Mizu - Blue Eye Samurai

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Mizu sorri para você, brilhante e sincera. Você espelha o gesto, batendo os calcanhares no costado do cavalo que montava. Um belo potro Frísio, imponente de pelagem preta grossa e crina flamulante, o animal era parte de seus maiores tesouros, assim como a mulher que galopava a sua frente.

   A morena montava uma égua de pelagem marrom com uma mancha branca na testa, batizada por ela mesma de Kai. A guincha tinha postura imponente, músculos fortes e ornava bem com a imagem de Mizu. Quando montada por sua dona, era perfeitamente obediente.

— Vamos, [Nome]! Está ficando cansada?

    Ela grita em tom brincalhão, apertando o passo e te obrigando a acompanhá-la. Você ri da natureza competitiva vindo a tona, quando chegam a macieira favorita dela vocês descem e sentam sob à árvore.

— Todas as vezes que formos cavalgar você vai transformar em uma competição? – Sua risada sai por entre respirações rápidas para aumentar a oxigenação – Eu estou cansada de perder.

  — Acho que você ainda vai encarar muitas derrotas nesse jogo.

   Ela se aproxima de você e te abraça, os cabelos escuros serpenteiam pelas costas e exalam um delicioso cheiro floral. Você fecha os olhos ao aconchegar-se no toque, satisfeita e rindo. Os dedos cálidos de Mizu encontram a suavidade da sua mão e acariciam suas falanges. É um carinho particular, aos olhos da mulher, somente digno de você.

— Você fica igualzinha a uma criança feliz, quando estamos aqui. É uma delícia assistir você sorrindo tanto, sabia? 

   A frase arranca um rubor da moça e ela finge encarar algo ao longe enquanto choraminga.

— Criança? Nossos desafios são muito sérios.

   O olhar de canto que você recebe sugere uma brincadeira, o clima é de felicidade e leveza. Você olha ao redor do campo e os dois animais pastam lado a lado, sua visão panorâmica fita a mochila que Mizu trouxe consigo a lâmina da espada dela cintilando com a luz do sol.

— Quando vai me ensinar a usar uma katana?

    O seu questionamento rende uma faceta de dúvida.

— Imagine o que falariam de mim se eu ensinasse a filha de um dos conselheiros do Shogum a lutar?

— Que você é "um ótimo tutor"?

   Os termos no masculino fazem referência ao fato de que Mizu escondia seu gênero para melhor atuação na jornada de vingança contra suas raizes europeias. Todos sabem que a vida dos homens, não só no Japão, é muito mais fácil que a das mulheres, não existem amarras para a vontade masculina.

— Você não vai correr perigo comigo aqui, não tem porquê aprender a usar a espada.

    Você se estressa, ressentida pela semelhança entre o discurso dela e o pensamento retrogrado de seu pai. Sempre limitando você, cerceando seu crescimento intelectual. Nada tira da cabeça  que se sua irmã não tivesse casado tão cedo e reassegurado a nobreza da linhagem, seria você com os dentes tingidos de preto e transando a força com o príncipe japonês. Por sorte, seu pai havia se cansado de arrumar um casamento para você e te designou a tarefa de morar com ele até o envelhecimento, você seria uma espécie de cuidadora e depois de muito choro, ficou somente com o dever de ser a responsável pela organização das empregadas.

   Era fato que seu pai não era o mais benevolente dos homens, porém te amava incondicionalmente. Portanto, contratou um tutor para lhe ensinar a arte da escrita, música e teatro, coincidentemente um certo samurai ferido e precisando de dinheiro andava pelas redondezas. Futuramente, você descobriria que aquele rapaz era, na verdade, a mulher da sua vida.

   A caminhada até a essencialidade foi cansativa, sob a mortalha masculina, era muito respeitosa e até alheia, mas ainda comprometida com ensinar o que havia sido paga para fazer. A grande descoberta da incógnita vital de Mizu por você, se deu ao acaso. Já era noite e você resolveu passear pelas águas termais do vasto jardim de seu palacete, coincidentemente a mulher estava completamente nua e sentada na borda do poço rochoso. Daquele dia em diante, o muro entre vocês foi rendido pela identificação e companheirismo, transformando-se aos poucos em amor e finalmente, resultando em beijos e carícias intimas.

   Você exigiu de seu pai melhores acomodações para Mizu a longo prazo e o velho que adorava o suposto professor, fez tudo de bom grado e ainda carinhosamente ofereceu prostitutas para uma hora do chá particular com a morena. Ela veementemente recusou, com a desculpa que gostaria de manter a masculinidade casta para o matrimônio. Mizu passou horas no seu quarto usando a boca para se desculpar e cessar o ciúmes que insistia em brotar sempre que o patriarca tocava no assunto durante o jantar.

   Por noites a fio, você ouviu as histórias da mulher enquanto descansava no colo dela e perguntava das milhares de contingências mirabolantes que viveu. A conexão de vocês era perfeita.

  Durante o Equinócio da Primavera vocês trocaram presentes, você deu a ela a potra Kai e Mizu retribuiu com brincos cunhados a mão a partir do restante da pedra que dera origem a sua lâmina. Você gostava das joias, dizia representar os belos olhos dela funcionando como amuleto de proteção.

   Seus devaneios são interrompidos por um estalar de dedos rente a seu nariz, você é puxada do poço de memórias e olha para a mulher com confusão.

— Ah me desculpe, eu acho que sonhei acordada...

  Você se retrata timidamente e sente um aperto reconfortante nas mãos.

— Eu percebi que alguém estava bem longe daqui. Você ficou chateada com a questão do treino, não foi?

   Seus ombros contraem em falsa indiferença na tentativa de disfarçar o sentimento, mas Mizu nota a face emburrada e interpela seu redarguir.

— Eu vou te ensinar, mas você tem que me prometer que vai usar a espada somente para se proteger. – Ela te enlaça pela cintura e posiciona o queixo no vão do seu pescoço. – O que me diz?

— Vou usar uma espada de madeira?

  Ela pondera o questionamento e cede.

— No começo apenas...

— Então vamos começar logo!

  Você pula sobre a grama verdejante feito um coelho, correndo em direção a bolsa com a espada. Mizu ainda teria muito trabalho para fazer de você uma samurai, todavia não existe nada melhor para lapidar um ente do que o amor.

Sapphic - Imagines FemininasOnde histórias criam vida. Descubra agora