Round 5: O velho religioso

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Após praticamente passar o dia contando os segundos e as horas, Davi finalmente vai para a academia de boxe no horário que foi mandado. A academia fica a cerca de 20 minutos a pé de distância da sua casa, após chegar no local, visualiza um galpão com as paredes amarelas. No topo da entrada tem uma placa escrita "Academia Arte Porrada" e algumas fotos de lutadores do lado, Davi não conhece ninguém na foto, mas acaba achando que são alunos da academia, porquê no canto inferior direito tem uma foto de Gustavo vestido de lutador acertando um soco em um oponente.

O rapaz suspirou e finalmente entra no local, sua primeira visão são alguns rapazes amarrando bandagens nas mãos. No meio da academia tem um grande ringue, no fundo da academia tem seis sacos de pancadas e um teto-solo, a frente da academia é um grande espaço vazio. Para quem não conhece, saco de pancada é um saco de couro recheado de retalhos de roupa, são usados para treinar força e resistência ao aplicar socos, teto-solo é um pequeno saco de pancada circular, preso por molas em cima e em baixo, quando você acerta golpes nele, ele voa para trás e volta na sua direção, são usados para treinar velocidade e defesas.

O piso da academia é um chão de concreto sem detalhes, enquanto as paredes internas são brancas e em de seus cantos há um espelho, onde um garoto fica se observando soltar socos, polindo e corrigindo todo e qualquer erro técnico que consegue notar. O som das rapazes pulando corda faz uma sinfonia de esforço que impressiona Davi, que só consegue pensar em como nunca viu tanta gente forte assim junta antes, isso o deixa um pouco nervoso e apreensivo.

Davi anda em direção a um senhor de cabelos brancos que está sentado no ringue, o homem é gordo e carrega no peito um medalhão de São Jorge, o Santo protetor dos guerreiros. O homem o observa desinteressado, mas fica o encarando para ver o que o pirralho quer. O rapaz tímido fica parado pensando no que dizer, nada vem a sua mente então resolve improvisar.

--- Eu gostaria de aprender boxe.

--- Boa noite pra você também --- O velho retruca. --- Vamos recomeçar, mais educado dessa vez.

Davi se envergonha por tamanha gafe, ele ajeita a gola do sueter e recomeça, a fim de resolver o mal entendido.

--- Boa noite, gostaria de treinar com o senhor --- Davi diz sem jeito.

--- Melhorou, mas ainda tá ruim. Vai lá fora, pede licença pra entrar, dá boa noite, se apresenta e pede para treinar --- O idoso diz com cara de irritado. --- E rapidinho, viu?

Davi fica envergonhado, mas atende rapidamente o pedido. Ele sai da academia com todos o olhando e rindo, o rapaz então vai para a porta. Ele suspira pesado, mas tenta ignorar toda a zombaria e só pensa em seu objetivo primário: Conseguir a vaga na academia. O rapaz então segue as ordens do idoso ranzinza.

--- Licença, eu posso entrar?

--- Agora você pode. --- O velho rebate.

O garoto então entra na academia e se dirige ao senhor sentado no ringue, ele o olha com olhar de tensão, mas o velho continua a encarar com cara de tédio, como se não tivesse o menor interesse em seja lá o que Davi tivesse a dizer, como se já soubesse cada palavra que iria sair de sua boca.

--- Boa noite, me chamo Davi. Posso treinar boxe com o senhor?

--- Me chamo Antônio, e você não pode.

--- Mas eu fiz tudo como o senhor pediu

Antônio franze a testa e cruza os braços, atestando sua indignação com a reclamação do garoto.

--- E sua resposta foi não --- O velho fica visivelmente irritado --- Que geraçãozinha essa de vocês, viu? Não sabem ouvir um não, tem tudo na mão. Vocês são mimados.

Alanceado - Sangue nas luvas Onde histórias criam vida. Descubra agora