capítulo dois

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Invadi o quarto do meu irmão e me joguei na cama ao seu lado.

— Como foi a caça aos doces, maninho? — Kai se deitou, já parecendo estar com sono.

— Um fracasso, eu não consegui pegar nenhumzinho — puxei a coberta para mim e bocejei.

— Se eu estivesse lá teria encontrado um monte — Kai se gaba. — Sou ótimo nisso. Eu vou ser o maior caçador de tesouro que esse mundo já viu — sorriu sonhador. Dei risada porque ele nunca tirou essa ideia da cabeça desde que era pequeno. — É sério, você vai ver, maninho.

— Eu acredito — fechei os olhos. — O seu sonho é encontrar aquela flor de lótus.

Nosso pai entra no quarto, ainda fantasiado de Gomez da Família Adams. Ele nos vê deitados na cama e sorri.

— Aposto que aproveitaram o halloween bastante. A mãe de vocês já apagou acredita? Está até roncando... acho que nunca a ouvi roncar esses anos todos casado com ela — apagou o abajur e se inclinou para nos dar um beijo na testa de boa noite. Kai reclama sobre não ter mais idade para isso e papai brinca dizendo que ele sempre vai ser o seu bebezão. — Boa noite, meninos.

— Boa noite, pai — respondemos em uníssono.

Ele sai e fecha a porta.

Minha mente viaja para os momentos que passei junto com Minho essa noite. Ele segurou a minha mão ao sairmos do barco, me levou até os meus pais e foi tão atencioso comigo no caminho. Sinto que morri e ressucitei várias vezes.

— Kai — chamei meu irmão para saber se já estava dormindo e ele responde com um resmungo. — Foi você que mandou o Minho para me tirar da floresta?

— Por que eu faria isso depois de ficar quase meia hora tentando convencer nossa mãe de deixar você ir?

Fico ainda mais pensativo sobre isso.

Então ele tinha feito isso por ele mesmo, porque se importa comigo.

— Maninho — Kai chamou quando achei que já havia caído no sono. — Eu já comecei a minha busca pelo tesouro. Não fala pra ninguém.

— A gente vai achar junto — me virei para ele e o vi fechar os olhos, sorrindo e assentindo.

Kai quer achar muito mesmo esse tesouro.

                              ***

Hoje o Minho e a família viriam almoçar com a gente e eu estava ansioso para ver ele.

Acho que depois da nossa aproximação de ontem as coisas podem mudar entre a gente.

Eu estava fazendo a lição de casa em meu quarto quando meu irmão entrou, provavelmente para me perturbar como sempre faz para tirar minha paz. Coisa de irmão mais velho.

— Maninho, tem uma coisa que preciso contar — pela sua entonação de sua voz não deve ser notícia boa.

— O que é? —  cacei pelo meu apontador no estojo e comecei a apontar meu lápis.

Kai senta na minha cama e fica em silêncio. Ao mesmo tempo que ele
quer falar também parece não querer.

— Ontem quando estávamos todos prontos para sair de casa e curtir o halloween na praia a mamãe me mandou chamar o papai — ergueu os olhos escuros para cima, visivelmente receoso em prosseguir. — E quando eu ia entrar no quarto para chamá-lo o ouvi em ligação com uma mulher. Ele tava falando todo carinhoso com ela e pareciam serem íntimos demais. Foi uma conversa bem estranha — respirou fundo, sem rumo. Entendo o que ele está sentindo porque não estou muito melhor. É indescritível de um jeito ruim. — Ele tá traindo a nossa mãe com outra.

Degenerate • minsungOnde histórias criam vida. Descubra agora