Round 6: Helena

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Em tempos passados, quando ainda crianças, Helena e Gustavo muitas vezes acabavam ficando sozinhos na casa dos pais da menina, quando os casais saiam para passear juntos. Como o bairro sempre foi seguro e os dois já tinham 12 anos, então não havia nenhum problema que ficassem um cuidando do outro por algumas horas.

Pelo menos era o que os pais pensavam, já para a pequena Helena era o fim do mundo, a garotinha ficava se desmanchando em lágrimas durante cada segundo da curta ausência. Gustavo que sempre reagiu melhor a este tipo de coisa, já não ligava ou se importava há muito tempo, mas o choro da menina o incomodava e atrapalhava em assistir seu desenho favorito. Ele tentava focar em seus personagens favoritos, mas a prima coberta de lágrimas e encolhida no canto tirava sua concentração, e fazia o seu coração acabar amolecendo.

--- De novo, Helena?

--- Meus pais não me querem mais --- Ela diz soluçando usando um vestido de pijama grande de mais, que chega até o peito do pé --- Eles foram embora.

--- Sério mesmo que vai vim com esse papo de novo? --- Gustavo coça a cabeça --- Eles só saíram pra jantar com meus pais. Já já voltam, bobinha.

A garota segue ignorando, mas ao menos cessa com o choro, ficando em silêncio olhando para o chão, como se estivesse em algum tipo de espiral de pensamentos. A questão é que os sentimentos e emoções negativas ainda não acabaram, ela vai para um canto e fica murcha, abraçando as pernas e deixando o joelho encostado no peito, de cócoras como um cão sem dono. Gustavo tenta focar no desenho, só que seu coração sempre foi mole para esse tipo de coisa, mesmo que ele negue e tente disfarçar. Ele é empático, do jeito dele.

--- Cê tá triste?

--- Um pouco --- Ela rebate sem hesitar --- Eu queria ter ido com eles.

--- Foi um passeio de adultos. Crianças não podiam ir.

--- E o que os adultos fazem que as crianças não podem?

--- Eu não sei, né? Eu também sou criança, lerda.

Helena se encolhe ainda mais e abraça os joelhos, ficando totalmente desamparada e usando toda a sua força e coragem para não se entregar às lágrimas novamente. Ela fica concentrada tentando ficar firme, mas com um bico enorme e cara de insatisfeita.

--- Eu acho que eles cansaram de mim, eu dou muito trabalho. --- Ela resmunga.

--- Não acho que alguém poderia cansar de você. Às vezes você é chatinha, mas é sempre bom estar contigo.

--- Tá falando da boca pra fora --- Helena faz bico --- Corta essa.

--- É sério, você é tipo uma irmã que eu nunca tive. A família sempre fica junta e cuidam um dos outros --- Gustavo oferece o dedo mindinho para ela --- Eu cuido de você até seus pais voltarem, ok?

Helena segura o dedo mindinho de Gustavo com o dedo mindinho dela, os deixando entrelaçados, os dois se olham nos olhos e então sorriem, é uma promessa de mindinho(o tipo mais sagrado de todos). A tristeza some do rosto da menina e ela se ilumina com uma felicidade inocente, junto de um largo e sincero sorriso.

--- Mesmo? Então não tem problema. --- Helena olha para ele --- Eu conto com você.

Mais tarde naquela noite, uma voz familiar chama na porta. Gustavo olha pelo olho mágico e reconhece que é o avô de Helena, seu Jair. O garoto então abre a porta e o idoso entra de maneira aflita, estando ofegante como se tivesse vindo ás pressas e está aflito já que os ignora e entra de uma vez, coisa que nunca havia feito antes, o velho sempre foi muito carinhoso e brincalhão com as crianças. Helena e Gustavo se entreolham e não conseguem compreender toda aquela pressa e agitação, é algo totalmente fora do padrão e só faz crescer um grande senso de urgência e preocupação.

Alanceado - Sangue nas luvas Onde histórias criam vida. Descubra agora