Round 2: Salvo pelo gongo

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Davi sai ainda sonolento de casa, acordar cedo definitivamente nunca foi o seu forte, mas estudar pela manhã ainda se mantém como a melhor opção, já que estudar a tarde o deixaria com pouco tempo livre. A primeira coisa que ele vê assim que abre a porta é uma vista animadora, Helena o espera com uma bicicleta roxa. A bike é com um quadro do tipo barra circular, tem uma cestinha na frente e um bagageiro no fundo. A garota o aguarda com um sorriso e provocadora resmunga um pouco.

--- Você acorda tarde hein, princesa?

--- Ainda é muito cedo, nem vem me encher o saco. Tá fazendo o quê aqui?

--- Vim garantir que você não iria se atrasar, Davi. --- Ela diz em tom leve --- Ainda mais dado o seu longo histórico de não ser pontual. 

--- Sem essa, um mago nunca se atrasa, ele chega quando precisa.

--- Aham, tô sabendo, Gandalf. Diz isso pra professora de português que quer te reprovar.

Eles permanecem imóveis e calados, se entreolhando, como se aguardassem algo ou alguma coisa. Helena então finalmente perde a paciência e dispara com tom firme.

--- Tá esperando o quê pra subir na bicicleta? Um convite formal?

--- Ahn? Cê quer me levar de garupa? --- Ele diz hesitando.

--- Deixa de ser frouxo, rapaz.

--- Não é frouxidão. É simplesmente bom senso --- Ele faz gesto de negação --- Isso ai tem tudo para dar errado.

--- Diz isso não, sou pilota de fuga.

Ela o observa com olhar de pidona, de quem clama algo, Davi a observa com olhar de preocupação e hesitação. Até que ele suspira e cede, ele sempre acaba fazendo o que ela quer.

--- Ok, mas toma cuidado.

--- Sério? Você é o melhor, Davi --- Ela rebate animada.

O rapaz monta no bagageiro e eles partem pedalando, pouco mais de 100 metros a frente, a moça começa a suar. A questão é que Helena é orgulhosa e não dá o braço a torcer, ela segue pedalando mesmo tendo que fazer muito esforço. A receita do fracasso era certa, a bicicleta começa a oscilar e tomba, derrubando os dois no chão de vez.

--- EU AVISEI, SUA CAPETA --- Davi diz levantando bravo.

--- Você me odeia agora, é isso? --- Helena diz sentada com joelho ralado e cara de triste.

O rapaz dá a mão a ela e a ajuda a levantar, logo em seguida passa a mão de leve pra limpar a terra dos joelhos dela.

--- Claro que não, deixa de bobagem --- O garoto fala preocupado --- Se machucou?

--- Só arranhou, eu sobrevivo.

--- Vamos andando?

--- É melhor mesmo --- Ela retruca coçando a nuca envergonhada.

Eles seguem caminhando, Helena empurrando a bike e Davi a acompanhando. O caminho é bem calmo então bater papo é o melhor jeito de matar um pouco de tempo. O jovem então pergunta algo que martelou sua mente desde que a viu.

--- O caminho da sua casa pra escola não passa pela minha. Passou lá em casa por que motivo? 

--- Segredo.

--- Desembucha. Eu te conheço, o que tá rolando?

--- Promete não ficar bravo?

Ele olha para ela já temendo a resposta, sabe que provavelmente ela está o acompanhando por causa do ocorrido de ontem. Helena quer proteger ele, mas ao fazer isso, Davi só consegue se sentir ainda mais inútil e sente que ela tem pena dele. 

Alanceado - Sangue nas luvas Onde histórias criam vida. Descubra agora