intensity to you

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O desânimo e a insegurança estão no topo da lista de piores inimigos da mente humana.

De tanto passar por situações que me traziam essas duas sensações danosas foi algo que acabou se tornando parte da mim. Me conformei sem perceber, encontrando um refúgio em festas, garotas, bebendo e fazendo qualquer outra coisa que ainda era permitido na minha idade para evitar cair em um abismo que pudesse não ter volta. Uma escapatória de autodefesa que meu cérebro adaptou para mim ou algo assim, eu acho. E funcionava, pelo menos por um tempo.

Até tudo voltar de novo e eu me sentir frustrado, vazio, amargurado e um completo fracasso, porque lá no fundo não aceitei a minha realidade. Eu não era o melhor amigo, não era o amor da vida de alguém, não era o filho preferido, não era o mais, o primeiro e o melhor de alguma coisa. Eu não era porra nenhuma além de ser o cara que sempre tava ali para ser a segunda opção e às vezes nem para isso servia para ser lembrado. Eu não conseguia fazer nada direito, não era excepcional ou só bom, não era o escolhido, não era o mais legal e o mais inteligente. Eu não tinha nada para me orgulhar, nenhuma conquista para chamar de minha.

Foi por isso que ele se afastou. Jisung percebeu que não sou nada do que acham que sou por andar com os populares e cansou de perder tempo comigo. Ele também se decepcionou.

Queria que a nossa amizade tivesse durado só um pouco mais, aquilo estava me fazendo bem. Han Jisung me fazia bem.

A porta do banheiro estava aberta e lá de dentro pude ver meu pai fazendo a barba em frente ao espelho. Entrei, precisando falar com ele.

— Pai — chamei. — Posso te pedir um conselho?

— Faz tempo que você não me pedia isso — fechou a torneira e voltou a passar a lâmina pela mandíbula. — Pode falar sobre o que quiser comigo, filho — os olhos pequenos, alongados e inclinados para baixo nas extremidades estavam fixos em seu próprio reflexo, concentrado.

Puxei o ar profundamente, sem nem saber por onde começar. Eu só queria desabafar e ter uma resposta de qual seria a atitude certa a se tomar.

— Tem uma pessoa que eu conheci faz pouco tempo e nós nos tornamos amigos... — me sinto nervoso, é como se falar dele fosse errado. — Essa pessoa anda me evitando e eu queria entender o motivo disso — um tormento crescia em meu peito e eu nem imaginava que falar de Jisung e eu para alguém era tão urgente como a minha pulsação indicava. Meu pai me encarou, atento. — Não quero que a gente deixe de se falar assim tão de repente.

— Você já falou pessoalmente com essa pessoa?

Apesar da conversa séria, a barba branca de spray de barbear em seu rosto ajudava a descontrair a melancolia por trás daquele diálogo.

— Não, achei melhor não fazer isso.

— Assim não tem como você saber qual é o problema — meu pai diz com obviedade. — Comunicação é a chave de tudo para qualquer relação — tocou o indicador em sua têmpora.

Parecia ser só um conselho mais do mesmo, uma coisa simples que ignoravámos, contudo, faziam toda a diferença.

— Converse cara a cara, exija uma explicação. Sem ser por mensagem não vai ter como essa pessoa fugir.

Fiquei com tanto receio de importuná-lo que não pensei pelo lado de que eu merecia ao menos uma explicação.

É isso, eu vou falar com ele hoje.

Arrumei minha mochila e fui para a cozinha. O sol quente dessa manhã me obrigou a trocar minhas roupas pretas e jaquetas pela regata e bermuda laranja e branco do uniforme dos Tigers. Meu número é 23, o mesmo número de LeBron James, vulgo o melhor jogador dos Lakers de todos os tempos. Foi uma coincidência boba que me deixou muito feliz.

Querido Han (minsung) Onde histórias criam vida. Descubra agora