameaçava minar a própria fé da advogada. A busca incessante por justiça, embora vital, carregava consigo um custo imenso, que se manifestava não apenas em sua saúde física, mas também em sua resiliência mental.
A aproximação do tribunal do júri, com a proximidade dos 26 dias finais, lançava uma sombra de ansiedade sobre Rosamaria e sua colega Priscila. O intenso trabalho que consumia seus dias estava longe de ser o único fardo que carregavam. Além das exigências deste caso emblemático, que parecia consumir cada fragmento de sua força vital, outras responsabilidades igualmente significativas pesavam sobre seus ombros, embora com um impacto menor sobre sua saúde mental.
Neste cenário, onde o compromisso com a justiça colidia com os limites pessoais e profissionais, Rosamaria e Caroline ilustravam a complexa tapeçaria da vida moderna. Ambas navegavam por suas próprias realidades, marcadas por desafios e reflexões que moldavam suas jornadas. Enquanto Caroline contemplava o papel da advogada e suas implicações, Rosamaria lutava para manter o equilíbrio entre o dever e a integridade pessoal, numa batalha que exigia não apenas suas habilidades profissionais, mas também a força de sua própria alma.

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ROSAMARIA MONTIBELLER ON

Acordar cedo, mergulhar nas demandas que esperam pacientemente por minha atenção, parece um rito inescapável. É um dia como qualquer outro na rotina daqueles que têm a impressão constante de que podem ser surpreendidos a qualquer momento. No meu caso, esse fardo é o de ser advogada neste país, onde a ordem jurídica se entrelaça com a imprevisibilidade da vida. Chego ao escritório e, com uma precisão quase ritualística, organizo cada tarefa: reuniões, peças processuais, prazos. Cada ação é uma peça no tabuleiro de um jogo cujo desfecho é, por vezes, incerto.
Entre um gole de café e o esforço de redigir uma peça processual, minha secretária Helena traz um recado inesperado. Minha mãe havia ligado, mencionando um jantar beneficente organizado pela prefeitura de Nova Trento. Alguns nomes reconhecidos foram convidados, e por um desses acasos do destino, meus convites haviam sido deixados na casa deles. Não reagi imediatamente; a minha mente estava ocupada em equilibrar a balança da justiça, e esse imprevisto parecia um mero adendo à rotina. Pedi a Helena que informasse Adelir que eu encontraria uma maneira de pegar os convites.
Após o almoço, enquanto ponderava sobre desculpas que poderiam justificar minha retirada para casa, Helena novamente entrou em contato, desta vez transferindo uma ligação da CBS Advogados Associados, o que, de certa forma me alertou, Sheilla jamais ligava pro escritório quando precisava de mim.

LIGAÇÃO ON

Rosamaria: Rosamaria Montibeller. -falei ainda concentrada no meu computador-

Sheilla: Rosa, tudo bem?

Rosamaria: Ei Sheilla, tudo certo e com você?

Sheilla: Tudo tranquilo, estou ligando porque preciso de um favor.

Aberratio IctusOnde histórias criam vida. Descubra agora